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OPERAÇÃO VAMPIRO
Acusados de envolvimento nas fraudes em licitações se entregaram à polícia ontem; um está foragido
Mais dois empresários são presos pela PF
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Entregaram-se à Polícia Federal
ontem pela manhã em Brasília os
empresários Jaisler Jabour de Alvarenga e Lourenço Rommel Peixoto, que estavam foragidos desde a última quarta-feira, quando
tiveram a prisão decretada por suposto envolvimento em fraudes
no Ministério da Saúde.
Investigação da PF e do Ministério Público Federal, que culminou
com a Operação Vampiro, na
qual foi decretada a prisão de 17
empresários, lobistas e servidores, revelou que a quadrilha manipulava licitações para a compra
de medicamentos -até o fechamento desta edição, estava foragido o empresário Marcos Chain.
A atuação do grupo nas concorrências relacionadas a hemoderivados, cujos fornecedores são
apenas laboratórios estrangeiros,
produziu, no últimos 13 anos, um
prejuízo de cerca de R$ 2 bilhões
aos cofres públicos.
Conforme a investigação, Peixoto, vice-presidente do "Jornal
de Brasília", seria peça importante da quadrilha. Experiente, atuaria no setor desde o início dos
anos 90. Na gestão Collor, ele foi
nomeado para a extinta Ceme
(Central de Medicamentos) -órgão que centralizava as compras
do Ministério da Saúde- e teria
participado de fraudes relacionadas ao chamado esquema PC, alusão ao empresário Paulo César
Faria, morto em 1996.
Entre os presos está o ex-coordenador-geral de Recursos Logísticos do Ministério da Saúde Luiz
Cláudio Gomes da Silva. Em um
relatório produzido pela equipe
de inteligência da PF, há o rastreamento, inclusive com fotos, de
uma remessa de propina que seria
destinada a ele.
No dia 6 de fevereiro, o "mula"
-pessoa utilizada para transportar o dinheiro- Jesse James Ramalho foi preso no aeroporto internacional do Rio portando R$
350 mil. Em depoimento, disse à
PF que, do total, R$ 200 mil seriam entregues a Silva.
Também no início do ano, a PF
monitorou e documentou a entrega de R$ 720 mil a servidores
da Saúde. O dinheiro era de laboratórios e empresas de consultoria. Originalmente em moeda estrangeira, a soma foi convertida
em reais na casa de câmbio Dunes
Non Stop, no Rio, e enviada a Brasília por um "mula", que se encarregou de pagar a propina.
Exonerado no mesmo dia em
que foi preso pela PF, Silva foi nomeado para o cargo pelo ministro
da Saúde, Humberto Costa, com
que já trabalhara em Recife.
Hoje, o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, reúne-se
em Brasília com o diretor-geral da
PF, Paulo Lacerda, para se inteirar
dos detalhes e desdobramentos
da Operação Vampiro. "É um trabalho que deve se aprofundar em
desdobramentos que, logo, logo,
esperamos, estejam no Poder Judiciário", disse Bastos, que também deve se encontrar com o ministro da Saúde.
"Cafezinho"
Decisões da Comissão de Licitação do Ministério da Saúde em favor de laboratórios internacionais
já foram revistas pela Justiça.
Em 2001, por exemplo, a comissão retirou a Neo Química de uma
disputa com a estrangeira Merck,
numa concorrência destinada à
compra de um dos medicamentos que compõem o coquetel para
tratamento da Aids. Alegou que a
documentação do laboratório
não estava de acordo com a legislação. Não explicou, no entanto, a
que lei se referia.
Um mandado de segurança
apresentado pelo advogado Alexandre Pinheiro, do escritório Alcoforado Advogados Associados,
colocou a Neo Química novamente na disputa, na qual acabou
vitoriosa -os preços que ofereceu eram inferiores aos da concorrente em US$ 1,1 milhão.
Em meio aos questionamentos
no âmbito da Justiça, o então presidente da comissão, Mário Machado da Silva, preso na Operação
Vampiro, convidou o advogado
Pinheiro para tomar um "cafezinho" em seu gabinete, no ministério. Pretendia mostrar que trabalhava "de forma justa e correta". Pinheiro recusou o convite.
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