São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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JANIO DE FREITAS

A base da dúvida


De que base se originou o caso de grampeamento do presidente do STF e de um senador para chegar a tanto?

O ARQUIVAMENTO , por falta de qualquer indício, da investigação na Abin sobre possível envolvimento seu no grampeamento do presidente do Supremo Tribunal Federal e de um senador ainda não isenta a agência. Mas repõe uma questão essencial nesse tumultuoso caso que comprometeu numerosas pessoas e, aqui como no exterior, o próprio serviço de informações da Presidência da República: de que base se originou esse caso para chegar a tanto?
O final dessa história para a Abin depende ainda das investigações da Polícia Federal. Mas, para a Abin e para todos, o começo, que ficou perdido na torrente das notícias, especulações e ficções iniciais do escândalo, não esteve em um fato, não esteve em um documento, não esteve em uma denúncia, em acusação ou declaração. Veio de uma vaguidão que não queria ser mais do que isso mesmo: a transcrição do telefonema, dizia a reportagem da "Veja", foi entregue por um agente não identificado da Abin.
Frases assim, como penduricalhos, entram no jornalismo por muitos motivos. Por serem verdadeiras, ou porque o jornalista acha que valoriza o seu trabalho, ou para encobrir procedência verdadeira, ou para comprometer determinado setor ou empresa, ou para intrigar alguém, e por aí vai. Não é preciso suspeitar de uma das hipóteses de má-fé, em relação à "Veja", para perceber que a menção era insuficiente demais para tumultuar um governo como fez com o atual, com epicentro no gabinete do próprio presidente da República. E, além disso, que foi explorada com boa-fé e com muita má-fé, manipulada como poderoso instrumento na luta por conquista de maiores poderes, presentes e futuros.
A rigor, diante disso tudo, nem ao menos é seguro que houvesse grampeamento no telefone do ministro Gilmar Mendes. À falta de indícios encontráveis pela segurança do Supremo, pela Polícia Federal e pela investigação do Gabinete de Segurança Institucional, permanecem as possibilidades de que grampeado fosse um ou outro interlocutor de Gilmar Mendes, assim como outro tipo de escuta. A maluquice final seria nem ter havido escuta, mas um ardil bem montado. A Polícia Federal que diga, ao menos, quem foi o alvo visado, entre os vários atingidos.

O mérito
Às peculiaridades pessoais que nos vai expondo, à proporção em que divide com Lula a atenção dos câmeras de TV e dos fotógrafos, o ministro Gilmar Mendes trouxe mais uma. De fato, também nunca se viu neste país um magistrado que, com apenas algumas palavras (fora do processo, como em geral), tenha a "impressão de que mudou" um "estado policial". Poder e feito que lhe inspiraram franqueza melhor na forma do que no teor: "E não recuso os méritos".
Ao que se saiba, ninguém pretendeu que os recusasse por indevidos. Neles, porém, cabem a longa precedência e a persistência, sem a confortável segurança do magistrado, de muitos outros. Advogados, jornalistas e não-jornalistas vários que não calaram seus argumentos e críticas contra a "espetacularizaçao policial" e arbitrariedades como as algemas, o bagageiro do camburão e a exposição forçada à TV. Mas, ao que parece, nenhum deles tem reivindicação a fazer.


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