|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mais que indenização, parentes
pedem reconhecimento do Estado
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais do que indenização, os familiares dos militantes políticos
desaparecidos dizem querer o reconhecimento do Estado e a verdade do que ocorreu a eles no momento em que se encontravam
em poder da polícia. A Folha conversou com cinco famílias. As histórias são distintas, mas, em geral,
todos narram as mesmas frustrações quando tentaram obter informações de órgãos de Estado.
O processo de reconhecimento
movido pela família do estudante
José Wilson Lessa Sabbag, morto
em São Paulo em 1969, mostra essa "ginástica" a que os familiares
têm de se submeter para enquadrar o pedido na lei em vigor.
Sabbag foi preso por policiais
do DOPS (Departamento de Ordem e Política Social) após ser reconhecido na rua e levou um tiro.
Pela versão oficial, ele teria sido
morto em uma troca de tiros na
rua, situação que a lei não prevê.
O presidente do Tortura Nunca
Mais de Goiás, Waldomiro Batista, revirou arquivos do IML (Instituto Médico Legal) paulista. Encontrou um boletim de ocorrência de 1969 que registra a passagem de Sabbag pelo plantão policial. Com essa prova, o processo
poderá ser aceito pela comissão.
Os irmãos dos estudantes João
Antonio Abi-Eçab e Catarina Helena Abi-Eçab, mortos aos 24 e 21
anos, respectivamente, também
têm provas do envolvimento da
polícia na morte do casal, em
1968. A versão contada à família
foi a de que os dois teriam morrido em um acidente de carro.
Quase 30 anos depois, uma exumação no corpo de Catarina mostrou que ela havia levado um tiro
na nuca e, somente depois, colocada no carro. "Na época, em nossa ignorância ou inocência, nem
imaginávamos o que teria ocorrido", disse a irmã do estudante,
Mariliana Santos Abi-Eçab.
Outro caso que também não se
encaixa na lei em vigor é o do estudante Abílio Clemente Filho,
que, aos 22 anos, desapareceu na
praia de Santos, em 1971. Caçula
de uma família humilde, Abílio
foi o único dos nove irmãos a estudar. "Eu achava que ele tinha
perdido a memória. Há pouco
tempo fiquei sabendo que ele era
do movimento estudantil", disse a
irmã Helena Ibanês Morins, 70.
Em sua época de sindicalista, o
presidente Lula conheceu Nativo
da Natividade, fundador do PT
em Goiás. A família de Natividade, morto pela polícia em 1985, espera hoje que o presidente reconheça a responsabilidade do Estado em sua morte. A foto de Lula e
de Natividade foi feita no início da
década de 80.
(LC e ID)
Texto Anterior: Secretário diz que é preciso "discutir com o governo" Próximo Texto: Ministério não pagou militares anistiados Índice
|