São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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Delegada arquiva inquérito sobre morte de Celso Daniel

Para Sato, nem Promotoria nem irmãos de prefeito apresentaram novos indícios

Pedidos de quebra de sigilo e de interrogatórios foram ignorados pela polícia; num deles, policial alertou sobre perigo de prejudicar o caso


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com dez pedidos de interrogatório ou de quebra de sigilo em aberto, a delegada Elisabete Sato arquivou o inquérito sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), alegando falta de provas conclusivas.
Em sua conclusão, a delegada do 78º Distrito Policial de São Paulo diz que, depois da "efervescência investigativa que suspeitava de crime político, tese defendida pelo Ministério Público de Santo André e pelos irmãos da vítima, certo é que estes dois últimos não apresentaram (...) qualquer indício que redundasse em prova".
A policial afirma ainda que a Promotoria "sucumbiu" diante da ausência de provas.
Um dos pedidos ignorados pela delegada partiu de um investigador dela, Marcos Antônio Badan, 33 dias antes do arquivamento do inquérito.
Num ofício de 24 de agosto deste ano, o policial pede urgência na quebra do sigilo de 34 telefones, segundo ele, "a melhor pista" para chegar a outros membros da quadrilha que seqüestrou Daniel em 18 de janeiro de 2002 -o corpo do petista foi encontrado dois dias depois.
Sem uma quebra rápida, diz o policial no ofício, informações se perderiam para sempre, prejudicando a investigação.
"As operadoras de telefonia mantêm os históricos das chamadas por cinco anos. A perda desse arquivo referente ao período de 1º de janeiro a 15 de fevereiro de 2002 comprometeria a produção de provas contra membros da quadrilha até o momento não identificados."
O policial concluiu o ofício dizendo que "seria de bom alvitre" pedir que o Judiciário intercedesse junto às operadoras.
Além da recomendação do policial, a delegada ignorou também outros pedidos de investigação feitos pela Promotoria Criminal de Santo André.
"A conclusão da delegada mais parece um relatório parcial. Não atendeu 10 dos 16 pedidos de diligências feitos pelo Ministério Público", disse o promotor Roberto Wider.
A investigação da delegada Sato foi a segunda produzida pela Polícia Civil. A primeira, encerrada ainda em 2002, concluiu por crime urbano -não haveria uma intenção específica de seqüestrar o prefeito.
A pedido da família, a Promotoria reabriu o caso e concluiu que Daniel foi morto a mando do ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, que estava ao lado do prefeito na hora do seqüestro.
Irritado com a decisão, João Francisco Daniel, irmão do petista, disse estranhar o fato de a delegada ter arquivado o caso um dia depois de ouvir o empresário Ronan Maria Pinto, réu em processo por suposto crime de corrupção. "Além disso, não cabe à família produzir provas. A policial é ela."
O arquivamento não interfere no processo sobre o assassinato de Daniel, que tramita em primeira instância. Sato, que está de férias, não foi localizada pela reportagem, que telefonou cinco vezes para o celular dela.


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