São Paulo, quarta, 24 de junho de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Mendonça de Barros lança suspeita sobre vendas em Ribeirão e Londrina
Ministro acusa PT e PDT de oferecer teles por preço "vil'

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, atacou ontem duramente o PT e o PDT em resposta às críticas recebidas nas últimas semanas sobre a privatização das empresas do sistema Telebrás.
Para ele, prefeitos do PT e do PDT venderam parte do controle de empresas municipais de telecomunicações por preço "vil".
De acordo com números apresentados por Mendonça de Barros, a prefeitura petista de Ribeirão Preto (SP) e a pedetista de Londrina (PR) venderam suas telefônicas por um preço que ficou, proporcionalmente, abaixo do valor mínimo que o governo pedirá no leilão de venda da Telesp.
A comparação feita por Mendonça de Barros usa o valor mínimo por linha telefônica instalada (telefones fixos e celulares) que o governo está exigindo na venda da Telesp. Esse valor é de R$ 4.769.
Em Ribeirão Preto, em 96, o então prefeito e hoje presidente do PT paulista, Antônio Palocci, vendeu 46,3% do capital da empresa local de telefones, a Ceterp. Cobrou R$ 10,10 por lote de mil ações.
Pelas contas do Ministério das Comunicações, o preço de Palocci equivale a R$ 784 por linha instalada da Ceterp. Ou seja, 16,4% daquilo que o governo pede como preço mínimo por linha telefônica da Telesp.
"Eu não costumo fazer ilações ou comentários. Mas, se vocês forem ver, a venda foi em 96, ano de eleição. Ele (Palocci) tentava eleger o seu sucessor", disse o ministro. O petista não emplacou seu candidato, perdendo para o PSDB.
Indagado se estava sugerindo que o petista teria usado o processo de venda da Ceterp para fazer caixa-dois durante a campanha eleitoral, Mendonça de Barros respondeu de forma evasiva: "Eu não tenho essa leviandade. Estou querendo empatar o jogo. Estou querendo trazer fatos".
No caso de Londrina, a diferença de preço em relação à Telesp foi menor, segundo o ministro.
O prefeito de Londrina, Antonio Belinatti (PDT), vendeu em abril passado 45% das ações da Sercomtel numa operação em que o preço da linha instalada da empresa saiu por R$ 2.890. Isso equivale a 60,6% do preço mínimo exigido pelo governo na Telesp.

Ataque preparado
Mendonça de Barros convocou a imprensa ontem especialmente para fazer essas declarações sobre o PT e o PDT. Iniciou a entrevista com uma exposição de uma hora sobre a venda da Telebrás, sem acrescentar nada de novo em relação ao divulgado até agora. Mas deu um aviso: "Vou guardar um fato político de extraordinária importância para o final".
O único ataque pessoal foi contra Leonel Brizola, presidente do PDT. "É mentiroso", disse o ministro, que continua irritado com as acusações do pedetista -que considera baixo o preço mínimo da Telebrás.
A maior crítica, entretanto, foi desferida contra o PT. "Como é que um partido pode fazer as acusações que faz contra o preço fixado para a Telesp? Um membro da cúpula desse partido vendeu as ações de uma empresa de telecomunicações -com um preço vil, também num ano de eleição- por 16% do preço mínimo da Telesp", afirmou o ministro.
Inflamado, Mendonça de Barros chegou a lembrar o comportamento do seu antecessor nas Comunicações, Sérgio Motta, que morreu em abril passado. Motta sempre rechaçava com vigor qualquer crítica à sua gestão.
Depois de apresentar os dados sobre Ribeirão Preto e Londrina, o ministro disse que o PT "não tem legitimidade" para criticar a venda da Telebrás: "Eles ficam querendo fazer auditoria. Eu acho que eles deveriam fazer auditoria na Prefeitura de Ribeirão Preto".
Mendonça de Barros também afirmou que a venda da Ceterp em Ribeirão Preto teria sido ilegal: "(Palocci) vendeu ilegalmente porque as empresas que compraram esses 46% ganharam um direito de preferência no leilão de privatização. E isso é ilegal pela lei 8.666, que regula as licitações".
Com suas acusações de ontem, o ministro acredita que poderá acuar o PT e o PDT. Hoje, ele vai à Câmara para debater o processo de venda da Telebrás.
"Me parece muito estranho que os dois partidos (PT e PDT) que lideraram esse processo de acusação contra o preço da Telebrás tenham nos seus quadros pessoas importantes que tenham feito vendas estranhíssimas."
Ele disse que a data do leilão da Telebrás, 29 de julho, está mantida. Sobre a pesquisa Datafolha, divulgada domingo, revelando que 51% dos paulistanos se opõem à privatização da estatal, disse que isso não impedirá o governo de continuar com o processo.



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