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JANIO DE FREITAS
Dos fóruns a Palocci
O Fórum Social Mundial,
que nasceu em Porto Alegre e
de hoje a domingo revive em Caracas, parece mais uma de tantas
boas idéias que se perdem no esquerdismo que se basta a si mesmo e, por isso, não é ação de esquerda. As etapas anteriores do
fórum não foram capazes de
criar-lhe alguma organicidade,
de habilitá-lo a gerar inovações
factuais que não sejam apenas
agitações momentâneas e espasmódicas. Nem, muito menos, levaram o fórum a germinar iniciativas conceituais que fujam às tão
repetitivas e magras considerações sobre a globalização.
Assim foi até agora. Não se sabe
como será em Caracas. Mas os
prenúncios não são de novidade.
E muita coisa sugere que o fórum
está diante de sua última oportunidade de evitar o destino patético de tornar-se ou confirmar-se
como uma espécie de saudosismo
hippie. Hippismo político.
Uma corrente dentre os coordenadores do fórum, por ora muito
minoritária, prega a sua desvinculação de governos. Tanto na
realização dos eventos como na
agenda temática desses encontros. Não há mesmo outro meio
de evitar que o fórum seja utilizado por interesses políticos alheios
aos seus propósitos originais. E se
preste à promoção internacional
de governantes e políticas sobre os
quais não tem influência alguma.
Se alguém, no fórum de Caracas,
fizesse uma comparação pública
do que Lula disse em seus discursos no fórum e do que é o seu governo, muita gente ali poderia
achar que esteve no lugar errado,
e talvez esteja de novo. O que Caracas promete, no entanto, é mais
vinculação.
De volta à política sem sonhos,
logo teremos Antonio Palocci outra vez em um de nossos fóruns
prediletos. Não conseguindo outra saída, o ministro sujeitou-se a
se apresentar à CPI dos Bingos como "convidado", já que o senador
Efraim Moraes não aceita mais
evitar chamá-lo como convocado,
com todos os inconvenientes.
A finalidade do "convite" é o
questionamento da CPI a fatos
passados sob as ralas e transparentes barbas de Palocci, por obra
dos seus assessores endinheirados
quando circundavam, na Prefeitura de Ribeirão Preto, com o hoje
ministro.
Um dos questionamentos será
sobre a tal história de dólares em
caixas de bebida, sobre a qual o
chofer que as transportou depôs,
na quinta-feira passada, e deixou
a impressão de mentir com fartura. O chofer Éder Eustáquio Macedo chegou à CPI acompanhado
pelo advogado do PT, mas o partido negou que fosse por iniciativa sua. A negativa não eliminou,
porém, e até agravou esse assunto
para Palocci.
As providências do Senado, para a ida de Éder Macedo à CPI, fixaram a sua viagem do Rio a
Brasília na mesma quinta do depoimento. Mas a viagem foi antecipada em um dia. Para quê? Para que o advogado Hélio Silveira,
que serve a assessores atuais de
Palocci em suas complicações na
CPI, tivesse com o futuro depoente um encontro típico de advogado. E quem providenciou o pedido ao Senado para antecipar a
viagem de Éder Macedo foi uma
assessora de Palocci, com o belo e
inesquecível nome de Ilma Lima.
Se esse chofer dirigia táxi no interior de São Paulo, onde transportou as tais caixas, por que a
viagem a Brasília a partir do Rio?
É que, empossado Palocci no ministério, o motorista Éder Eustáquio Macedo ganhou um emprego na Fazenda, regional RJ.
Quando se trata de Antonio Palocci, deputados e senadores são
acometidos do horror de questionar. Mas se algum deles quiser esclarecimentos, de fato necessários, sobre esse assunto do motorista, suas caixas e seus benefícios,
matéria-prima não falta.
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