São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Elio Gaspari

Manual para vigiar a CPI da Petrobras


Se os senadores forem atrás de holofotes e trocados, farão a festa dos comissários que usam gorro de visom


QUEM QUISER acompanhar a CPI da Petrobras precisa se acautelar. O melhor negócio do mundo para o comissariado da empresa será a exibição de meia dúzia de escândalos pirotécnicos. Aqui vai um manual de sobrevivência para os curiosos:
1) Discutir a política de patrocínios culturais servirá apenas para desfazer a cena do crime. O senador Alvaro Dias diz que quer investigar os contratos de duas ONGs dirigidas por petistas que receberam R$ 2,96 milhões para organizar festas em 44 cidades baianas. Perda de tempo. A Polícia Federal e o Ministério Público estão cuidando do assunto e essas duas instituições são mais confiáveis que as CPIs do Congresso. Admitindo-se que toda a política de patrocínios da Petrobras estivesse corrompida, os custos da empresa caberiam na rebarba de uma plataforma de R$ 6 bilhões e ainda sobraria muito dinheiro. (O comissariado não diz quanto gasta em cultura, mas pode-se chutar que a cifra esteja nuns R$ 300 milhões.)
2) Discutir sobrepreços inferiores a 10% do valor orçado é denúncia vazia. Diferenças desse tamanho podem ocorrer nas melhores empresas. Sobrepreço bonito é o da refinaria planejada para o Rio de Janeiro. Em 2006, quando Nosso Guia lançou sua pedra fundamental, ela estava orçada em R$ 7 bilhões. Atualmente está estimada em R$ 26 bilhões. O mesmo acontece com a Abreu e Lima, em Pernambuco. Ela nasceu custando R$ 5 bilhões, pulou para R$ 8 bilhões e, em março, empreiteiras e fornecedores pediam R$ 22 bilhões. No meio do caminho, sumiu o sócio venezuelano. Se o comissário Sérgio Gabrielli trabalhasse com variações desse tipo na iniciativa privada, já teria sido mandado para a direção de uma ONG de capoeira. Para evitar dispersão de esforços, pode-se também estabelecer um piso de R$ 100 milhões para qualquer investigação mais aprofundada. Assunto não haverá de faltar.
No mundo das astúcias conceituais pode-se até deixar de lado o drible que Gabrielli e o doutor Almir Barbassa quiseram dar na Receita Federal. Mais intrigante será a investigação de fornecedores e empresários atraídos para sociedades com a Petrobras. Em tese, esse é um bom negócio. Na prática, diversos parceiros surpreenderam-se ao ver que as revisões orçamentárias da estatal geralmente dobravam as despesas. (Em alguns casos os sócios preferiram cair fora.)
A Petrobras não é uma empresa corrupta, mas uma estatal onde há espertalhões. O melhor acervo para a sua defesa está no corpo técnico da companhia.

VESTIBULAR
A essa altura, as chances de o MEC organizar duas provas do Enem neste ano são inferiores a 10%. Haverá só uma, em dois dias de outubro, com um total de 180 questões.
O que o ministério assegura é que até outubro fará três simulações, todas na internet. A primeira será parcial e as duas outras, completas. Os estudantes poderão conferir on-line a qualidade de suas respostas.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e pretende ganhar dinheiro com sua última invenção. É o "Deflator Mantega" e serve para prever o índice de crescimento do PIB num ano.
O idiota lembrou-se de que, no final de 2003, Mantega contestou uma previsão da ekipekonômica, que estimava um crescimento de 0,4% para a economia naquele ano. O doutor explicou que "eu não derrubo, só levanto o PIB" e cravou um crescimento de 0,8%.
A conta fechou em 0,5%. Diante disso, o idiota criou a Primeira Lei de Mantega: "Seja qual for o PIB, ele ficará 37% abaixo do que diz o ministro da Fazenda".
Eremildo aplicou o "Deflator Mantega" à divergência recente do ministro com o seu colega Paulo Bernardo, que previu uma taxa de 0,7% para este ano. O levantador de PIB elevou-a para 1%. O idiota informa: a economia crescerá 0,63%.

CONFISCO ELEITORAL
Os doutores que defendem a instituição do voto de lista, que retira do contribuinte o direito de escolher seus candidatos a deputado, sustentam que, com isso, os partidos serão fortalecidos e o Brasil será feliz para sempre. Tudo bem. Puseram no pacote do confisco eleitoral uma proposta que abre uma "janela de infidelidade" para permitir que parlamentares fujam dos partidos pelos quais se elegeram.

PSDEM
Um malicioso observador da vida partidária brasileira começou a desconfiar de que esteja em andamento algum tipo de conversa para fundir o PSDB com o DEM. Pelo menos um cardeal do DEM admitiu essa hipótese, ressalvando que isso aconteceria depois da eleição de 2010. É apenas desconfiança, mas será divertido ver Fernando Henrique Cardoso no ex-PFL, ex-PDS e ex-Arena.
AVÔ EM GUANTÁNAMO
O companheiro Obama evita falar no assunto, mas ele é o primeiro presidente da história dos Estados Unidos com um ascendente direto preso e torturado sob a acusação de terrorismo. Sua família já teve o Momento Guantánamo.
Hussein Onyango Obama, avô paterno do presidente, foi encarcerado em 1949 pelo regime colonial inglês e passou dois anos nos calabouços da medonha prisão queniana de Kamiti. Sofreu de tudo.
Vô Obama foi acusado de passar informações ao movimento nativista que desembocaria na revolta dos Mau Maus. Essa organização juntou milhares de quenianos unidos por um juramento feito rituais em que se bebia sangue de bode.
Os ingleses confinaram e prenderam 1,5 milhão de quenianos. Mataram pelo menos 12 mil. Não adiantou. Em 1963, 11 anos depois do início da revolta Mau Mau, o Quênia obteve sua independência.
(Em suas memórias, Obama Neto contou essa história com a rapidez de um gato que corre sobre brasas.)
3x3?
Conta de um petista atrevido: "Eu não falo em terceiro mandato. Para mim, se Lula disputasse a Presidência em 2010 essa seria sua sexta candidatura. Até agora ele perdeu três e ganhou duas".

ACREDITAR NA INFRAERO É COISA DE BOBO
Em outubro passado leu-se aqui uma "boa notícia". A Infraero anunciava que a partir de dezembro os 12 maiores aeroportos do país ofereceriam conexões gratuitas com a internet pelo sistema Wi-Fi.
Tudo mentira. Chegou-se a maio e não se instalou coisa alguma. Pior: os aerocratas anunciam que oferecerão outra modalidade de serviço. A patuleia precisará se cadastrar, terá o acesso limitado e pagará aos provedores para usar serviços de e-mail. A cultura da Infraero tem suas peculiaridades. Já houve aeroteca defendendo a instalação de Wi-Fi nos saguões dos aeroportos, deixando de fora as salas de espera.
As informações publicadas em outubro foram fornecidas pela Infraero. Quem as leu foi logrado, por conta da bobeira do signatário, que acreditou no que lhe contaram. Às vítimas, as devidas desculpas.
É comum a observação segundo a qual a imprensa gosta de más notícias. De fato, pois a más notícias, por piores que sejam, quase sempre são verdadeiras. As boas, sobretudo quando saem do governo ou de suas estatais, vêm contaminadas por empulhações.
A Infraero informa que a rede dos aeroportos começará a funcionar até o fim do mês, ou em junho. A ver, quando, como e a que preço.


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