São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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Crise econômica fortalece o Estado, dizem Lula e Sarkozy

Presidentes criticam especuladores em cúpula do Brasil com a União Européia

Ambos defenderam maior controle sobre os mercados; para o francês, "é preciso definir um novo papel do FMI em torno das moedas"


Antonio Scorza/France Presse
Lula e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, conversam durante evento sobre parcerias entre o Brasil e a União Européia, no Rio

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de serem, ao menos na origem, de campos políticos diferentes, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Nicolas Sarkozy, afinaram os discursos e defenderam ontem, na 2ª Cúpula Brasil-União Européia, uma política global conjunta para combater a crise financeira internacional e a adoção de novos mecanismos de controle de instituições financeiras. Ambos afirmaram não haver mais espaço no mundo para "especuladores".
Para Sarkozy, a crise marca uma nova etapa na história mundial, que pede novos instrumentos de gestão. "2008 é o ano em que o mundo entrou para o século 21. Não podemos mais aplicar as regras de governança do século 20", disse. Sarkozy defendeu um Estado mais regulador e com maior controle das instituições financeiras. "Já não queremos mais um mundo de especuladores", disse Sarkozy.
Pouco antes, Lula afirmou: "Todos nós sabemos que essa crise é resultado de uma especulação financeira desavergonhada". Essa especulação resultou, segundo ele, na disparada injustificada dos preços do petróleo e dos alimentos. "Não estou torcendo para a crise, mas a crise chama atenção do mundo e dos especialistas para rediscutirem o papel que o Estado nacional tem de exercer na economia", disse Lula, para quem "se deixar por conta do mercado, a crise pode se alastrar e trazer convulsões sociais em vários países no mundo".
Ele e Sarkozy defenderam o G20 como o fórum adequado para as discussões dos novos mecanismos de gestão global e de reforma das instituições, ressaltando a importância do multilateralismo nesses tempos de crise.
"É preciso definir um novo papel do FMI em torno das grandes moedas do mundo", disse Sarkozy, em referência à prevalência do dólar como padrão monetário internacional.
O presidente da França afirmou ainda que os EUA são "amigos" da União Européia, mas nem por isso o bloco não discorda do país quando é necessário. "Os mesmos que diziam que o mundo seria ótimo em 2008 e que agora dizem que será ruim em 2009 vão me dizer o que eu tenho que fazer?", declarou Sarkozy.
Indiretamente, Lula também sinalizou que deseja uma mudança no FMI: "Se a gente tentar resolver essa crise com o mesmo paradigma monetário que a criou, nós não teremos solução de curto prazo". Para Lula, chegou a vez de a política dar as bases para um novo paradigma mundial. "A única coisa que tenho convicção e certeza é que finalmente chegou a hora da política."
Citando Lula, Sarkozy também disse que a crise marca "a volta da política" ao centro do debate e disse que é necessário dar voz a países que antes não eram ouvidos, como o Brasil. "Muitos falam muito e não dizem nada. Precisamos do Brasil para a regulamentação do fluxo financeiro mundial. (...) Precisamos de Lula para garantir a estabilidade."
Para Sarkozy, é importante o mundo reservar ao Brasil um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Já o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que a UE e o Brasil têm uma grande "convergência" de idéias que deve ser usada para promover a criação de "uma nova arquitetura global".
O francês afirmou ainda que é preciso combater o protecionismo e estimular a Rodada Doha, posições também defendidas por Durão Barroso. "Acreditamos na liberdade do comércio e não queremos o protecionismo", disse Sarkozy. À noite, os dois presidentes lançaram numa casa de shows o Ano da França no Brasil (2009).


Leia a íntegra do discurso de Lula

www.folha.com.br/083572



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