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SOMBRA NO TUCANATO
Para deputado do PT, operação com empresário pode ter sido normal, mas precisa ser investigada
Banespa reduz dívida de Marin em R$ 17 mi
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário espanhol naturalizado brasileiro Gregorio Marin
Preciado teve uma redução de R$
17,1 milhões em uma dívida sua
com o Banespa em 13 de dezembro de 99, quando a instituição estava sob intervenção do Banco
Central.
É possível que a redução tenha
sido maior, pois a Folha teve acesso apenas ao valor da dívida da
Gremafer, empresa de Marin, em
outubro de 2000.
Nessa data, o débito era de "cerca de R$ 21 milhões", segundo documento do Banco do Brasil
-que também era credor da Gremafer e analisava os débitos da
empresa com outros bancos.
Mais de um ano depois de o BB
citar a dívida da Gremafer com o
Banespa na casa dos R$ 21 milhões, foi formalizado um acordo
judicial na 5ª Vara Cível de São
Bernardo do Campo (cidade da
região do ABC, na Grande São
Paulo), em dezembro de 99. O débito da Gremafer com o Banespa
caiu para R$ 3,9 milhões.
Ex-sócio de Serra
Gregorio Marin é casado com
uma prima do senador José Serra
(PSDB-SP), pré-candidato tucano
a presidente da República.
De 81 a 95, manteve em sociedade com Serra um terreno no Morumbi, bairro nobre de São Paulo.
Em 94, apesar de endividado e
inadimplente com o BB, doou R$
87.442,82 para a campanha de seu
contraparente ao Senado.
De 95 a 98, Gregorio Marin teve
uma redução de R$ 73,719 milhões numa dívida com o BB, com
a ajuda do então diretor da Área
Internacional da instituição, Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador de fundos para campanhas de Serra e de Fernando Henrique Cardoso.
Depois que obteve a redução de
sua dívida com o Banespa, em dezembro de 99, a Gremafer pagou
50% do novo valor acertado. O
restante entrou em litígio, situação que se arrasta até hoje.
Dívidas dispararam
Segundo a Folha apurou no
Santander, banco de origem espanhola que hoje controla o Banespa (leiloado pelo governo federal
em novembro de 2000), há registros de várias dívidas da Gremafer. Pelo menos duas delas foram
classificadas como créditos em liquidação em 95 -quando o banco passou a lançar o valor como
prejuízo.
Os valores são os seguintes:
1) R$ 869 mil (crédito em liquidação em 10.out.95) e 2) R$ 1,195
milhão (crédito em liquidação em
29.set.95).
Por estarem lançados como
prejuízo do Banespa/Santander,
esses valores foram atualizados
por uma alta taxa de correção.
Os R$ 869 mil de 95 constam
hoje como sendo uma dívida de
R$ 28,8 milhões. O R$ 1,195 milhão disparou para R$ 39,7 milhões.
Segundo a Folha apurou, é comum os bancos jogarem para cima os valores de dívidas já lançadas como prejuízo. Trata-se de
uma estratégia de negociação, para tentar recuperar uma parte
desse passivo mais adiante.
"É necessário investigar o que
aconteceu. Mas também é possível que as reduções de dívidas
nesse caso sejam compatíveis
com as práticas usuais do mercado bancário", diz o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP),
membro da CPI do Banespa, que
investiga possíveis irregularidades do período em que o banco
esteve sob intervenção federal (de
94 a 2000).
Depoimento na CPI
No dia 14 deste mês, a CPI do
Banespa convocou Gregorio Marin para um depoimento. Além de
ter sido devedor do banco e de ter
renegociado sua dívida durante a
intervenção federal, o empresário
também havia sido membro do
Conselho de Administração da
instituição (de 83 a 87), com o
apoio de José Serra.
Sob o argumento de que não havia fato a ser investigado com relação ao objeto da CPI, o Palácio
do Planalto ordenou que sua bancada derrubasse a convocação no
plenário da Câmara -o que
ocorreu na última terça-feira, dia
21, véspera do depoimento de
Gregorio Marin.
"O fato de a renegociação ter
ocorrido durante a intervenção
do Banco Central no Banespa
anula o argumento do governo
para impedir a convocação de
Gregorio Marin", diz o deputado
petista Ricardo Berzoini.
O presidente da CPI do Banespa, o deputado Luiz Antônio
Fleury Filho (PTB-SP), acha que
"pode não haver mais tempo" para uma convocação. A CPI tem
prazo para funcionar apenas até o
dia 10 de junho.
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