São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VERSÕES
Familiares de Eduardo Jorge acham que ele cometeu um erro "menor"
Depoimentos divergentes atrapalham situação de EJ

ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL

Familiares do ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira, que conversaram com ele depois do depoimento dos juízes do TRT paulista à subcomissão do Senado anteontem, sustentam que EJ cometeu um erro factual "menor" em suas declarações aos parlamentares, mas que "no geral as versões são compatíveis".
De acordo com o ex-presidente do TRT Rubens Tavares Aidar, o juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, não estava presente na audiência concedida a ele, Aidar, por EJ no Palácio do Planalto no dia 2 de fevereiro de 1995, ao contrário do que declarou o ex-ministro no Senado. Os parentes de EJ confirmam que o ex-ministro se equivocou e que de fato Nicolau não fez parte da curta reunião.
No entanto, ressaltam, Aidar confirma um encontro com EJ no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no qual Nicolau sim estava presente. Confirma também que nesse encontro, rápido, assim como teria sido o do Planalto, foi discutida a preocupação do governo com o papel da Justiça trabalhista na estabilidade do Real.
Há, contudo, pelo menos dois pontos nebulosos quanto ao encontro do aeroporto. Quando ele teria ocorrido (o juiz afirmou não lembrar-se) e quem o teria solicitado. Para Aidar, Nicolau teria sido o intermediário de um desejo de EJ de encontrar-se com Aidar. Para EJ, segundo seus familiares, Nicolau teria transmitido o desejo de Aidar encontrar-se com EJ.
A questão de quem queria encontrar quem é importante porque pode ajudar a esclarecer o ponto seguinte: se Aidar assentiu, implícita ou explicitamente, com o papel de Lalau como interlocutor do TRT junto a EJ ou não. No depoimento à subcomissão, EJ disse: "Concordamos que, como o juiz Nicolau vinha com frequência a Brasília, ele seria o interlocutor do TRT junto a mim". Aidar, no depoimento perante a subcomissão, negou ter indicado Lalau para qualquer interlocução: "Não dei ao juiz Nicolau nenhum credenciamento como interlocutor, representante ou qualquer nome que possa ter sido dado por mim junto à Presidência da República ou a algum ato".
Os parentes de EJ dizem que, segundo o ex-secretário, o papel de interlocutor de Nicolau é evidente até pelo fato de ter sido ele o intermediário do encontro em Congonhas. Insistem em que Nicolau, de acordo com o depoimento do atual presidente do TRT, Floriano Vaz da Silva, ter uma tendência à megalomania que o fazia tentar estar próximo (ou mesmo fingir estar próximo) de autoridades. Isso explicaria também a mais de centena de telefonemas de Lalau para EJ.
Uma "prova" de que o papel de interlocutor assumido por Lalau teria sido aceito por Aidar, segundo parentes muito próximos de EJ, está no fato de que ele, Aidar, nunca mais teria procurado EJ para discutir assuntos relativos à Justiça trabalhista, como o problema de seu poder normativo. Por isso fica importante saber se o encontro do aeroporto foi anterior ou posterior à audiência do Planalto, no qual justamente o tema do poder normativo da Justiça trabalhista teria sido o assunto central.
O papel de "intermediador" de Nicolau, de acordo com o que disse EJ a seus familiares, está, além do mais, explicitado no depoimento de Aidar quando ele afirma que "o juiz Nicolau e a Comissão de obras eram justamente as responsáveis, por delegação do tribunal, pelo trabalho que o juiz Moro definiu como lobby".
Nesse papel, Lalau teria que falar, em nome do tribunal do autoridades de Brasília, o que era aceito e respaldado por seus colegas. Aqui entram outra vez em cena as malditas coincidências -se é que são isso mesmo. Os parentes de EJ alegam que, embora essa fosse a principal função de Lalau, o assunto não foi abordado no encontro do aeroporto, o único que Aidar e EJ confirmam. Teria havido, então, uma comédia de erros. Para Aidar, estaria claro que EJ aceitava Nicolau como intermediário para a questão das verbas. Para EJ, Aidar concordava que Nicolau seria o interlocutor para os assuntos que Aidar teria querido tratar com ele e ele com o TRT: o poder normativo da Justiça do Trabalho e a estabilidade do Plano Real. Onde está a verdade? Muita água ainda vai correr debaixo dessa ponte até que a trama se esclareça.



Texto Anterior: Celso Pinto: O terreno perdido nas exportações
Próximo Texto: Integração: Ministro amplia verba para Norte e Nordeste
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.