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HORA DA IMPUNIDADE
Ao todo, 94 parlamentares de vários partidos não votaram em ao menos uma das cassações
"Mensaleiros" se valem dos ausentes para ficar impunes
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Praticamente todos os partidos
ajudaram a absolver os deputados federais Wanderval Santos
(PL-SP) e João Magno (PT-MG)
anteontem à noite no plenário da
Câmara. Eles são acusados de envolvimento com o escândalo do
"mensalão".
Um total de 94 deputados, ou
18,3% da Casa, não apareceu para
votar em ao menos uma das cassações, contribuindo para um
quórum baixo que beneficiou os
acusados. Destes, 59 faltaram às
duas votações.
Wanderval foi o maior beneficiado pelo baixo comparecimento. O deputado teve a cassação defendida pela maioria do plenário.
Seu processo sempre foi considerado um dos mais graves porque é
acusado de ter "terceirizado" seu
mandato para a Igreja Universal e
de ter disponibilizado um assessor para sacar R$ 150 mil das contas de Marcos Valério de Souza.
Porém, faltaram 15 votos para
cassá-lo e atingir o quórum mínimo de 257 deputados, maioria absoluta da Casa. Apenas 444 votaram, com 68 ausentes. A Câmara
tem 513 deputados. Como o presidente da Casa, Aldo Rebelo, só
vota em caso de empate, a soma
de votantes e ausentes resulta em
512 parlamentares.
Magno, cuja absolvição já era
esperada, teve 201 votos pela cassação, seis a menos do que os contrários à perda de mandato. A votação foi ainda mais desfalcada,
com apenas 426 deputados no
plenário, 86 a menos que o total
que poderia votar. O petista recebeu R$ 426 mil do esquema do
publicitário Marcos Valério para
sua malsucedida campanha à
Prefeitura de Ipatinga (MG).
A própria oposição, que teoricamente teria interesse nas duas
cassações, dormiu no ponto.
Na votação de Wanderval, faltaram 10 deputados da bancada do
PFL (outros 3 faltaram à de Magno) e 6 do PSDB. Ou seja, se todos
os deputados dos dois partidos tivessem aparecido e votado pela
cassação, o deputado do PL teria
perdido o mandato.
A única legenda com 100% de
comparecimento nas duas votações foi o PSOL, que tem 7 deputados federais e adotou como linha a defesa da cassação de todos
os "mensaleiros".
O partido com mais ausências
foi o PP, com 14, reflexo da irritação com a cassação de seu presidente, Pedro Corrêa (PE), na semana passada. Deputados pepistas diziam nos corredores da Câmara que não fariam esforços para salvar ninguém depois de ver
seu presidente abandonado pelas
outras legendas. Em seguida vieram PFL, com 13 ausentes, PMDB
e PTB, com 12, e PT, com 11.
A ausência de tantos pefelistas
surpreendeu o comando do partido. O líder Rodrigo Maia ( RJ) recusava-se a acreditar na cifra e insistia que eram apenas cinco os
ausentes. Já o deputado ACM Neto (PFL-BA) conferia a lista de faltosos, incrédulo. "Falei para esse
povo ficar aqui!"
Alguns deputados não escondiam a insatisfação. Chico Alencar (PSOL-RJ) resolveu ser irônico. Apresentou um projeto de resolução fictício criando o "Conselho de Estética e Covardia Parlamentar", que teria por função defender os deputados do "monstro
da opinião pública". Passaria a
valer a partir de 1º de abril, o Dia
da Mentira.
Confira os nomes dos deputados que faltaram
às votações de anteontem na www.folha.com.br/060821
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