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VERSÕES
Familiares de Eduardo Jorge acham que ele cometeu um erro "menor"
Depoimentos divergentes
atrapalham situação de EJ
ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL
Familiares do ex-secretário-geral da Presidência da República
Eduardo Jorge Caldas Pereira,
que conversaram com ele depois
do depoimento dos juízes do TRT
paulista à subcomissão do Senado
anteontem, sustentam que EJ cometeu um erro factual "menor"
em suas declarações aos parlamentares, mas que "no geral as
versões são compatíveis".
De acordo com o ex-presidente
do TRT Rubens Tavares Aidar, o
juiz Nicolau dos Santos Neto, o
Lalau, não estava presente na audiência concedida a ele, Aidar,
por EJ no Palácio do Planalto no
dia 2 de fevereiro de 1995, ao contrário do que declarou o ex-ministro no Senado. Os parentes de
EJ confirmam que o ex-ministro
se equivocou e que de fato Nicolau não fez parte da curta reunião.
No entanto, ressaltam, Aidar
confirma um encontro com EJ no
Aeroporto de Congonhas, em São
Paulo, no qual Nicolau sim estava
presente. Confirma também que
nesse encontro, rápido, assim como teria sido o do Planalto, foi
discutida a preocupação do governo com o papel da Justiça trabalhista na estabilidade do Real.
Há, contudo, pelo menos dois
pontos nebulosos quanto ao encontro do aeroporto. Quando ele
teria ocorrido (o juiz afirmou não
lembrar-se) e quem o teria solicitado. Para Aidar, Nicolau teria sido o intermediário de um desejo
de EJ de encontrar-se com Aidar.
Para EJ, segundo seus familiares,
Nicolau teria transmitido o desejo
de Aidar encontrar-se com EJ.
A questão de quem queria encontrar quem é importante porque pode ajudar a esclarecer o
ponto seguinte: se Aidar assentiu,
implícita ou explicitamente, com
o papel de Lalau como interlocutor do TRT junto a EJ ou não. No
depoimento à subcomissão, EJ
disse: "Concordamos que, como
o juiz Nicolau vinha com frequência a Brasília, ele seria o interlocutor do TRT junto a mim". Aidar,
no depoimento perante a subcomissão, negou ter indicado Lalau
para qualquer interlocução: "Não
dei ao juiz Nicolau nenhum credenciamento como interlocutor,
representante ou qualquer nome
que possa ter sido dado por mim
junto à Presidência da República
ou a algum ato".
Os parentes de EJ dizem que, segundo o ex-secretário, o papel de
interlocutor de Nicolau é evidente
até pelo fato de ter sido ele o intermediário do encontro em Congonhas. Insistem em que Nicolau, de
acordo com o depoimento do
atual presidente do TRT, Floriano
Vaz da Silva, ter uma tendência à
megalomania que o fazia tentar
estar próximo (ou mesmo fingir
estar próximo) de autoridades. Isso explicaria também a mais de
centena de telefonemas de Lalau
para EJ.
Uma "prova" de que o papel de
interlocutor assumido por Lalau
teria sido aceito por Aidar, segundo parentes muito próximos de
EJ, está no fato de que ele, Aidar,
nunca mais teria procurado EJ
para discutir assuntos relativos à
Justiça trabalhista, como o problema de seu poder normativo.
Por isso fica importante saber se o
encontro do aeroporto foi anterior ou posterior à audiência do
Planalto, no qual justamente o tema do poder normativo da Justiça
trabalhista teria sido o assunto
central.
O papel de "intermediador" de
Nicolau, de acordo com o que disse EJ a seus familiares, está, além
do mais, explicitado no depoimento de Aidar quando ele afirma que "o juiz Nicolau e a Comissão de obras eram justamente as
responsáveis, por delegação do
tribunal, pelo trabalho que o juiz
Moro definiu como lobby".
Nesse papel, Lalau teria que falar, em nome do tribunal do autoridades de Brasília, o que era aceito e respaldado por seus colegas.
Aqui entram outra vez em cena as
malditas coincidências -se é que
são isso mesmo. Os parentes de EJ
alegam que, embora essa fosse a
principal função de Lalau, o assunto não foi abordado no encontro do aeroporto, o único que Aidar e EJ confirmam. Teria havido,
então, uma comédia de erros. Para Aidar, estaria claro que EJ aceitava Nicolau como intermediário
para a questão das verbas. Para EJ,
Aidar concordava que Nicolau seria o interlocutor para os assuntos
que Aidar teria querido tratar
com ele e ele com o TRT: o poder
normativo da Justiça do Trabalho
e a estabilidade do Plano Real.
Onde está a verdade? Muita água
ainda vai correr debaixo dessa
ponte até que a trama se esclareça.
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