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PRIVATIZAÇÃO
Banco tenta recuperar credibilidade externa até julho ou agosto
Banespa busca "selo de
qualidade' antes da venda
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
Depois de um período de hibernação de pouco mais de três anos
de intervenção do Banco Central,
o Banespa quer voltar ao mercado
internacional com o objetivo de
reconquistar linhas de crédito no
exterior no valor de US$ 2 bilhões,
antes de sua privatização prevista
para julho ou agosto.
João Alberto Magro, funcionário
do Banco Central que ocupa a presidência do Banespa, disse em entrevista à Folha que a instituição
vai "refazer sua ficha no exterior", encaminhando, nos próximos dias, seus balanços ao BIS
(Bank of International Settlements, uma espécie de banco central dos bancos centrais), cuja sede
fica em Basiléia (Suíça), para obter
o "selo de qualidade" necessário
para operar com linhas de crédito
internacionais.
Normalidade
"Agora que retomamos nossa
posição de normalidade, com a
publicação, dos balanços dos últimos anos, essa linhas tendem a retornar, o que modifica nosso perfil
de captação."
O Banespa tem hoje 11 agências
no exterior. Duas delas foram fechadas (a de Paris, na França, e a
de Amsterdã, na Holanda) durante a intervenção federal, e uma
subsidiária integral, o Banco Banespa Internacional, com sede em
Luxemburgo.
O banco foi federalizado no dia
24 de dezembro, como parte do
acordo de renegociação da dívida
paulista com o governo. Leia a seguir trechos da entrevista de Magro.
Folha - O Banespa está pronto
para a privatização?
João Alberto Magro - A privatização deve ocorrer dentro de seis a
sete meses, por volta de julho ou
agosto. Nos próximos meses deverão estar concluídos os trabalhos
de modelagem da venda e de avaliação do banco pelas consultorias
contratadas pelo governo federal e
pelo governo paulista.
O preço mínimo para o leilão será uma média aritmética das duas
avaliações. Se houver divergência
entre as avaliações acima de 10%, o
preço será arbitrado por uma comissão de especialistas.
Folha - As linhas de crédito internacionais já foram retomadas?
Magro - Estamos fazendo esforços para retomar as linhas de
crédito no exterior. Elas estavam
congeladas
porque não tínhamos balanço e os banqueiros no exterior não dão
crédito a quem
não tem balanço. Agora que
retomamos
nossa posição
de normalidade, nossa linhas tendem a
retornar. Isso
modifica nosso perfil de captação.
Eventualmente vamos ter dinheiro
mais barato lá de fora que permita
fazer operações que não estávamos podendo fazer.
Folha - Quais operações?
Magro - São oportunidades que
vão aparecer. Estamos analisando,
mas não vamos irrigar cegamente
o mercado com dinheiro.
Folha - Qual o valor dessas linhas
de crédito?
Magro - A primeira meta é recompor o nível anterior, que era
de US$ 2 bilhões de linhas internacionais. Temos até abril para colocar os balanços traduzidos nas
mãos dos banqueiros no exterior.
Temos viagens agendadas para os
EUA e Europa para refazer nossa
ficha no exterior.
Vamos recompor nosso cadastro, explicar detalhadamente os
balanços, deixando claro que o
banco, que agora é federal, voltou
a uma situação de normalidade e
que continua sob a gestão do Banco Central até a privatização.
Folha - O banco já se enquadrou
nos chamados "limites da Basiléia", obtendo o certificado de
banco de primeira linha do BIS, o
xerife dos bancos internacionais?
Magro - Estamos nos preparando para atender todos os parâmetros, cerca de 20, que o BIS exige de todos os bancos para serem
considerados bancos de primeira
linha. Isso
ocorrerá antes
da privatização. O banco
tem hoje, resolvido o problema da dívida do Estado
de São Paulo,
uma liquidez
de US$ 8 bilhões, um de
seus maiores
atrativos para a
privatização.
Folha - Como estão as negociações entre o Banespa e o governo
de São Paulo para a manutenção
das contas dos funcionários públicos na instituição depois da privatização? Analistas dizem que o Banespa valerá muito mais caso as
contas fiquem no banco por algum
tempo.
Magro - É importante que fiquem, mas não é fundamental. No
protocolo de intenções que possibilitou a renegociação da dívida do
Estado de São Paulo consta que o
Estado manteria no Banespa alguns itens de operação que pudessem manter o banco valorizado,
entre os quais o pagamento dos
funcionários públicos estaduais.
Folha - Quantas contas são?
Magro - Cerca de 800 mil contas num universo de 3 milhões de
clientes. Essa questão será discutida na modelagem do banco para a
privatização, ou seja quanto tempo o ex-dono, o Estado de São
Paulo, continuará a pagar seus
funcionários, e também fornecedores, por meio do Banespa. Isso
ainda não está decidido.
Folha - E se as contas saírem?
Magro - Não vamos perder
nossos clientes. Vamos deixar de
ter algum crédito automático,
num determinado dia, em nome
deles, mas vamos lutar para
atraí-los de volta. Nossa meta é
100%. Isso é uma atitude de marketing bancário.
Folha - Como?
Magro - Oferecendo serviços
eficientes e de vantagens econômicas. Esses clientes poderão receber
o pagamento em outros bancos,
mas vamos lutar para que 50%, no
mínimo, deles transfiram o dinheiro para o Banespa, continuando a ser nossos clientes.
Folha - Qual será a estratégia?
Magro - Vamos oferecer pacotes de tarifas econômicas. O mundo bancário está mudando. Há seis
meses atrás, o relacionamento dos
bancos com os clientes a respeito
de tarifas era totalmente diferente.
O cliente entendeu que para ter
serviço bancário precisa pagar tarifas e os bancos entenderam que
se fizerem um pacote de serviços
vinculado a uma tarifa econômica
consegue manter o cliente.
Folha - O sr. acredita em "guerra
de tarifas" com a chegada crescente de bancos estrangeiros ao mercado nacional?
Magro - Os bancos nacionais
estão sujeitos a uma concorrência
mais acirrada. Os bancos estrangeiros têm um perfil de serviços divididos por segmentos de clientes.
O mercado parte para oferecer, digamos assim, "kits" A, B ou C,
coerentes com o perfil de seus
clientes segmentados.
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