São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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SOMBRA NO TUCANATO

Para deputado do PT, operação com empresário pode ter sido normal, mas precisa ser investigada

Banespa reduz dívida de Marin em R$ 17 mi

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário espanhol naturalizado brasileiro Gregorio Marin Preciado teve uma redução de R$ 17,1 milhões em uma dívida sua com o Banespa em 13 de dezembro de 99, quando a instituição estava sob intervenção do Banco Central.
É possível que a redução tenha sido maior, pois a Folha teve acesso apenas ao valor da dívida da Gremafer, empresa de Marin, em outubro de 2000.
Nessa data, o débito era de "cerca de R$ 21 milhões", segundo documento do Banco do Brasil -que também era credor da Gremafer e analisava os débitos da empresa com outros bancos.
Mais de um ano depois de o BB citar a dívida da Gremafer com o Banespa na casa dos R$ 21 milhões, foi formalizado um acordo judicial na 5ª Vara Cível de São Bernardo do Campo (cidade da região do ABC, na Grande São Paulo), em dezembro de 99. O débito da Gremafer com o Banespa caiu para R$ 3,9 milhões.

Ex-sócio de Serra
Gregorio Marin é casado com uma prima do senador José Serra (PSDB-SP), pré-candidato tucano a presidente da República.
De 81 a 95, manteve em sociedade com Serra um terreno no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Em 94, apesar de endividado e inadimplente com o BB, doou R$ 87.442,82 para a campanha de seu contraparente ao Senado.
De 95 a 98, Gregorio Marin teve uma redução de R$ 73,719 milhões numa dívida com o BB, com a ajuda do então diretor da Área Internacional da instituição, Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador de fundos para campanhas de Serra e de Fernando Henrique Cardoso.
Depois que obteve a redução de sua dívida com o Banespa, em dezembro de 99, a Gremafer pagou 50% do novo valor acertado. O restante entrou em litígio, situação que se arrasta até hoje.

Dívidas dispararam
Segundo a Folha apurou no Santander, banco de origem espanhola que hoje controla o Banespa (leiloado pelo governo federal em novembro de 2000), há registros de várias dívidas da Gremafer. Pelo menos duas delas foram classificadas como créditos em liquidação em 95 -quando o banco passou a lançar o valor como prejuízo.
Os valores são os seguintes:
1) R$ 869 mil (crédito em liquidação em 10.out.95) e 2) R$ 1,195 milhão (crédito em liquidação em 29.set.95).
Por estarem lançados como prejuízo do Banespa/Santander, esses valores foram atualizados por uma alta taxa de correção.
Os R$ 869 mil de 95 constam hoje como sendo uma dívida de R$ 28,8 milhões. O R$ 1,195 milhão disparou para R$ 39,7 milhões.
Segundo a Folha apurou, é comum os bancos jogarem para cima os valores de dívidas já lançadas como prejuízo. Trata-se de uma estratégia de negociação, para tentar recuperar uma parte desse passivo mais adiante.
"É necessário investigar o que aconteceu. Mas também é possível que as reduções de dívidas nesse caso sejam compatíveis com as práticas usuais do mercado bancário", diz o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), membro da CPI do Banespa, que investiga possíveis irregularidades do período em que o banco esteve sob intervenção federal (de 94 a 2000).

Depoimento na CPI
No dia 14 deste mês, a CPI do Banespa convocou Gregorio Marin para um depoimento. Além de ter sido devedor do banco e de ter renegociado sua dívida durante a intervenção federal, o empresário também havia sido membro do Conselho de Administração da instituição (de 83 a 87), com o apoio de José Serra.
Sob o argumento de que não havia fato a ser investigado com relação ao objeto da CPI, o Palácio do Planalto ordenou que sua bancada derrubasse a convocação no plenário da Câmara -o que ocorreu na última terça-feira, dia 21, véspera do depoimento de Gregorio Marin.
"O fato de a renegociação ter ocorrido durante a intervenção do Banco Central no Banespa anula o argumento do governo para impedir a convocação de Gregorio Marin", diz o deputado petista Ricardo Berzoini.
O presidente da CPI do Banespa, o deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP), acha que "pode não haver mais tempo" para uma convocação. A CPI tem prazo para funcionar apenas até o dia 10 de junho.


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