São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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Lobby norte-americano buscou "energizar" autoridades brasileiras

DE WASHINGTON

Os EUA empregaram desde o presidente Bill Clinton à mais modesta diplomata do consulado no Rio para vencer o Sivam em 1994 e impedir que diversos escândalos enterrassem o projeto até sua assinatura definitiva, em 14 de março de 1997.
Nesse período, executivos da Raytheon e autoridades do Departamento de Comércio dos EUA reclamaram da lentidão do governo Fernando Henrique Cardoso e do Congresso brasileiro. Enquanto isso, pressionavam o presidente FHC, ministros e congressistas para manter o projeto vivo. Segundo visão recorrente dos americanos, instituições brasileiras precisavam ser "energizadas" para saírem do lugar.
As pressões começaram em 1994, ano em que se iniciou o processo de seleção da empresa fornecedora do sistema. A pedido da Raytheon, viajaram ao Brasil para tratar do assunto o ex-secretário de Comércio dos EUA Ron Brown (morto num acidente aéreo na Croácia em 1996) e Jeffrey Garden, subsecretário para comércio internacional. Além disso, o presidente Clinton enviou cartas ao presidente Itamar Franco e a lideranças no Congresso.

Suspensão do contrato
O maior problema para os americanos surgiu em maio de 1995, quando a empresa brasileira Esca foi removida do contrato devido à constatação de que fraudara certidões do INSS. A Esca acabou sendo removida e, em virtude disso, a assinatura do contrato foi suspensa pelo governo brasileiro, que cogitou a extinção do contrato.
No dia 11 de julho de 1995, a diplomata Da-Jalane Pribyl enviou um ofício ao cônsul dos EUA no Rio relatando esforços da Raytheon para evitar a morte do Sivam. Entre esses esforços estava a visita ao Palácio do Planalto de Thomas McLarty, enviado especial de Clinton para a América Latina. "Infelizmente, leva esse nível de esforço para manter as coisas andando dentro do governo brasileiro", disse Ernest Jackson, executivo da Raytheon, em 14 de julho de 1995, referindo-se à visita.
Num e-mail datado do dia 11 de julho de 1995, a diplomata norte-americana Dar-Jalane Pribyl relata da seguinte maneira a presença de executivos da Raytheon em Brasília.
"Atualização do Sivam: nenhuma negativa no governo brasileiro. Raytheon tem hoje três executivos corporativos em Brasília só para "energizar" o ministro da Aeronáutica e o secretário (ministro de Assuntos Estratégicos). Eles estarão amanhã no Rio e eu me encontrarei com eles também. Do nosso lado, está tudo OK", diz Dar-Jalane Pribyl no e-mail.
(MARCIO AITH)



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