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Senado prorroga contratos e "eterniza" empresa terceirizada
Empresas que ganharam licitação para prestar serviço por 1 ano acabaram ficando 5 e tiveram o valor do contrato aumentado
Técnicos que analisaram os 34 contratos recomendam novas licitações; segundo diretor-geral, prorrogações geram despesas menores
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado adotou como uma
prática comum prorrogar e aditar os contratos com empresas
terceirizadas nos últimos cinco
anos, em vez de realizar novas
licitações. A Folha teve acesso
a 20 dos 34 contratos de empresas que cedem mão de obra.
Todos foram prorrogados e tiveram o valor aumentado diversas vezes no período.
A norma tem sido prorrogar
a vigência dos contratos das
terceirizadas no limite máximo
previsto em lei, o que permite
às empresas que ganharam licitação para apenas um ano ficarem até cinco e ainda terem o
valor contratual aumentado.
Os contratos foram assinados nas gestões de Romeu Tuma (PTB-SP) e Efraim Morais
(DEM-PI), que ocuparam a
primeira-secretaria nos últimos cinco anos, e de Agaciel
Maia, diretor-geral até março.
O Senado criou uma comissão de técnicos para analisar
todos os 34 contratos quando
surgiram denúncias de que havia funcionários fantasmas e
parentes de senadores empregados. Os técnicos já fizeram a
recomendação para que a administração não faça sucessivas prorrogações, contratações
emergenciais e garanta licitações para "selecionar a proposta mais vantajosa". Neste ano,
25 contratos terminam no segundo semestre.
Em entrevista à revista
"Época", no início de maio, o
ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi e sua
mulher, Denise, sugeriram que
há corrupção em todos os contratos de terceirização da Casa,
acusaram Agaciel de ser dono
das empresas, por meio de laranjas, e insinuaram envolvimento de Efraim e Tuma no
suposto esquema. O casal recuou das acusações em depoimento à Polícia Legislativa.
Agaciel negou intenção de
beneficiar as empresas. "Na
época de renovar se fazia um
levantamento para saber se o
contrato estava sendo bem
prestado. Se estivesse, era
prorrogado." Os senadores disseram que tudo foi feito de
acordo com a lei.
Contratos
O Senado gasta R$ 152 milhões por ano com os 34 contratos para ter 3.518 funcionários
em áreas como limpeza, comunicação, segurança. O orçamento da Casa para este ano é
de R$ 2,7 bilhões e o previsto
com pessoal é de R$ 2 bilhões.
Há terceirizadas que tiveram
o contrato aditado até 17 vezes
em quatro anos. Uma delas firmou contrato de R$ 806.639,67
em maio de 2004 para oferecer
contínuos e copeiros à Casa.
Depois de 17 aditamentos, o
valor subiu para R$ 1,4 milhão e
o número de funcionários subiu para 107. Há casos de empresas que continuaram na Casa mesmo depois de cinco anos
porque uma nova licitação não
foi feita e foram assinados contratos emergenciais.
Outra empresa ganhou licitação para fornecer 59 funcionários ao setor de rádio, eletrônica, taquigrafia e ao ILB (Instituto Legislativo Brasileiro), em
2004, e vem tendo o contrato
prorrogado até hoje. O valor
inicial foi de R$ 218.580,88 por
mês. Hoje, dez aditamentos depois, está em R$ 343.442,33.
A explicação oficial para os
aditamentos é que, no período,
foram incluídos mais funcionários. Para as prorrogações, é
que elas geram menos despesa
para a Casa. "O processo licitatório gera custos de pessoal e
publicação. Além disso, quando
os preços sobem, é mais vantagem negociar com a prestadora
de serviço um valor abaixo do
de mercado", disse Alexandre
Gazineo, diretor-geral da Casa.
Especialista em licitações, o
advogado Márcio Pestana, professor da Faap em São Paulo,
disse que "não é costumeiro fazer tantos aditivos", embora a
legislação permita reajustar o
preço em até 25% ao ano.
A opção de prorrogar os contratos, diz ele, "é um procedimento absolutamente incorreto" que pode suscitar a responsabilização do gestor público.
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