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ELIO GASPARI
O pacote vale uma nota de R$ 3
Lula quer avançar sobre o patrimônio do trabalhador, entregando dinheiro do FGTS à gestão do comissariado
AS PROMESSAS DE crescimento
econômico feitas por Nosso
Guia são como as notas de
três reais. Ninguém pode dizer que
sejam falsas, pois nunca se viu uma
verdadeira. O espetáculo da segunda-feira indicou que terminaram as
férias do companheiro e seu pacote
não traduziu uma estratégia econômica, expressou apenas uma excitação marqueteira.
Ouça-se esse blablablá: "Individualmente importantes e complementares dentro de suas respectivas
áreas, os projetos sociais e de infra-estrutura selecionados estão estreitamente associados entre si. Na verdade, eles formam ambos um único
conjunto voltado para a dupla tarefa
de inserir de modo competitivo o
país na economia mundial. (...)
A seleção desses projetos obedece
a uma finalidade operacional específica: submetê-los, a partir de agora,
a um esquema especial de gerenciamento". Parece a parolagem do comissariado. Na verdade, foi parte do
lero-lero tucano no lançamento do
pacote "Brasil em Ação", há nove
anos. Seis rodovias do pacote desta
semana atravessaram invictas cinco
anos de tucanos e outros quatro de
petistas.
A principal novidade produzida
por Nosso Guia foi uma tentativa de
avanço sobre o patrimônio dos trabalhadores.
Lula pediu ao Congresso que autorize o uso do dinheiro do FGTS
para financiar obras públicas passando o risco de crédito dessas transações da Caixa Econômica para um
comitê de comissários.
Querem jogar entre R$ 5 bilhões e
R$ 17 bilhões da caixa do FGTS num
fundo de infra-estrutura. Se o negócio der errado, caberá ao Tesouro
cobrir o buraco. Tesouro de quem?
De Lula? De Guido Mantega? Não, o
Tesouro dos impostos dos contribuintes. Nosso Guia poderia dar um
exemplo de confiança na iniciativa
entregando o seu cheque mensal de
R$ 4.509,68 do Bolsa-Ditadura aos
sábios que gerenciarão o fundo.
O caráter compulsório desse
avanço ofende a lógica do governo.
Em 2000, os trabalhadores puderam investir até metade de seu saldo
no FGTS em ações da Petrobras. Foram 310 mil os cidadãos que correram esse risco. Tiveram um rendimento de 680% contra 43% da remuneração do Fundo de Garantia.
Se o novo Fundo é uma boa idéia, a
aplicação pode ser voluntária, desde
já, e não daqui a pelo menos dois
anos. Se não há tanta certeza assim,
as chaves das arcas do FGTS devem
continuar onde sempre estiveram,
na Caixa Econômica.
Essas cautelas são necessárias
porque todos os grandes ataques à
bolsa da Viúva foram praticados em
nome do progresso.
Basta puxar pela memória e pensar o que foram os investimentos em
Angra 1 e Angra 2 ou na Ferrovia
Norte-Sul. Felizmente, ficaram de
fora do projeto de Lula as obras de
Angra 3 e o gasoduto TransPinel, de
Hugo Chávez.
Pena que a ekipekonômica tenha
ficado curta de neurônios na hora de
trabalhar o estímulo ao financiamento de casas para o andar de baixo. Isso porque ela se revelou espertíssima ao desonerar computadores
para o andar de cima.
Sempre que se retira um imposto
cobrado sobre essas máquinas deve-se comemorar, mas não se pode esquecer que o novo teto de R$ 4.000
(US$ 1.900) para a isenção de PIS e
Cofins é dinheiro suficiente para
comprar os modelos mais caros e
potentes do mercado nacional. No
mercado americano, esse ervanário
compra um daqueles Macintosh de
20 polegadas de dar água na boca.
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