São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

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Preso diz que vice levou pedidos a Déda

Flávio Conceição afirma em gravação da PF que Belivaldo Chagas encaminhou pleito da Gautama ao governador de Sergipe

Monitoramento feito pela PF mostra que o encontro do conselheiro do TCE com o governador não ocorreu e que empresa não teve êxito

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos presos pela Operação Navalha da Polícia Federal, o conselheiro do Tribunal de Contas de Sergipe Flávio Conceição de Oliveira Neto, afirma em conversa telefônica gravada que o vice-governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSB), encaminhou pleitos da construtora Gautama ao governador do Estado, Marcelo Déda (PT).
O encontro teria ocorrido em 14 de março, dia em que o vice de Déda pediu a Flávio Conceição, em conversa telefônica gravada, informações sobre dois pagamentos do Estado que estariam pendentes, um deles relativo à Gautama. O suposto encontro entre Déda e seu vice foi relatado dessa forma por Flávio Conceição a Zuleido Veras, dono da Gautama:
"Teve a conversa do vice com o "número 1" [Déda, segundo a Polícia Federal]. Falei com o vice agora. O "número 1" quer porque quer conversar comigo, tô esperando. O vice colocou no canto e disse tudo como era e como não era a coisa. E ele falou: "Deixe comigo", o número 1 disse, "deixe comigo"."
A Gautama agia naquela época para tentar receber do governo sergipano R$ 500 mil por supostos serviços feitos na obra de duplicação do sistema de adutoras do Rio São Francisco.
Déda e Belivaldo negam que tenham conversado sobre assunto de interesse da Gautama. Segundo o governo de Sergipe, nenhum recurso relativo à obra foi liberado para a empreiteira (leia texto nesta página).
Na mesma conversa gravada entre Zuleido Veras e Flávio Conceição, o conselheiro do TCE de Sergipe afirma que teria um encontro a sós com Déda e Belivaldo, com quem possuía uma relação familiar (Conceição é casado com a ex-mulher do vice-governador de Sergipe).
"Vou estar com o vice no fim de semana, talvez esteja também com o "número 1", porque o "número 1" falou que ia marcar um vinho; eu, ele e o vice, sozinho os três", diz, apesar de ressalvar a Zuleido: "[O pleito] Já está de novo na mão do "número 1", mas é que o pessoal é roda presa, o governo empacou. (...) O governo empacou até porque não tem operadores, ninguém opera no governo".
O monitoramento feito da PF nos dias subsequentes mostra que o encontro entre os três não ocorreu. Dá a entender também que a Gautama não teve sucesso na empreitada.
Segundo as gravações das conversas de Flávio Conceição, ele avalia que o novo governo estadual estaria represando recursos no primeiro ano da gestão. "Tranca o Estado um ano, faz um caixa, e o ano que vem entra com as obras."
A PF relata também que o conselheiro comandou a rejeição de uma proposta de auditoria nas obras da Companhia de Saneamento do Estado, o que podia atingir a Gautama.
"Além de sua participação intensa na organização criminosa, intermediando contatos e possibilitando liberação de pagamentos, Flávio Conceição também favoreceu a quadrilha no exercício de seu novo cargo como Conselheiro do Tribunal de Contas", anota o relatório da PF. A votação contra a auditoria ficou em 5 a 1. De acordo com conversas de Flávio com integrantes da Gautama, o grupo desconfiava que o voto pela auditoria havia sido influenciado por Déda. (RANIER BRAGON, LEONARDO SOUZA E ANDREZA MATAIS)


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