São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CASSAÇÕES

Parlamentares a favor da cassação de petista conseguiram convencer os indecisos

Cai no Conselho de Ética parecer a favor de Mentor

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após ser mais uma vez desautorizado em dose dupla pelo plenário da Câmara dos Deputados, o Conselho de Ética derrubou um parecer que absolvia o deputado José Mentor (PT-SP) de envolvimento com o escândalo do "mensalão".
Depois de muita pressão, os integrantes do conselho conseguiram virar os votos de dois parlamentares que tendiam a apoiar a absolvição de Mentor: Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Nelson Trad (PMDB-MS).
O placar final acabou sendo apertado: oito votos contra o parecer de Edmar Moreira (PFL-MG), que absolvia Mentor, e seis favoráveis ao seu texto.
Seguindo o regimento do conselho, Trad foi nomeado novo relator do processo, com a missão específica de elaborar um novo parecer, pela cassação.
O deputado, que na semana passada dizia estar convicto da absolvição de Mentor, ontem mostrou-se indeciso. "Os fatos apresentados pelos dois lados me deixaram aparvalhado", disse Trad, após ouvir Mentor e deputados favoráveis a cassação.
Na hora de votar pela cassação, ele disse que o fazia para que o processo prosseguisse, mas sem convicção. "No plenário, se eu continuar em dúvida, voto pró-réu." Nada impede, segundo ele, que apresente um relatório de cassação no conselho e vote contra o próprio parecer no plenário.
Minutos depois, surpreso ao ser nomeado novo relator, não quis prometer que pedirá a cassação no parecer. "Não tenho a obrigação de votar de um jeito específico." O novo parecer deve ficar pronto em duas semanas.
No caso de Sampaio, houve pressão do PSDB para que ele, que na semana passada expressava tendência de absolver Mentor, mudasse de idéia. O tucano disse que se convenceu após conversar com Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da CPI dos Correios.
Mentor virou persona non grata no PSDB depois de seu papel como relator da CPI do Banestado, em que protagonizou uma disputa política com o presidente da comissão, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).
A acusação principal contra o petista era de ter recebido em circunstâncias suspeitas R$ 120 mil de Rogério Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério. Mentor argumentou que o dinheiro é legal, tem nota fiscal e foi referente a serviços advocatícios prestados por seu escritório.
Moreira aceitou essa argumentação em seu pedido de absolvição, mas não convenceu a maioria dos integrantes do Conselho.
O deputado Julio Delgado (PSB-MG) pediu vista do processo e ontem apresentou uma nova argumentação, centrada em um suposto conflito de interesses entre Mentor e Tolentino. O petista tinha o advogado como cliente na mesma época em que, relator da CPI do Banestado, investigava o Banco Rural, utilizado por Valério para seu esquema.
Sampaio disse que as circunstâncias do recebimento dos R$ 120 mil não estavam bem explicadas. Ele negou a pressão tucana. Mentor disse lamentar o resultado final. "As convicções partidárias ficaram acima das provas."


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