São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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PRIVATIZAÇÃO DAS TELES

Afastado do caso Telemar, Deuler da Rocha Júnior afirma que faltava só "confirmar alguns documentos"

Delegado diz que poderia ter indiciado Ricardo Sérgio

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O delegado da Polícia Federal Deuler da Rocha Júnior, que até março apurava irregularidades no leilão de privatização da Telemar, disse ontem que "havia a possibilidade de indiciar" Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil e ex-arrecadador de fundos para campanhas do presidenciável tucano, o senador José Serra (SP).
Segundo o delegado, "ainda era preciso confirmar alguns documentos". O principal deles é um relatório de 2001 do Banco Central que responsabilizava o ex-diretor por irregularidades em operação que garantiu a presença do banco Opportunity no leilão.
Apesar da necessidade de uma checagem de dados, "os indícios de autoria [de crime" estavam presentes", afirmou o delegado, durante audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados. Os advogados de Ricardo Sérgio não comentaram o depoimento.
Segundo o BC, teria havido "imprudência na gestão dos negócios" do Banco do Brasil. Ricardo Sérgio foi flagrado em grampo telefônico, em 98, dizendo que estava "no limite da irresponsabilidade" durante as preparações para a privatização da Telebrás, em 97.
Ontem, o delegado disse que "não cometeria a leviandade de indiciar sem ter convicção". E afirmou que esse possível indiciamento não teve relação com seu afastamento. Ele agora responde pela delegacia marítima no Rio.

Transferência
Rocha Júnior foi transferido da delegacia de inquéritos especiais, que apurava o caso, em março deste ano, por decisão do superintendente da PF no Rio de Janeiro, delegado Marcelo Itagiba.
Itagiba foi assessor do ex-ministro da Saúde José Serra e funcionário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Se o tucano for eleito, é o mais cotado para assumir a direção geral da PF.
A mudança foi interpretada pela oposição como uma interferência na condução do inquérito sobre o caso, que está, agora, com a delegada Patrícia de Freitas.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Francisco Carlos Garisto, disse que a transferência de delegados durante investigações importantes não é coisa comum. "Existe uma desconfiança de uso político, total." Para ele, "a Polícia Federal precisa de independência, porque ela é polícia de Estado, não de governo".
Para o deputado Welington Dias (PT-PI), autor do requerimento de audiência, tem havido ingerência na PF para preservar pessoas ligadas ao governo. "Quando [os delegados] começam a indiciar, acabam sendo afastados."



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