São Paulo, quarta, 24 de março de 1999

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Decorador suspeita de funcionários

do enviado especial a Maceió

Um fato inédito aconteceu ao decorador e paisagista Gilson Lima na madrugada em que PC e Suzana foram mortos. Segundo ele, dois seguranças que trabalhavam para PC o acompanharam até as 2h, pelo menos, de 23 de junho de 1996.
Em oito anos trabalhando para PC com carteira assinada e prestando serviços ao empresário havia pelo menos 12, Lima nunca tinha tido a companhia constante e incontornável de seguranças.
Na noite do dia 22, o decorador foi a uma festa junina no Palhoção. Antes da meia-noite, chegaram ao local Paulinho Farias, filho de PC, escoltado pelo segurança Rinaldo da Silva Lima, sargento da Polícia Militar alagoana, e de um policial civil que trabalhava para PC.
"Vixe, Paulinho, você por aqui?", surpreendeu-se Gilson Lima, segundo o seu relato. A partir daí, mais do que acompanhar o garoto, os seguranças teriam "colado" no decorador. "Por que grudaram? Dá para ficar pensando, mas não tenho convicção", disse à Folha.
O decorador de fato poderia ser chamado para voltar à casa onde PC e Suzana morreram: na tarde do dia 22, a pedido de PC, ele havia concluído a mudança das capas dos sofás, livrando-os do lilás que o patrão detestava. "O doutor Paulo César me disse que, se a dona Suzana não gostasse dos sofás, ela me mandaria mudar", disse Lima.
Para pelo menos um amigo, Lima teria afirmado acreditar que os seguranças o "marcaram", com o álibi de acompanhar Paulinho, para ter certeza de que ele não iria voltar à casa de PC Farias.
Se isso for verdade, poderia configurar premeditação das mortes, com a participação dos seguranças, uma suspeita um juiz e um promotor afastados do caso mantêm até hoje. "Não quero mais falar dessa história, já fui muito prejudicado", afirma Lima.
Ele foi demitido em seguida às mortes, com rescisão em 15 de julho de 1996. Motivo: numa conversa com outros funcionários, abalados com a morte de PC, disse: "Calma, quem sabe o assassino não está no meio da gente".
No inquérito, afirmou que PC e Suzana viviam bem. Na hora do seu depoimento, faltou luz: "Eu pensei que iria morrer". Não foi questionado sobre o que fez na madrugada das mortes nem falou da companhia dos seguranças.
Tecnicamente, os seguranças falharam na missão de proteger PC. Até hoje, porém, trabalham ou mantêm boas relações com os Farias. Juarez Alves é o motorista de Ingrid e Paulinho, filhos de PC. Entre as 20h do dia 22 de junho de 96 e as 4h30 do dia 23, ele recebeu 40 telefonemas no seu celular, mais do que oito vezes a média, como revelou a quebra do sigilo telefônico.
O chefe da segurança de PC, o então sargento Flávio de Almeida Júnior, ex-namorado de Suzana, hoje está fora da corporação. Abriu uma loja de charutos e vinhos num bairro elegante de Maceió e trabalha na "Tribuna de Alagoas", o jornal da família Farias. (MM)



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