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JANIO DE FREITAS
Sempre o dinheiro de campanhas
Dirigente do PSDB saiu pela porta mais usada na pequena política: a notícia sobre notas frias foi manobra do PT
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MAIS GRAVE do que o
caso da empresa
fantasma a serviço
da campanha do PSDB em
2002, já sob investigação do
Ministério Público e da Polícia Federal, é o da Marka Serviços de Engenharia. Extinta
oficialmente desde janeiro de
1996, a empresa cobriu com
notas fiscais frias várias saídas altas de dinheiro da campanha. Ao menos duas dessas
saídas de recursos foram depositadas em nome de Márcio Fortes, ex-dono da ex-empresa, secretário-geral do PSDB de 1999 a 2003 e encarregado do setor financeiro da
campanha de 2002.
Duas semelhanças a esclarecer logo: Marka é também o
nome, mas sem constar conexão, do banco estourado de
Salvatore Cacciola, que
aguarda na prisão em Mônaco a sentença sobre o pedido
brasileiro de sua extradição;
na outra, o Márcio Fortes da
Marka não é o Márcio Fortes
ministro das Cidades. Menos
problemática, mas de confusão possível e imprópria, o
Eduardo Jorge médico, ex-deputado e mais de uma vez
secretário em São Paulo, não
é o Eduardo Jorge citado no
noticiário das notas frias como atual dirigente do PSDB,
Eduardo Jorge Caldas Pereira.
A investigação das relações
feitas por Márcio Fortes entre Marka e PSDB é ainda
mais necessária, além das
condições da empresa, considerando-se a insuficiência
das explicações do presidente
do partido, senador Sérgio
Guerra, de Caldas Pereira e
do governador José Serra, cuja campanha foi dada como
beneficiária parcial de confusões financeiras da campanha.
A demonstração de serviços prestados pelas empresas,
invocada por Guerra e, segundo ele, "reconhecida" pela Receita Federal, é um excesso de
otimismo seu em relação à
auditoria do fisco e ao exame
do Ministério Público. Caldas
Pereira saiu pela porta mais
usada na pequena política: a
notícia sobre as notas, feita
pelo repórter Leonardo Souza na Folha, foi manobra do
PT contra a CPI dos Cartões.
E, não muito diferente, José
Serra saiu pela inculpação
exclusiva da empresa fantasma Gold Stone, sem menção
à extinta Marka e seu uso pelo próprio tesoureiro da
campanha peessedebista, inclusive como beneficiário
pessoal de dinheiro acobertado por notas da empresa
extinta.
A constatação de irregularidades financeiras não é nova em campanhas do PSDB.
Há o precedente das incompatibilidades entre arrecadação, despesas comprovadas e saldo na campanha para reeleição de Fernando
Henrique. Caso que não ficou bem esclarecido, e deixou a suspeita de solução arranjada entre governo e Justiça Eleitoral.
Presidente do BNDES feito por Moreira Franco, no
governo Sarney, Márcio Fortes teve o seu período de citações na Folha. Foi durante
o governo Moreira, na série
de concorrências para grandes obras no Rio, cidade e
Estado, forçadamente anuladas por publicação antecipada, na Folha, dos seus resultados. Fraudulentos, é
claro.
À brasileira
Mais um naufrágio no
Amazonas. Nem ao menos se
pode confiar no número divulgado de mortos e desaparecidos. Se foi constatado
que o número de passageiros
não ficara registrado, por
conseqüência não há como
saber quantos faltam. Os
naufrágios se repetem no
Amazonas com freqüência
intocada, sob uma indiferença que não parece estar diante de centenas de mortes
horríveis, como são os afogamentos, tantas crianças punidas assim pela incúria
alheia. É muito revoltante,
muito.
Mais um período de trotes
nas faculdades. A boçalidade
rotulada de brincadeira estudantil transborda, com facilidade, em violência que
não fica só em boçalidade e
violência: é sadismo. Permitido pela complacência, pelo
temor da reação coletiva dos
alunos antigos, quando não
pelo sadismo enrustido de
quem devia proibir, reprimir
e punir com exclusão esses
desvios de conduta incompatíveis com a formação universitária. Como em todos os
períodos de trote, aí estão
mais agredidos sem provocação, mais feridos, mais punidos assim pelo seu esforço.
É a recepção da universidade à brasileira. Explicativa, por si só, do que dela sai
para os exames vergonhosos
na OAB, nos hospitais, nos
conselhos de profissão, por
aí afora.
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