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Apesar do crescimento, programa não atingirá a meta prometida por FHC
Total de equipes de saúde preventiva quadruplicou
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de equipes do Programa Saúde da Família na gestão
de José Serra no Ministério da
Saúde saltou de 3.147 para 13.661.
De 1998 a janeiro deste ano, houve
um crescimento de 334%.
O programa foi iniciado em
1994 no governo Itamar Franco.
No ano da posse do ministro,
quatro anos mais tarde, 10,8 milhões de pessoas eram assistidas
pelo programa. Hoje, os beneficiados chegam a 47,1 milhões.
Apesar do salto, será difícil que
o sucessor de Serra chegue às 20
mil equipes e aos 69 milhões de
atendidos até fins de 2002, como
era promessa do governo FHC.
De todo modo, os assistidos pelo programa já são 27,7% da população total, contingente que
certamente pesará na balança das
eleições. O PSF, sigla pela qual o
programa da família ficou conhecido, é defendido por todos os adversários de Serra.
Um de seus principais méritos
está na relação dos serviços de
saúde com o paciente. Enquanto
o hospital espera a chegada do
doente, os agentes do programa
vão até a casa das pessoas.
Cada equipe do PSF é formada
por um médico, uma enfermeira,
dois auxiliares de enfermagem e
cinco agentes comunitários.
Atende entre 600 e mil famílias.
O PSF é uma evolução do Programa de Agentes Comunitários,
o PAC, implantado oficialmente
em 1991 durante o governo Fernando Collor. No PAC, pessoas
da comunidade são treinadas para visitar as famílias, tirar pressão,
pesar crianças e ensinar cuidados
básicos e a fazer soro caseiro.
Nos anos Serra, o número desses agentes saltou de 88 mil para
155 mil, ultrapassando em 5.000 a
meta do governo FHC.
A idéia do "agente comunitário" vem ainda dos jesuítas que
iam de oca em oca tratando e convertendo indígenas, lembra Gilson Carvalho, especialista em políticas de saúde e que foi secretário
de Assistência à Saúde do ministério no governo Itamar Franco.
"O grande incentivador do Programa Saúde da Família foi o
Adib Jatene [ex-ministro da Saúde", mas Serra tem o mérito de
ampliá-lo rapidamente de tal forma que a um próximo governo
não será mais possível desmontá-lo", diz Paulo Elias, professor de
medicina preventiva da USP e
pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea.
"Graças ao PSF, vamos ter uma
porta de entrada organizada no
sistema de saúde", diz Eduardo
Jorge, secretário municipal da
Saúde de São Paulo, querendo dizer que os pacientes agora chegarão aos hospitais encaminhados
pelos médicos do programa.
Eugênio Vilaça Mendes, consultor em sistemas de saúde e autor
de várias publicações sobre saúde
pública, considera o PSF a melhor
solução para a "atenção básica",
termo empregado pelos técnicos
para indicar os cuidados básicos e
preventivos em saúde.
Ele acha, no entanto, que o salto
dado nos números não vem sendo acompanhado pela qualidade.
Levantamento feito nos números
do SUS revelou que 33,3% das internações no ano passado eram
"sensíveis à atenção ambulatorial". Significa que um terço de todas as internações poderia ser evitado caso o paciente tivesse recebido a atenção básica adequada.
Enquanto o número de pessoas
atendidas pelo PSF de 1998 a 2001
chegou a dobrar, as internações
evitáveis caíram apenas 2 pontos
percentuais (de 35,2% a 33,3%).
Entre os exemplos mais comuns
estão diabéticos que sofreram
amputações e hipertensos que
precisaram ser hospitalizados por
terem abandonado a medicação.
"Recentralização"
Embora tenha dado impulso à
atenção básica, a gestão Serra foi
marcada por uma "recentralização" das decisões na área da saúde, observam os especialistas. A
partir de 98, quando uma nova legislação passou a valer (a Norma
Operacional-96), os municípios
começaram a perder a autonomia
sobre os destinos das verbas que
recebiam. Até então, as cidades
grandes e médias decidiam onde
aplicariam o dinheiro.
Hoje, Brasília condicionou a
distribuição desses recursos ao
cumprimento de mais de 80 programas. São campanhas de cirurgia de catarata, de varizes, do câncer do cólon do útero, do câncer
de próstata, do combate ao mosquito da dengue etc.
"Ao fazer isso, Brasília subtraiu
do nível municipal o poder de decidir suas prioridades", diz Elisabeth Barros, consultora em políticas públicas de saúde e ex-dirigente da Abrasco (Associação
Brasileira de Saúde Coletiva). Alguns municípios que necessitavam de especialistas, por exemplo, ampliaram o número de suas
equipes do PSF e "repassaram" o
dinheiro para esse atendimento.
Para o ministério, a prática de
campanhas e mutirões permitiu
que milhares de pacientes nas filas fossem atendidos. As cirurgias
de catarata passaram de 130 mil
para 235 mil, por ano.
O excesso de programas, de burocracia e de portarias estaria
também dificultando os repasses
do ministério aos municípios.
"Prefeitura que não consegue
preencher a papelada em tempo
hábil fica sem o recurso", diz Gilson Carvalho. Segundo ele, o ministério publicou mais de dez portarias por dia útil em 2000.
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