São Paulo, Quinta-feira, 24 de Junho de 1999
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BASE ALIADA
Ministro envia carta a líder do governo no Senado e esclarece declaração sobre gasto com ciência no Nordeste
Bresser diz ter sido "mal interpretado"

da Sucursal de Brasília

O ministro da Ciência e Tecnologia, Luiz Carlos Bresser Pereira, atribuiu ontem a "critérios de excelência científica" -e não a preconceito contra nordestinos- o fato de o governo federal ter um gasto menor em ciência e tecnologia no Nordeste.
As declarações do ministro a uma publicação da SPBC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) provocaram críticas no meio científico.
Elas também geraram ainda uma ameaça do líder do governo no Senado e presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Fernando Bezerra (PMDB-RN), de se afastar do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
O conselho é um órgão presidido pelo presidente da República, composto por vários ministros de Estado e encarregado de definir diretrizes para a política de ciência e tecnologia no país, que tem como uma das prioridades reduzir os desequilíbrios regionais.
Por sua repercussão negativa, as declarações supostamente "antinordestinas" de Bresser quase se transformaram em mais uma crise política no governo.
Em carta a Bezerra, o ministro disse que foi "mal interpretado": "Jamais disse que garantir apoio a pesquisadores do Nordeste seria jogar dinheiro fora, ou tirar dos competentes para dar aos incompetentes", escreveu o ministro.

Sem mudanças
Na carta, Bresser insiste em que o fato de o Nordeste receber menos bolsas de pesquisa não é um problema que possa ser resolvido mediante o estabelecimento de quotas para cada região do país.
O Nordeste recebe atualmente 14% das bolsas distribuídas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, embora detenha 28,5% da população do país.
Em nota distribuída a pesquisadores nordestinos, o ministro reconhece o problema e explica sua causa: a desproporção deve-se, segundo Bresser, ao fato de o governo distribuir as bolsas "de acordo com a qualidade dos projetos" apresentados pelos pesquisadores.
A qualidade dos projetos é julgada por comitês integrados por cientistas, inclusive nordestinos, insistiu o ministro.
Mudar o sistema atualmente em vigor, disse Bresser, seria empregar mal o dinheiro público: "A solução mais geral é conhecida por todos nós. É desenvolver mais o Nordeste, realizar investimentos maciços em educação".
Bresser sustenta que o investimento em bolsas de estudo e pesquisa no Nordeste cresceu 10% desde o início do governo Fernando Henrique Cardoso.
Nesse mesmo período, caíram os investimentos feitos no Sudeste (29%) e no Sul (17%).
"Algumas pessoas têm dito que sou elitista, que manifestei preconceito em relação ao Nordeste. Nada mais longe de mim do que isso", afirmou o ministro no pedido de desculpas ao líder do governo no Senado. Diante dos esclarecimentos de Bresser, Fernando Bezerra permanecerá no conselho.


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