|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Genérico reduz preço de remédio, mas não alcança os mais pobres
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A política de genéricos, uma das
principais bandeiras eleitorais de
José Serra, reduziu os preços para
a classe média, mas não aumentou o acesso para a população
mais pobre. Dois anos após o primeiro lançamento, os genéricos já
representam cerca de 8,8% de todos os remédios vendidos no país.
A meta é chegar a 20% no final
deste ano e a 30% em 2003, velocidade duas vezes maior que a verificada na Europa e nos EUA.
Os compradores de genéricos,
no entanto, são os mesmos que
antes compravam remédios de
referência. Estima-se que 50 milhões de pessoas estejam fora do
mercado de remédios. A redução
dos preços verificada com os genéricos chega, em média, a 44%.
"Quem recebe até quatro salários mínimos não compra medicamentos. Se o remédio custava
R$ 100 e passou a custar R$ 1, vai
continuar não comprando porque precisa do R$ 1 para comprar
pão", diz Vera Valente, gerente-geral de Medicamentos Genéricos
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Nos últimos anos, os laboratórios que passaram a fazer genéricos contaram com Serra como
uma espécie de garoto-propaganda, por seus discursos favoráveis e
visitas aos fabricantes.
Pela lei dos genéricos -de autoria do petista Eduardo Jorge,
hoje secretário municipal da Saúde de São Paulo- os medicamentos copiados são testados para que a fórmula seja exatamente
igual à do remédio de marca.
Antes da lei, havia apenas o similar, uma cópia que nem sempre
correspondia ao original. Até o
início deste mês, 468 genéricos estavam registrados -304 já estavam à venda. Os registros se referem a diferentes apresentações de
171 princípios ativos.
Remédios gratuitos
Serra deixa o ministério sem
criar uma coordenação nacional
de assistência farmacêutica para a
compra e a distribuição de remédios básicos. Hoje, o sistema é
descentralizado e pouco eficiente.
A gestão do ex-ministro também não estabeleceu uma política
que pudesse beneficiar os "sem-remédio". O ministério chegou a
aumentar em 80% os gastos com
medicamentos gratuitos, entre
1998 e 2001, mas apenas 12,6% do
total foi para a compra de remédios básicos. Remédios de Aids,
excepcionais (para doenças menos frequentes) e hemoderivados,
muitos deles importados, consumiram mais de 80% do total.
Os gastos subiram de R$ 739
milhões em 1998, quando Serra
assumiu, para R$ 1,34 bilhão, em
2001, o que reflete o aumento da
compra e as perdas com a desvalorização do real. Em sua gestão,
Serra estudou a implantação da
distribuição gratuita de remédios
por meio de farmácias particulares e um sistema de reembolso.
O projeto não foi adiante, segundo Serra, graças à demora na
consolidação do cartão do SUS,
que será uma forma de controle.
A Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma)
vem propondo ao governo um
sistema de reembolso para atender os pacientes SUS. Por meio de
pregões, o governo compraria
grandes quantidades de medicamentos básicos que seriam retirados nas farmácias mediante receita. A farmácia, em seguida, seria
reembolsada. Pelos cálculos da
Abifarma, o preço dos remédios
cairia entre 60% e 70% e o governo gastaria entre R$ 4 bilhões e R$
5 bilhões por ano para garantir remédio a 50 milhões de brasileiros.
Texto Anterior: Total de equipes de saúde preventiva quadruplicou Próximo Texto: Custo por paciente de Aids caiu de US$ 4.700 para US$ 2.500 no país Índice
|