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SALÁRIO PETISTA
Ministro negociou apoio de Sarney em troca de empenho a favor da reeleição dele e do presidente da Câmara
Vitória deve devolver articulação a Dirceu
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A vitória do governo na Câmara
dos Deputados, capitaneada pelo
presidente da Casa, João Paulo
Cunha (PT-SP), abre espaço para
a volta da emenda constitucional
que permitiria a reeleição dele e
do presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP). E cai como
uma luva nos planos do ministro
José Dirceu (Casa Civil) de retomar a articulação política.
Dirceu, em conversa com Sarney anteontem à tarde no Senado,
prometeu empenho para o governo aprovar a emenda da reeleição
no Congresso. Para tanto, pediu
um sinal de boa vontade. Não deu
outra. O grupo de deputados ligados a Sarney votou a favor do mínimo de R$ 260.
Foi o contrário do que fizeram
os senadores ligados ao peemedebista. Interessado em retaliar o
governo federal por não ter apoiado a primeira tentativa de aprovar
a emenda da reeleição, o presidente do Senado deixou senadores ligados a ele votarem pelo mínimo de R$ 275, contra o governo.
Dirceu pediu "calma" a Sarney
para reapresentar a emenda da
reeleição. O presidente Lula deverá apoiá-la, como preço para apaziguar sua base congressual. A
emenda original, já que um substitutivo foi rejeitado na Câmara,
seria apreciada na Casa. No Senado, seria modificada e retornaria à
Câmara. Nas três etapas, a aprovação da emenda exige dois turnos em cada Casa e apoio mínimo
de 308 dos 513 deputados federais
e de 49 dos 81 senadores (três
quintos dos parlamentares).
A "calma" pedida por Dirceu é
tempo para Lula fazer rearranjo
de poder. O mais provável é nova
reforma ministerial após as eleições municipais de outubro. Até
lá, costuraria compensações aos
ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e José Viegas (Defesa) e ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).
O ministro da Casa Civil se enfraqueceu depois que foi revelado
o caso Waldomiro Diniz. Ex-braço direito de Dirceu, ele foi flagrado em fita de vídeo de 2002 pedindo propina a um empresário do
ramo de jogos. Na época, presidia
a Loterj (Loteria do Estado do Rio
de Janeiro). O escândalo veio à tona em fevereiro último, e Waldomiro foi exonerado "a pedido".
Dirceu jogou duro
Duas semanas atrás, Lula tendia
a trocar Viegas por Aldo, devolvendo a Dirceu a articulação política. Mas o vazamento da operação a adiou.
História: no último dia 8, em
conversa a sós com Lula, Dirceu
reclamou que estava sendo "sacaneado" por setores do governo.
Ameaçou deixar o cargo para presidir a Câmara dos Deputados a
partir de fevereiro de 2005.
Como Lula não deseja que Dirceu vá contrariado para a Câmara, prometeu devolver-lhe a articulação política -atribuição perdida na reforma ministerial de janeiro. Com Aldo na Defesa, Viegas ganharia uma embaixada.
Lula gosta de Aldo, mas a cúpula do PT, controlada por Dirceu,
quer retomar a articulação política (leia-se emendas e cargos). Isso
interessa a Sarney e a outros líderes, como o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que elegeram Dirceu seu grande interlocutor com o governo.
Lula deverá compensar Renan,
que cobra o cumprimento de um
acordo pelo qual sucederia Sarney a partir de fevereiro de 2005.
O mais provável é Renan virar ministro ou indicar um.
Alternativa: a nova e distante
promessa de ele presidir o Senado
no caso de o presidente se reeleger
em 2006.
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