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INVESTIGAÇÃO
Codesp apura supostas irregularidades em 50 acordos de arrendamentos e prestação de serviços em Santos
Contratos de porto paulista são revisados
FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Santos
A Codesp (Companhia Docas do
Estado de São Paulo) está revisando 50 contratos de arrendamento
de áreas e de prestação de serviços
no porto de Santos (SP).
A finalidade é apurar eventuais
irregularidades ou identificar contratos economicamente defasados
e desvantajosos. Nesse caso, o objetivo da empresa é renegociá-los.
A decisão foi tomada pelo diretor-presidente da Codesp, Wagner
Rossi, na semana passada, dias antes da troca de acusações que envolveu o porto entre os presidentes
do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), responsável por nomeações na empresa.
""Quando fui nomeado, vim com
a recomendação do partido para
consertar o que estivesse errado.
Mas não há neste momento qualquer ato em relação às administrações anteriores", disse Rossi, ex-deputado federal do PMDB, que
assumiu o cargo em abril.
Segundo Rossi, dos 50 contratos,
estão sendo priorizados os que foram alvo de denúncia por políticos
de Santos e pelo CAP (Conselho de
Autoridade Portuária), que regulamenta as atividades do porto.
Dois desses contratos já estão
sob investigação da Procuradoria
Geral da República em Santos e
outro é objeto de avaliação do Tribunal de Contas de União.
O promotor Gustavo Pessanha
Velloso apura denúncia do CAP a
respeito de uma dívida da empresa
Boa Vista com a Codesp que somaria R$ 9,3 milhões, dos quais teriam sido cobrados somente R$ 2,1
milhões, por conta de um acordo.
A dívida resultou de um contrato
pelo qual a Boa Vista utilizou durante cinco anos (de 1993 a 1998),
pagando tarifa especial, uma faixa
de cais para o navio-fábrica Heraclis Spirit produzir cimento.
O contrato exigia movimentação
mínima de 300 mil toneladas de cimento por ano, o que não ocorreu.
Assim, a Boa Vista teria de pagar a
diferença entre tarifas à Codesp.
Segundo o promotor Velloso, a
investigação está em fase preliminar. Ele disse que poderá solicitar
perícia no contrato para saber se os
valores exibidos estão corretos.
""Esse acordo é completamente
alheio a qualquer procedimento
administrativo. Não há nenhuma
base legal para se conceder o perdão de uma dívida", afirma Rubens Fortes Antonio, ex-diretor da
Codesp e representante dos trabalhadores no CAP.
Outro caso foi denunciado ao
Ministério Público Federal pelo
vereador Fausto Figueira de Mello
Júnior (PT). Segundo ele, alterações após as assinaturas de contratos de arrendamento de dois armazéns à empresa Libra geraram prejuízo de R$ 32,6 milhões à Codesp.
As obras de infra-estrutura do
Tecon 2 (Terminal de Contêineres
2), que será privatizado, também
se encontram sob suspeita. Em 15
de abril, foram embargadas pelo
Tribunal de Contas da União.
Desde 1988, o contrato firmado
com a construtora Andrade Gutierrez para a realização da obra já
sofreu nove aditivos, que fizeram o
preço original saltar de R$ 120 milhões para R$ 295,1 milhões.
De acordo com a lei federal que
regulamenta as licitações, o preço
original não pode sofrer acréscimo
superior a 25%. Nessa hipótese, a
lei exige a abertura de novo processo licitatório -o que deverá
ocorrer se, após a decisão final do
TCU, a obra seja retomada.
Outro lado
O ex-diretor-presidente da Codesp Paulo Fernandes do Carmo
não quis se pronunciar sobre supostas irregularidades cometidas
durante sua gestão.
Na representação encaminhada
ao Ministério Público pelo vereador Mello sobre o contrato com a
empresa Libra, Carmo é acusado
de improbidade administrativa
(má gestão pública). Ele também
assinou o acordo com a Boa Vista.
""Procure o doutor Wagner Rossi
e o Departamento Jurídico da Codesp. Sobre esse assunto, não tenho nada a declarar", disse Carmo.
Procurada pela Agência Folha, a
Libra, do Rio de Janeiro, informou,
por meio de sua assessoria, que
não se manifestaria. Uma mensagem eletrônica diz que os telefones
da Boa Vista em Santos estão temporariamente fora de serviço.
A assessoria de imprensa da Andrade Gutierrez, de Belo Horizonte, informou que a empresa se encontra impedida, em razão de
cláusula contratual, de se manifestar sobre as obras do Tecon 2.
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