São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

Texto Anterior | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

À deriva

Pelo jeito, a notícia do dia em Brasília foi "a incrível história do caseiro que de testemunha passou a suspeito", na manchete do SBT.
Ou ainda, na versão de Fátima Bernardes, à tarde na Globo, "Polícia Federal quer quebrar o sigilo fiscal e telefônico do caseiro que contradisse o ministro Antônio Palocci". Ou ainda, na manchete da Folha Online, "Após quebra ilegal, PF e Coaf investigam caseiro".
Mas talvez a síntese de tudo estivesse no Google Notícias, que reproduziu o dia inteiro o vago enunciado "Palocci à deriva", mais o texto:
- A cada dia, o confronto do caseiro com o ministro aumenta de proporção.

 

Para contraste, o site Vermelho, ligado ao PCdoB, dizia em manchete que "Sigilos e sigilos: oposição e mídia que a sustenta usam política de duas caras". Citou "nove casos em que a oposição quebrou sigilos".
 

Mas é só o ministro que importa, como se sabe. Na nova "Economist", a reportagem traz um título de pura ironia, "House calls", a casa chama -ou ainda, cobranças da casa.
Remete à "casa em Brasília usada para usufruir serviços de "recepcionistas" fêmeas", como diz o texto, e também à cobrança de demissão lançada a partir do Congresso:
- A oposição, que tratava Mr. Palocci com gentileza, agora quer a sua cabeça, na esperança de que possa ferir as chances eleitorais de Lula.
Não que "os mercados" se importem, já que sua equipe "continuaria com sua política". O problema é que "sua saída será sentida se Lula ganhar o segundo mandato", pois "ninguém no PT tem o mesmo zelo".
A revista ecoa sem citar um relatório do banco ABN Amro "para grandes clientes nacionais e estrangeiros", divulgado há dois dias no Blog Brasil e que levanta "dúvidas quanto à economia num segundo mandato de Lula", sem Palocci.
 

O blog Primeira Leitura, próximo do PSDB, ecoava a avaliação com outro viés:
- Quem será o enviado do petismo aos mercados para negociar as bases do acordo tácito?... Não sobrou ninguém no terreno petista.
 

Curiosamente, um enunciado da agência Associated Press noticiava, ontem em sites de jornais americanos:
- FMI: Brasil deve ter forte crescimento em 2006.
Outro título, este do "Wall Street Journal", publicado anteontem à pág. A6:
- Expectativa de que Brasil, México e Chile dêem combustível para um forte crescimento na América Latina.
A expectativa, no caso, era expressa pela Cepal e se concentrava nos cenários cada vez melhores para Brasil e México, neste ano eleitoral.
Daí Lula reclamar, ontem na Globo News, em discurso ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social:
- Quanto mais tempo passar sem votar o Orçamento, menos dinheiro a gente vai gastar a cada ano. Já poderíamos estar aí gastando alguns milhões e não estamos porque o Orçamento não foi aprovado.

HORROR
Reprodução
Cenas dos presos nas celas, ontem na Globo

Na manchete da Record, "Horror atrás das grades: 21 horas de rebelião, 7 mortos por asfixia". E na Globo, "em tempo real":
- O momento crítico foi quando os presos tentaram invadir o "seguro", onde ficam os jurados de morte e os adolescentes. Havia mais de 30 no local. Com medo, fizeram barreira de colchões, mas os presos atearam fogo. Os sete corpos só foram retirados de madrugada. Na porta, familiares protestavam contra a falta de informações. Os presos queriam transferência. Jundiaí tem capacidade para 120 presos. Tinha 484.
Geraldo Alckmin, com os mortos e a oitava rebelião em cinco dias, surgiu na Jovem Pan prometendo acabar com presos em cadeias como Jundiaí. Ele deixa o governo em uma semana, após dois mandatos.

Moral
Dos blogs ao "Jornal Nacional", causou furor o vídeo com a dança da petista Ângela Guadagnin na madrugada, no momento da absolvição de outro petista (veja à pág A8). Escalada do "Jornal da Record":
- Festa da impunidade. Deputada dança de alegria.
Para o blogueiro Jorge Moreno, "a dança é o mais imoral dos emblemas da degradação política brasileira". Para Ricardo Noblat, "estes são tempos de deplorável frouxidão moral e degradação dos costumes".
Para Fernando Rodrigues, por outro lado, "é impagável".

Outro lado
Do diretor teatral Zé Celso à "Foco", dizendo que "sob o domínio das oligarquias" não há espaço aos movimentos:
- Votarei em Lula de novo, o Lula tem contato com os movimentos sociais. É um governo com milhões de problemas, que acabou de revelar a podridão da democracia liberal, de que é preciso pagar para governar. Algo que não começou com o PT e existe em todos os partidos.
Porém:
- Fico puto com o fato de quererem jogar tudo em cima do Delúbio, que é um herói e não entregou ninguém.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

Texto Anterior: São Paulo: PSB já é sondado para vice de Serra
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.