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CORUMBIARA
Ministério Público diz que seus integrantes não devem externar suas posições ideológicas nem criticar colegas
Procuradoria afasta promotor do caso
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA
O Conselho Superior do Ministério Público de Rondônia decidiu ontem afastar o promotor
Tarcísio Leite Matos do julgamento dos réus acusados de participação no massacre de Corumbiara, ocorrido há cinco anos.
Além do afastamento, foi pedido ao Tribunal de Justiça do Estado a anulação do julgamento que
absolveu, a pedido da promotoria, dois oficiais da Polícia Militar
de Rondônia acusados de participar nos assassinatos de três dos
dez sem-terra mortos.
A decisão do Ministério Público
de afastar o promotor Matos não
tem relação direta com o fato de
ele ter pedido a absolvição dos
réus (o capitão José Hélio Cysneiros Pachá e o tenente Mauro Ronaldo Flores Corrêa), segundo o
procurador-geral de Justiça de
Rondônia, José Viana Alves.
"Não foi contestado o fato de ele
pedir a absolvição: ele tem liberdade para trabalhar. O afastamento é porque a instituição (Ministério Público) não concorda
com as atitudes tomadas pelo
promotor durante o julgamento:
externar sua posição ideológica
com relação aos sem-terra, criticar o Ministério Público e os promotores que participaram do caso, criticar outras instituições e
pessoas", afirmou.
Durante a sua fala no 1º Tribunal do Júri de Porto Velho, Matos
atacou duramente o movimento
dos sem-terra e os movimentos
sociais que apóiam os trabalhadores rurais, como a Igreja Católica.
Por extensão, o promotor criticou também o governo por permitir as ações dos movimentos de
lavradores sem terra. Segundo ele,
o governo nada faz para impedi-los. Ele concluiu: "Ou o Brasil acaba com os sem-terra ou os sem-terra acabam com o Brasil".
A atitude do promotor foi motivo de muitos protestos, especialmente das entidades que estão
reunidas no Fórum em Defesa das
Vítimas de Corumbiara, criado
para acompanhar o processo e
cobrar empenho do Ministério
Público e das autoridades policiais na condenação dos responsáveis pelos assassinatos de dez
sem-terra durante o confronto armado com a PM -dois policiais
também foram mortos.
Fazem parte do Fórum entidades sindicais, como a CUT, partidos políticos de esquerda e outros
movimentos sociais, como a CPT
(Comissão Pastoral da Terra).
Os bispos de Rondônia, por
meio de um documento protocolado na noite de anteontem na
Procuradoria Geral de Justiça, pediram o afastamento do promotor e a anulação do julgamento.
Os bispos, entre eles o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) Norte 1,
d. José Maria Pinheiro, afirmaram
que o promotor deixou de lado "a
defesa da inviolabilidade dos direitos humanos para favorecer a
impunidade dos executores dessa
terrível e vergonhosa chacina".
O pedido de anulação do julgamento foi assumido pelo procurador-geral de Justiça. Alves alega
que o júri "não teve o direito de
conhecer todas as provas para
que eles tomassem a decisão de
condenar ou absolver": "Os jurados ficaram sem esclarecimentos.
O promotor dispensou também
as testemunhas de acusação".
Matos atuaria também no julgamento dos dois sem-terra responsabilizados pelas mortes dos policiais. O promotor Tarcísio Matos
não se pronunciou sobre o seu
afastamento. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público, Matos tem adotado o silêncio desde que assumiu o caso. Ele
não foi localizado após a divulgação do afastamento.
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