São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Dos fóruns a Palocci

O Fórum Social Mundial, que nasceu em Porto Alegre e de hoje a domingo revive em Caracas, parece mais uma de tantas boas idéias que se perdem no esquerdismo que se basta a si mesmo e, por isso, não é ação de esquerda. As etapas anteriores do fórum não foram capazes de criar-lhe alguma organicidade, de habilitá-lo a gerar inovações factuais que não sejam apenas agitações momentâneas e espasmódicas. Nem, muito menos, levaram o fórum a germinar iniciativas conceituais que fujam às tão repetitivas e magras considerações sobre a globalização.
Assim foi até agora. Não se sabe como será em Caracas. Mas os prenúncios não são de novidade. E muita coisa sugere que o fórum está diante de sua última oportunidade de evitar o destino patético de tornar-se ou confirmar-se como uma espécie de saudosismo hippie. Hippismo político.
Uma corrente dentre os coordenadores do fórum, por ora muito minoritária, prega a sua desvinculação de governos. Tanto na realização dos eventos como na agenda temática desses encontros. Não há mesmo outro meio de evitar que o fórum seja utilizado por interesses políticos alheios aos seus propósitos originais. E se preste à promoção internacional de governantes e políticas sobre os quais não tem influência alguma. Se alguém, no fórum de Caracas, fizesse uma comparação pública do que Lula disse em seus discursos no fórum e do que é o seu governo, muita gente ali poderia achar que esteve no lugar errado, e talvez esteja de novo. O que Caracas promete, no entanto, é mais vinculação.
De volta à política sem sonhos, logo teremos Antonio Palocci outra vez em um de nossos fóruns prediletos. Não conseguindo outra saída, o ministro sujeitou-se a se apresentar à CPI dos Bingos como "convidado", já que o senador Efraim Moraes não aceita mais evitar chamá-lo como convocado, com todos os inconvenientes.
A finalidade do "convite" é o questionamento da CPI a fatos passados sob as ralas e transparentes barbas de Palocci, por obra dos seus assessores endinheirados quando circundavam, na Prefeitura de Ribeirão Preto, com o hoje ministro.
Um dos questionamentos será sobre a tal história de dólares em caixas de bebida, sobre a qual o chofer que as transportou depôs, na quinta-feira passada, e deixou a impressão de mentir com fartura. O chofer Éder Eustáquio Macedo chegou à CPI acompanhado pelo advogado do PT, mas o partido negou que fosse por iniciativa sua. A negativa não eliminou, porém, e até agravou esse assunto para Palocci.
As providências do Senado, para a ida de Éder Macedo à CPI, fixaram a sua viagem do Rio a Brasília na mesma quinta do depoimento. Mas a viagem foi antecipada em um dia. Para quê? Para que o advogado Hélio Silveira, que serve a assessores atuais de Palocci em suas complicações na CPI, tivesse com o futuro depoente um encontro típico de advogado. E quem providenciou o pedido ao Senado para antecipar a viagem de Éder Macedo foi uma assessora de Palocci, com o belo e inesquecível nome de Ilma Lima.
Se esse chofer dirigia táxi no interior de São Paulo, onde transportou as tais caixas, por que a viagem a Brasília a partir do Rio? É que, empossado Palocci no ministério, o motorista Éder Eustáquio Macedo ganhou um emprego na Fazenda, regional RJ.
Quando se trata de Antonio Palocci, deputados e senadores são acometidos do horror de questionar. Mas se algum deles quiser esclarecimentos, de fato necessários, sobre esse assunto do motorista, suas caixas e seus benefícios, matéria-prima não falta.


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