São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2000


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NA TV
Lógica eleitoral trabalha para que tudo continue igual

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DO PAINEL

Apesar de Pitta e sua camarilha, nada ou muito pouco deve mudar na composição e nos costumes da Câmara Municipal de São Paulo depois de outubro. Apesar de todos os esforços, meritórios, pelo "voto consciente", seja lá o que isso signifique, a lógica eleitoral trabalha a favor da inércia, para que tudo continue como antes. Nunca, na história de São Paulo, a eleição para vereadores esteve cercada de tanta visibilidade, mas, mesmo entre a elite letrada e informada, deve-se duvidar que cada pessoa saiba citar de cor o nome de mais de dois ou três candidatos ou mesmo de atuais ocupantes da Câmara Municipal.
O horário gratuito na TV reservado aos candidatos ao Legislativo é, na melhor das hipóteses, inócuo. Não serve para rigorosamente nada. Perde-se tempo e paciência diante de um espetáculo de tédio, desinformação e estupidez. Há grande dose de humor involuntário na sisudez e seriedade com que alguns notórios farsantes se apresentam aos telespectadores repetindo platitudes sobre ética e moralidade.
Se há algo pedagógico nesses programas é o fato de nos colocarem em contato com a miséria daqueles que buscam uma vaga onde supostamente deveriam formular políticas públicas e pensar soluções para a cidade.
Não há, certamente, solução simples para tornar a eleição a vereador menos opaca do que é hoje. A legislação, no entanto, tão ciosa e atenta na hora de defender interesses contrariados de candidatos, parece cega para o problema estrutural da baixa representatividade democrática do processo eleitoral. Há uma inversão de valores: a legislação deveria funcionar para defender o eleitor dos candidatos e não o contrário. Tal como existe hoje, a campanha para vereadores na TV não é muito diferente daquela que era permitida sob a Lei Falcão. A quem interessa que as coisas se passem dessa maneira é um problema a ser discutido.
  É tão frustrante quanto previsível o segundo cancelamento do debate entre os prefeituráveis na Rede Bandeirantes. Pode-se pensar o que quiser de Marcos Cintra (PL), que obteve na Justiça a suspensão do encontro, mas nesse ponto ele está coberto de razão.
Fernando Collor (PRTB) pode ser um prato cheio para atrair audiência, mas não há como justificar a presença no debate de um candidato cujo partido é uma miragem sem representação no Congresso e a ausência de outros, cujas siglas têm assento na Câmara. É avacalhação democrática.
É muito ruim, porém, que a pouco mais de um mês para a eleição, a corrida eleitoral tenha se restringido até agora ao horário gratuito na TV. Debates entre os candidatos deveriam ser obrigatórios. Seria uma maneira de minimizar o dano que a publicidade, uma vez que tomou conta das campanhas políticas, impinge à vida democrática.
A maior parte das promessas que os atuais postulantes à prefeitura fazem não resiste ao confronto ou à inquirição jornalística. Também nesse aspecto a eleição paulistana vai se transformando num caso de polícia.



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