São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PAGAMENTO SUSPEITO

Presidente do Sebrae diz à CPI dos Bingos que pagou débito, mas não informa o valor nem a data dos saques que teria feito para quitá-lo

Okamotto culpa Delúbio por dívida de Lula

Lula Marques/Folha Imagem
O presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, durante depoimento na CPI dos Bingos, no Senado


MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O amigo de Luiz Inácio Lula da Silva e presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto, atribuiu ontem ao ex-tesoureiro Delúbio Soares a responsabilidade pelo lançamento, segundo ele equivocado, de uma dívida de Lula com o PT, assim como a orientação para que o débito fosse quitado em dinheiro.
O advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros, não comentou o depoimento de Okamotto.
Em depoimento à CPI dos Bingos, Okamotto não informou o valor nem a data dos saques que teria feito para honrar a dívida de Lula. À Folha ele disse não dispor de detalhes nem de comprovantes das operações. Os saques teriam sido feitos em agências de dois bancos em Brasília, São Paulo e São Bernardo do Campo. Okamotto foi tesoureiro da campanha de Lula ao Planalto em 1989. Até ontem, a CPI não havia quebrado seu sigilo bancário.
A dívida de R$ 29,4 mil de Lula foi registrada na prestação de contas do PT de 2003, e seu pagamento foi feito em quatro parcelas entre dezembro de 2003 e março de 2004 em nome do próprio presidente. O valor corresponde à remuneração mensal que Okamotto declarou à CPI, "pouco mais de R$ 30 mil". Além do salário do presidente do Sebrae (cargo para o qual foi indicado por Lula), Okamotto recebe pela participação no conselho da BrasilPrev e o pagamento de aposentadoria como ex-metalúrgico. "Não sou um homem de posses", disse.
Além do suposto uso indevido de dinheiro (público) do fundo partidário para pagar despesas de Lula, a oposição investiga se o partido não teria usado recursos do caixa dois para quitar a dívida. Em depoimento à CPI dos Correios em julho, Delúbio Soares afirmou ser prática no PT emprestar dinheiro sem juros a dirigentes e ex-dirigentes. Na ocasião, ele se recusou a responder se a dívida havia sido paga com dinheiro do caixa dois operado pelo publicitário Marcos Valério.
Vinte dias depois de a dívida de Lula ter sido objeto de reportagem da Folha e permanecer sem explicação por parte do Palácio do Planalto, Okamotto assumiu a responsabilidade pela quitação do débito, na condição de procurador nomeado pelo presidente para cuidar da rescisão do contrato com o PT. A rescisão foi homologada em janeiro de 2003. Na ocasião, o partido depositou na conta de Lula R$ 31,9 mil. A dívida ficou pendente de acordo. Ontem, Okamotto insistiu que não comentou a dívida com Lula, um amigo de "quase" 30 anos. "Eu jamais comentei que os débitos estavam em aberto porque considerava a cobrança indevida."
Segundo declaração levada por escrito por Okamotto à CPI, a maior parte da dívida (R$ 13,6 mil) refere-se à participação de Marisa Letícia, mulher de Lula, na comitiva de viagem à China, em 2001. Outros R$ 5.000 seriam decorrentes de "empréstimo" a Lula, e o restante, a despesas de viagens a Cuba e a Europa e a pagamentos de despesas médicas.
Em contradição com o texto escrito, Okamotto disse à CPI que a dívida se referia "única e exclusivamente" a despesas de representação de Lula. "Ele agiu como kamikaze, um samurai japonês. Veio aqui defender o imperador Luiz Inácio Lula da Silva", ironizou Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Colaborou ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília


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