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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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Mais que indenização, parentes pedem reconhecimento do Estado

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais do que indenização, os familiares dos militantes políticos desaparecidos dizem querer o reconhecimento do Estado e a verdade do que ocorreu a eles no momento em que se encontravam em poder da polícia. A Folha conversou com cinco famílias. As histórias são distintas, mas, em geral, todos narram as mesmas frustrações quando tentaram obter informações de órgãos de Estado.
O processo de reconhecimento movido pela família do estudante José Wilson Lessa Sabbag, morto em São Paulo em 1969, mostra essa "ginástica" a que os familiares têm de se submeter para enquadrar o pedido na lei em vigor.
Sabbag foi preso por policiais do DOPS (Departamento de Ordem e Política Social) após ser reconhecido na rua e levou um tiro. Pela versão oficial, ele teria sido morto em uma troca de tiros na rua, situação que a lei não prevê.
O presidente do Tortura Nunca Mais de Goiás, Waldomiro Batista, revirou arquivos do IML (Instituto Médico Legal) paulista. Encontrou um boletim de ocorrência de 1969 que registra a passagem de Sabbag pelo plantão policial. Com essa prova, o processo poderá ser aceito pela comissão.
Os irmãos dos estudantes João Antonio Abi-Eçab e Catarina Helena Abi-Eçab, mortos aos 24 e 21 anos, respectivamente, também têm provas do envolvimento da polícia na morte do casal, em 1968. A versão contada à família foi a de que os dois teriam morrido em um acidente de carro.
Quase 30 anos depois, uma exumação no corpo de Catarina mostrou que ela havia levado um tiro na nuca e, somente depois, colocada no carro. "Na época, em nossa ignorância ou inocência, nem imaginávamos o que teria ocorrido", disse a irmã do estudante, Mariliana Santos Abi-Eçab.
Outro caso que também não se encaixa na lei em vigor é o do estudante Abílio Clemente Filho, que, aos 22 anos, desapareceu na praia de Santos, em 1971. Caçula de uma família humilde, Abílio foi o único dos nove irmãos a estudar. "Eu achava que ele tinha perdido a memória. Há pouco tempo fiquei sabendo que ele era do movimento estudantil", disse a irmã Helena Ibanês Morins, 70.
Em sua época de sindicalista, o presidente Lula conheceu Nativo da Natividade, fundador do PT em Goiás. A família de Natividade, morto pela polícia em 1985, espera hoje que o presidente reconheça a responsabilidade do Estado em sua morte. A foto de Lula e de Natividade foi feita no início da década de 80. (LC e ID)


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