São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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RIO GRANDE DO SUL

Comissão apontou ilegalidade na compra de incineradores

Documentos da CPI do Lixo somem em Porto Alegre

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Cinco caixotes contendo os documentos mais importantes de uma CPI na Câmara de Porto Alegre aberta em 1990 que investigou a compra de incineradores de lixo desapareceram misteriosamente do Legislativo.
A Prefeitura de Porto Alegre comprou os equipamentos sem licitação por cerca de US$ 150 mil na época (71% pagos à vista), e eles nunca foram utilizados.
O deputado estadual e ex-vereador Vieira da Cunha (PDT), que presidiu a CPI, conta que a conclusão definia o ato como "ilegal" e "imoral". O prefeito era o atual governador Olívio Dutra (PT), e Vieira foi relator da CPI da Segurança Pública na Assembléia gaúcha -que tratou de supostos vínculos do PT com bicheiros.
O vereador Antônio Hohfeldt (PSDB) pediu à mesa diretora da Câmara que seja esclarecido o paradeiro dos documentos. Até ontem, não havia respostas.
A última notícia que se tem deles é a de que o vereador Nereu D'ávila (PDT) os pegou. D'ávila, um tradicional adversário do PT, diz, porém, que os devolveu.
Ervino Besson, vereador do PDT que integrou a CPI, fala em "abafamento" do caso. "Não sei que desfecho teve esse caso, na época. Foi abafado, não sei como, mas foi abafado", disse.
O promotor da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público Alceu Moraes não localizou o processo no Ministério Público Estadual -seria o destino natural do resultado dessa CPI.
O agrônomo Sebastião Pinheiro, que acompanhou todo o caso na época, disse que denunciou o caso e faria a mesma coisa hoje. "Era um escândalo", conta.
Para Pinheiro, o caso, levado ao Ministério Público, foi arquivado há seis anos, sob a alegação de que a compra não era ilícita. "Disseram não haver ilicitude porque um decreto de calamidade justificava a compra, mas a ilicitude estaria no próprio decreto", diz.
A história da compra de trituradores ocorreu quando a prefeitura, por intermédio do DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) contratou a empresa paulista SPA (Sistema de Proteção Ambiental) para consultoria na área de aterros sanitários. A contratação ocorreu sem licitação, com pagamentos efetivados durante quase dois anos.
Posteriormente, a SPA, por meio de decreto de calamidade pública, vendeu para a prefeitura dois incineradores (um para 30 toneladas ao dia e outro para 20 toneladas ao dia) com verbas do Ministério da Saúde, de hospitais, da Secretaria da Saúde do Estado e da Associação de Moradores de Porto Alegre. Vereadores de oposição dizem que o representante da empresa, Luiz Mário Queiroz Lima, era vinculado ao PT.


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