São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Banco tenta recuperar credibilidade externa até julho ou agosto
Banespa busca "selo de qualidade' antes da venda

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

Depois de um período de hibernação de pouco mais de três anos de intervenção do Banco Central, o Banespa quer voltar ao mercado internacional com o objetivo de reconquistar linhas de crédito no exterior no valor de US$ 2 bilhões, antes de sua privatização prevista para julho ou agosto.
João Alberto Magro, funcionário do Banco Central que ocupa a presidência do Banespa, disse em entrevista à Folha que a instituição vai "refazer sua ficha no exterior", encaminhando, nos próximos dias, seus balanços ao BIS (Bank of International Settlements, uma espécie de banco central dos bancos centrais), cuja sede fica em Basiléia (Suíça), para obter o "selo de qualidade" necessário para operar com linhas de crédito internacionais.
Normalidade
"Agora que retomamos nossa posição de normalidade, com a publicação, dos balanços dos últimos anos, essa linhas tendem a retornar, o que modifica nosso perfil de captação."
O Banespa tem hoje 11 agências no exterior. Duas delas foram fechadas (a de Paris, na França, e a de Amsterdã, na Holanda) durante a intervenção federal, e uma subsidiária integral, o Banco Banespa Internacional, com sede em Luxemburgo.
O banco foi federalizado no dia 24 de dezembro, como parte do acordo de renegociação da dívida paulista com o governo. Leia a seguir trechos da entrevista de Magro.

Folha - O Banespa está pronto para a privatização?
João Alberto Magro -
A privatização deve ocorrer dentro de seis a sete meses, por volta de julho ou agosto. Nos próximos meses deverão estar concluídos os trabalhos de modelagem da venda e de avaliação do banco pelas consultorias contratadas pelo governo federal e pelo governo paulista.
O preço mínimo para o leilão será uma média aritmética das duas avaliações. Se houver divergência entre as avaliações acima de 10%, o preço será arbitrado por uma comissão de especialistas.
Folha - As linhas de crédito internacionais já foram retomadas?
Magro -
Estamos fazendo esforços para retomar as linhas de crédito no exterior. Elas estavam congeladas porque não tínhamos balanço e os banqueiros no exterior não dão crédito a quem não tem balanço. Agora que retomamos nossa posição de normalidade, nossa linhas tendem a retornar. Isso modifica nosso perfil de captação. Eventualmente vamos ter dinheiro mais barato lá de fora que permita fazer operações que não estávamos podendo fazer.
Folha - Quais operações?
Magro -
São oportunidades que vão aparecer. Estamos analisando, mas não vamos irrigar cegamente o mercado com dinheiro.
Folha - Qual o valor dessas linhas de crédito?
Magro -
A primeira meta é recompor o nível anterior, que era de US$ 2 bilhões de linhas internacionais. Temos até abril para colocar os balanços traduzidos nas mãos dos banqueiros no exterior. Temos viagens agendadas para os EUA e Europa para refazer nossa ficha no exterior.
Vamos recompor nosso cadastro, explicar detalhadamente os balanços, deixando claro que o banco, que agora é federal, voltou a uma situação de normalidade e que continua sob a gestão do Banco Central até a privatização.
Folha - O banco já se enquadrou nos chamados "limites da Basiléia", obtendo o certificado de banco de primeira linha do BIS, o xerife dos bancos internacionais?
Magro -
Estamos nos preparando para atender todos os parâmetros, cerca de 20, que o BIS exige de todos os bancos para serem considerados bancos de primeira linha. Isso ocorrerá antes da privatização. O banco tem hoje, resolvido o problema da dívida do Estado de São Paulo, uma liquidez de US$ 8 bilhões, um de seus maiores atrativos para a privatização.
Folha - Como estão as negociações entre o Banespa e o governo de São Paulo para a manutenção das contas dos funcionários públicos na instituição depois da privatização? Analistas dizem que o Banespa valerá muito mais caso as contas fiquem no banco por algum tempo.
Magro -
É importante que fiquem, mas não é fundamental. No protocolo de intenções que possibilitou a renegociação da dívida do Estado de São Paulo consta que o Estado manteria no Banespa alguns itens de operação que pudessem manter o banco valorizado, entre os quais o pagamento dos funcionários públicos estaduais.
Folha - Quantas contas são?
Magro -
Cerca de 800 mil contas num universo de 3 milhões de clientes. Essa questão será discutida na modelagem do banco para a privatização, ou seja quanto tempo o ex-dono, o Estado de São Paulo, continuará a pagar seus funcionários, e também fornecedores, por meio do Banespa. Isso ainda não está decidido.
Folha - E se as contas saírem?
Magro -
Não vamos perder nossos clientes. Vamos deixar de ter algum crédito automático, num determinado dia, em nome deles, mas vamos lutar para atraí-los de volta. Nossa meta é 100%. Isso é uma atitude de marketing bancário.
Folha - Como?
Magro -
Oferecendo serviços eficientes e de vantagens econômicas. Esses clientes poderão receber o pagamento em outros bancos, mas vamos lutar para que 50%, no mínimo, deles transfiram o dinheiro para o Banespa, continuando a ser nossos clientes.
Folha - Qual será a estratégia?
Magro -
Vamos oferecer pacotes de tarifas econômicas. O mundo bancário está mudando. Há seis meses atrás, o relacionamento dos bancos com os clientes a respeito de tarifas era totalmente diferente.
O cliente entendeu que para ter serviço bancário precisa pagar tarifas e os bancos entenderam que se fizerem um pacote de serviços vinculado a uma tarifa econômica consegue manter o cliente.
Folha - O sr. acredita em "guerra de tarifas" com a chegada crescente de bancos estrangeiros ao mercado nacional?
Magro -
Os bancos nacionais estão sujeitos a uma concorrência mais acirrada. Os bancos estrangeiros têm um perfil de serviços divididos por segmentos de clientes. O mercado parte para oferecer, digamos assim, "kits" A, B ou C, coerentes com o perfil de seus clientes segmentados.



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