São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Sempre o dinheiro de campanhas


Dirigente do PSDB saiu pela porta mais usada na pequena política: a notícia sobre notas frias foi manobra do PT

MAIS GRAVE do que o caso da empresa fantasma a serviço da campanha do PSDB em 2002, já sob investigação do Ministério Público e da Polícia Federal, é o da Marka Serviços de Engenharia. Extinta oficialmente desde janeiro de 1996, a empresa cobriu com notas fiscais frias várias saídas altas de dinheiro da campanha. Ao menos duas dessas saídas de recursos foram depositadas em nome de Márcio Fortes, ex-dono da ex-empresa, secretário-geral do PSDB de 1999 a 2003 e encarregado do setor financeiro da campanha de 2002.
Duas semelhanças a esclarecer logo: Marka é também o nome, mas sem constar conexão, do banco estourado de Salvatore Cacciola, que aguarda na prisão em Mônaco a sentença sobre o pedido brasileiro de sua extradição; na outra, o Márcio Fortes da Marka não é o Márcio Fortes ministro das Cidades. Menos problemática, mas de confusão possível e imprópria, o Eduardo Jorge médico, ex-deputado e mais de uma vez secretário em São Paulo, não é o Eduardo Jorge citado no noticiário das notas frias como atual dirigente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.
A investigação das relações feitas por Márcio Fortes entre Marka e PSDB é ainda mais necessária, além das condições da empresa, considerando-se a insuficiência das explicações do presidente do partido, senador Sérgio Guerra, de Caldas Pereira e do governador José Serra, cuja campanha foi dada como beneficiária parcial de confusões financeiras da campanha.
A demonstração de serviços prestados pelas empresas, invocada por Guerra e, segundo ele, "reconhecida" pela Receita Federal, é um excesso de otimismo seu em relação à auditoria do fisco e ao exame do Ministério Público. Caldas Pereira saiu pela porta mais usada na pequena política: a notícia sobre as notas, feita pelo repórter Leonardo Souza na Folha, foi manobra do PT contra a CPI dos Cartões. E, não muito diferente, José Serra saiu pela inculpação exclusiva da empresa fantasma Gold Stone, sem menção à extinta Marka e seu uso pelo próprio tesoureiro da campanha peessedebista, inclusive como beneficiário pessoal de dinheiro acobertado por notas da empresa extinta.
A constatação de irregularidades financeiras não é nova em campanhas do PSDB. Há o precedente das incompatibilidades entre arrecadação, despesas comprovadas e saldo na campanha para reeleição de Fernando Henrique. Caso que não ficou bem esclarecido, e deixou a suspeita de solução arranjada entre governo e Justiça Eleitoral.
Presidente do BNDES feito por Moreira Franco, no governo Sarney, Márcio Fortes teve o seu período de citações na Folha. Foi durante o governo Moreira, na série de concorrências para grandes obras no Rio, cidade e Estado, forçadamente anuladas por publicação antecipada, na Folha, dos seus resultados. Fraudulentos, é claro.

À brasileira
Mais um naufrágio no Amazonas. Nem ao menos se pode confiar no número divulgado de mortos e desaparecidos. Se foi constatado que o número de passageiros não ficara registrado, por conseqüência não há como saber quantos faltam. Os naufrágios se repetem no Amazonas com freqüência intocada, sob uma indiferença que não parece estar diante de centenas de mortes horríveis, como são os afogamentos, tantas crianças punidas assim pela incúria alheia. É muito revoltante, muito.
Mais um período de trotes nas faculdades. A boçalidade rotulada de brincadeira estudantil transborda, com facilidade, em violência que não fica só em boçalidade e violência: é sadismo. Permitido pela complacência, pelo temor da reação coletiva dos alunos antigos, quando não pelo sadismo enrustido de quem devia proibir, reprimir e punir com exclusão esses desvios de conduta incompatíveis com a formação universitária. Como em todos os períodos de trote, aí estão mais agredidos sem provocação, mais feridos, mais punidos assim pelo seu esforço.
É a recepção da universidade à brasileira. Explicativa, por si só, do que dela sai para os exames vergonhosos na OAB, nos hospitais, nos conselhos de profissão, por aí afora.


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