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Marco Aurélio critica conduta de Barbosa e Mendes
Ministro diz que Barbosa "extravasou o imaginável" anteontem e que atuação de Mendes "implica a própria fragilização do Judiciário"
"Nunca vi tantas ausências nas sessões", diz ministro, que reclama também da impontualidade e da falta de limite para o intervalo
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal (2001-2003),
o ministro Marco Aurélio Mello, 52, criticou seus colegas
Joaquim Barbosa e Gilmar
Mendes, os protagonistas de
uma das mais duras discussões
já ocorrida entre dois ministros
durante um julgamento na história do STF. Ele cobrou respeito à liturgia do cargo e afirmou que acordou ontem com
uma sensação de "ressaca".
Na discussão de anteontem,
Barbosa disse a Mendes que ele
está "destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro" e
que o presidente deveria saber
que "não está falando com seus
capangas de Mato Grosso".
Ministro do STF desde 1990,
Marco Aurélio já discutiu com
Barbosa quando este questionou sua decisão em um processo envolvendo o esquema de
venda de sentenças judiciais investigado na Operação Anaconda. Eles não se falam. Ainda
assim, Marco Aurélio disse à
Folha que se sentia à vontade
para falar sobre o caso porque
agiu como "bombeiro". Ele foi
contrário à ideia de alguns ministros de fazer uma censura
pública a Barbosa. A primeira
opção deu lugar a uma nota diplomática com apoio a Mendes.
FOLHA - O que ficou para o STF do
episódio protagonizado por Gilmar
Mendes e Joaquim Barbosa?
MARCO AURÉLIO MELLO - A sensação que se tem no dia seguinte é
que se está de ressaca. Esperamos que esse episódio sirva de
lição para a convivência no colegiado, que é um somatório de
forças distintas e no qual deve
prevalecer a organicidade. Hoje, sem dúvida nenhuma, o tribunal está com a imagem arranhada. Vejo tudo com muita
tristeza. Naquele plenário não
temos semideuses, temos homens, dos quais se espera uma
conduta que honre o cargo.
FOLHA - Quem foi o culpado?
MARCO AURÉLIO - No início, houve um acirramento de ambos. O
ministro Joaquim extravasou o
imaginável. Todos nós ficamos
perplexos com o grau de agressividade. E posso falar disso
muito à vontade porque eu fui
bombeiro, estou confortável
com minha atitude. O ministro
Joaquim vem demonstrando
que às vezes perde os limites da
razoabilidade. Isso é ruim. Agora, que ele esteja atento à necessidade de corrigir rumos.
FOLHA - E Gilmar Mendes?
MARCO AURÉLIO - Talvez esteja
na hora de tirar o pé do acelerador e buscar uma austeridade
maior. Isso não é uma crítica,
mas uma análise da situação.
Toda vez que se fustiga em muitas frentes também se fica na
vitrine dos estilingues impiedosos. Eu apoio a presidência,
como subscrevi na nota divulgada. Não se trata de crítica.
O ministro Joaquim precisa
buscar manter a discussão no
campo das ideias. Ele acaba
deixando a discussão descambar para o pessoal. Quanto ao
presidente, ele tem tido uma
atuação ostensiva em vários
campos, e isso implica a própria
fragilização do Judiciário. A
virtude está no meio termo.
FOLHA - Houve uma nota anterior,
mais dura, substituída pela oficial.
MARCO AURÉLIO - Alguns ministros queriam fazer uma censura pública, dizendo que o comportamento do ministro Joaquim era incompatível com o
cargo que ele ocupa. Mas aí a
instituição é que sairia diminuída e não o seu integrante.
FOLHA - A crise é grave?
MARCO AURÉLIO - Não... Eu diria
que precisamos avaliar na próxima sessão. Não sei por que
suspenderam a de hoje. E eu
nunca vi tantas ausências, tantas impontualidades e tanta falta de limitação para o intervalo.
Talvez seja porque a composição do colegiado mudou muito
e em pouco tempo. Não sei.
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