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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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Multinacionais apóiam projeto de integração

DO COLUNISTA DA FOLHA

Um fator que tende a facilitar o projeto integracionista é o que Fernando Sarti, pesquisador da Unicamp, chama de "convergência de interesses entre o governo e as empresas", em especial as grandes multinacionais.
Explica Sarti que as filiais das empresas estrangeiras e mesmo algumas firmas nacionais fazem uma divisão regional do trabalho, o que lhes dá "forte e crescente participação na pauta de comércio exterior". Dados do Banco Central, segundo Sarti, mostram que 60% a 70% do comércio é intrafirmas. "Procurar agilizar e fortalecer esses fluxos de comércio e de investimento nada mais é que sancionar esse padrão", conclui o pesquisador da Unicamp.
Coincide, ao menos em parte, com avaliações obtidas pela Folha em áreas empresariais. Sandra Rios, por exemplo, especialista em comércio internacional da CNI (Confederação Nacional da Indústria), conta que os setores exportadores, em particular os industriais, têm manifestado muito interesse pelos países andinos.
Com certeza eles apoiariam investimentos em infra-estrutura, um dos três capítulos em que se desdobra o projeto de integração. Os outros são: financiamento ao comércio, tema que divide o empresariado, e montagem de arranjos produtivos regionais, de forma a dar escala a setores produtivos, não só com vista ao mercado regional, mas também para exportar para além da região.

Mercado pequeno
Discorda, no entanto, Roberto Teixeira da Costa, presidente do escritório paulista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e um dos empresários de maior quilometragem rodada nas estradas das discussões globais e regionais: "Os mercados andinos são pequenos. Interessam apenas a nichos de negócios". Cita o caso da fabricante de carrocerias Marcopolo, que já ocupa, há anos, posição relevante nesse mercado e também no centro-americano.
Igualmente cético é Alfredo Valladão, responsável pela cátedra Mercosul da Sciences Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris: "Não é o mercado andino que vai mudar a face do comércio exterior brasileiro".
Obstáculo à integração tão ou talvez mais importante do que o pequeno tamanho do mercado andino é a carência de infra-estrutura física. Para começar a enfrentá-la, o BNDES reuniu, no Rio, há três semanas, representantes de 12 países, que listaram, cada um, seus dois projetos prioritários.
No total, custarão entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5 bilhões, financiados parcialmente (entre 40% e 70%) pelo próprio banco brasileiro e também pela CAF (Corporação Andina de Fomento, uma espécie de BNDES dos Andes).
Se der certo, começa a ser superado o obstáculo apontado por Brad Setser, o pesquisador norte-americano que faz comparações entre a integração européia e a sul-americana: "Os Andes e a região amazônica são um fator de divisão muito maior do que qualquer coisa que a Europa tenha enfrentado". (CLÓVIS ROSSI)


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