São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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ANÁLISE

O candidato que virou maionese

VERA MAGALHÃES
EDITORA DE BRASIL

Ciro Gomes pode protestar por alguns dias, se dizer traído, prever o caos sem sua postulação presidencial, mas o fato é que o enredo que conduziu à sua retirada do processo foi construído meses antes, diante de seus olhos e, de certo modo, com sua anuência quando concordou em transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo.
O fato é que Lula conseguiu exatamente o que queria desde sempre: fazer de Dilma Rousseff a única candidata presidencial de seu campo de apoio.
Há quem veja um paradoxo no esforço empreendido por Lula para tirar Ciro do páreo e o fato de que sua exclusão beneficie, num primeiro momento, o tucano José Serra, o candidato de oposição e alvo preferencial da ira do próprio deputado do PSB. Mas a contradição é apenas aparente, uma vez que a migração de votos de hoje não reflete o potencial de transferência de Lula para Dilma -que, como demonstram os cruzamentos do Datafolha, ainda não se concretizou.
Com Ciro efetivamente descartado como opção na "cédula", não é absurdo pensar que um eleitor que o identifique com as forças de apoio ao governo vá reavaliar o quadro em busca de um candidato apoiado por Lula e reconheça Dilma como essa pessoa.
O risco da estratégia é a já conhecida metralhadora giratória de Ciro, que, no mesmo dia em que disse à cúpula de seu partido que acataria a decisão sobre seu destino, já acusou Lula de "navegar na maionese". Se ficar apenas no terreno do "jus esperniandi", Ciro causará pouco ou nenhum dano. Mesmo porque uma hora vai perder espaço, suas críticas vão cansar.
Caso resolva revelar alguma coisa cabeluda que eventualmente tenha presenciado quando ministro, no primeiro mandato de Lula, poderá causar um estrago maior -ainda assim, estará isolado e falando só por si, graças à rasteira que levou do presidente, com franca colaboração de seu partido.


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