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Decisão do STJ beneficia 62 cotistas do fundo de Dantas
Liminar paralisa inquérito que investigava remessa de recursos para as Ilhas Cayman
Para envolvidos na Operação Satiagraha, medida pode resultar no cancelamento de processos e de inquéritos,
que já estavam na fase final
FLÁVIO FERREIRA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) que suspendeu todas as medidas judiciais da Operação Satiagraha
beneficiou pelo menos 62 cotistas do Opportunity Fund, sediado nas Ilhas Cayman, suspeitos de cometer crimes de lavagem de dinheiro, evasão de
divisas e sonegação fiscal.
O inquérito da Polícia Federal sobre o fundo já estava em
fase final, com dezenas de investidores já interrogados e indiciados pelos supostos delitos.
A expectativa da PF era que esse inquérito resultasse na terceira ação penal da Satiagraha.
A conclusão das apurações
não será possível nas próximas
semanas diante da decisão liminar (provisória) do ministro
Arnaldo Esteves Lima, do STJ,
que, no último dia 18, congelou
todas a medidas contra o banqueiro Daniel Dantas tomadas
pelo juiz federal Fausto Martin
De Sanctis, da 6ª Vara Criminal
de São Paulo.
Além de paralisar o inquérito, a decisão, se confirmada pelos demais ministros do tribunal, poderá anular toda a investigação, que começou em 2004.
No início do mês, a PF expediu mandados convocando para depor 62 cotistas do Opportunity Fund. O delegado da PF
Milton Fornazari Jr. pretendia
finalizar os depoimentos e concluir o relatório do inquérito no
início de 2010. O delegado chegou a negar pedidos de advogados para remarcar oitivas.
Outros dois inquéritos do caso foram paralisados por conta
da liminar. Eles têm como alvos: Carlos Rodemburg, responsável pelo braço agropecuário do grupo Opportunity; o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que trabalhou para o
banqueiro; e a operação de fusão da Oi/Telemar com a Brasil
Telecom, que tinha o Opportunity como um dos acionistas.
O grupo Opportunity nega o
envolvimento do fundo das
Ilhas Cayman em ilegalidades.
Dantas diz que não cometeu os
crimes atribuídos a ele pela PF.
"Devastador"
Magistrados e investigadores
que atuaram na Satiagraha
veem na medida do STJ um
"efeito devastador" sobre o caso e o prenúncio do trancamento das ações penais.
Na liminar, o ministro entendeu que, ao contrário do disposto em decisão do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª
Região -que afastou a suspeição de De Sanctis-, há "plausibilidade" no argumento da defesa de Dantas sobre a falta de
imparcialidade do juiz para
presidir o caso. Na prática, Lima não desfez as decisões do
magistrado mas suspendeu
atos dele -inclusive a condenação de dez anos de prisão imposta ao banqueiro por tentativa de suborno de um delegado.
É com base nessa liminar que
a defesa do banqueiro, segundo
a Folha apurou, estuda pedir o
desbloqueio de contas e de
bens em nome de Dantas e do
Opportunity no Brasil, nos
EUA, na Inglaterra e na Suíça.
Lima diz que sua decisão foi
pautada pela cautela. "Prevenir
nulidades constitui tarefa básica de todo magistrado". A suspensão será mantida até ser
julgada pelos cinco ministros
da 5ª Turma do STJ. Eles voltarão das férias em fevereiro.
Se concordarem com a liminar, os ministros terão de dizer
em que momento o juiz se tornou suspeito e qual a validade
das medidas tomadas por ele.
Se os magistrados entenderem pela parcialidade de De
Sanctis desde o início do caso,
poderão fulminar todas as decisões do juiz, o que obrigaria o
caso voltar à estaca zero.
O Ministério Público Federal
deverá recorrer da liminar no
STJ e no Supremo Tribunal
Federal, tribunal no qual De
Sanctis tem um histórico polêmico. No início da Satiagraha,
ele decretou a prisão de Dantas
um dia após o presidente da
corte, Gilmar Mendes, ter garantido a soltura do banqueiro.
Em 2008, o STF considerou
legítima a decisão de Mendes e
declarou que o juiz teria agido
de forma "desrespeitosa" e
"abusiva". Ao pedir o afastamento de De Sanctis, a defesa
de Dantas citou esse julgamento e juntou ainda entrevistas do
juiz que, segundo advogados,
demonstram a suspeição dele.
Alberto Toron, advogado de
cotistas do Opportunity Fund,
disse que De Sanctis "vinha
marcado por uma aura de intocabilidade. Agora os tribunais
começam a reconhecer que se
trata de um juiz que comete
muitas falhas graves".
Ontem, De Sanctis não se
manifestou. O procurador da
República Rodrigo de Grandis
disse esperar ser formalmente
comunicado da liminar.
O advogado de Dantas, Andrei Schmidt, autor do pedido
no STJ ao lado de Luciano Feldens, afirmou que vai "aguardar o julgamento de mérito para se pronunciar".
De Sanctis teve outro revés
na semana passada, quando o
TRF da 3ª Região o afastou do
caso MSI-Corinthians, que investiga crimes financeiros na
gestão do time.
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