São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Genérico reduz preço de remédio, mas não alcança os mais pobres

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A política de genéricos, uma das principais bandeiras eleitorais de José Serra, reduziu os preços para a classe média, mas não aumentou o acesso para a população mais pobre. Dois anos após o primeiro lançamento, os genéricos já representam cerca de 8,8% de todos os remédios vendidos no país.
A meta é chegar a 20% no final deste ano e a 30% em 2003, velocidade duas vezes maior que a verificada na Europa e nos EUA.
Os compradores de genéricos, no entanto, são os mesmos que antes compravam remédios de referência. Estima-se que 50 milhões de pessoas estejam fora do mercado de remédios. A redução dos preços verificada com os genéricos chega, em média, a 44%.
"Quem recebe até quatro salários mínimos não compra medicamentos. Se o remédio custava R$ 100 e passou a custar R$ 1, vai continuar não comprando porque precisa do R$ 1 para comprar pão", diz Vera Valente, gerente-geral de Medicamentos Genéricos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Nos últimos anos, os laboratórios que passaram a fazer genéricos contaram com Serra como uma espécie de garoto-propaganda, por seus discursos favoráveis e visitas aos fabricantes.
Pela lei dos genéricos -de autoria do petista Eduardo Jorge, hoje secretário municipal da Saúde de São Paulo- os medicamentos copiados são testados para que a fórmula seja exatamente igual à do remédio de marca.
Antes da lei, havia apenas o similar, uma cópia que nem sempre correspondia ao original. Até o início deste mês, 468 genéricos estavam registrados -304 já estavam à venda. Os registros se referem a diferentes apresentações de 171 princípios ativos.

Remédios gratuitos
Serra deixa o ministério sem criar uma coordenação nacional de assistência farmacêutica para a compra e a distribuição de remédios básicos. Hoje, o sistema é descentralizado e pouco eficiente.
A gestão do ex-ministro também não estabeleceu uma política que pudesse beneficiar os "sem-remédio". O ministério chegou a aumentar em 80% os gastos com medicamentos gratuitos, entre 1998 e 2001, mas apenas 12,6% do total foi para a compra de remédios básicos. Remédios de Aids, excepcionais (para doenças menos frequentes) e hemoderivados, muitos deles importados, consumiram mais de 80% do total.
Os gastos subiram de R$ 739 milhões em 1998, quando Serra assumiu, para R$ 1,34 bilhão, em 2001, o que reflete o aumento da compra e as perdas com a desvalorização do real. Em sua gestão, Serra estudou a implantação da distribuição gratuita de remédios por meio de farmácias particulares e um sistema de reembolso.
O projeto não foi adiante, segundo Serra, graças à demora na consolidação do cartão do SUS, que será uma forma de controle.
A Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma) vem propondo ao governo um sistema de reembolso para atender os pacientes SUS. Por meio de pregões, o governo compraria grandes quantidades de medicamentos básicos que seriam retirados nas farmácias mediante receita. A farmácia, em seguida, seria reembolsada. Pelos cálculos da Abifarma, o preço dos remédios cairia entre 60% e 70% e o governo gastaria entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões por ano para garantir remédio a 50 milhões de brasileiros.


Texto Anterior: Total de equipes de saúde preventiva quadruplicou
Próximo Texto: Custo por paciente de Aids caiu de US$ 4.700 para US$ 2.500 no país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.