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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIMENTO
Ex-assessor de Dirceu confirma ter discutido campanhas eleitorais com o publicitário
Sereno e Valério negociavam eleições no próprio Planalto
Sérgio Lima/Folha Imagem
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Marcelo Sereno, ex-assessor especial do então ministro José Dirceu (Casa Civil), presta depoimento à CPI dos Bingos, no Senado |
HUDSON CORRÊA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Marcelo Sereno, ex-assessor do
ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu, disse ontem em depoimento à CPI dos Bingos que se
reuniu com o empresário Marcos
Valério Fernandes de Souza no
Palácio do Planalto para tratar de
campanhas eleitorais.
Os encontros, segundo Sereno,
ocorreram "no fim de 2003 e início de 2004", quando ele era chefe
da assessoria especial do ministro: "Duas ou três vezes, ele [Valério] foi me procurar no Palácio do
Planalto e eu conversei sobre
campanha eleitoral [do Rio de Janeiro]. Ele queria que a empresa
de marketing dele ganhasse mais
fácil [contas de campanhas]".
"O sr. tratava de campanha no
Palácio do Planalto, na hora de
trabalho, onde era pago com dinheiro público?", questionou o
senador Leonel Pavan (PSDB-SC). Sereno respondeu: "Eu me
arrependo e isso foi uma das razões de eu ter deixado o cargo".
Ainda segundo ele, a partir da
negociação no Planalto, Valério
conseguiu ser contratado para a
campanha do candidato a prefeito de Petrópolis (RJ) pelo PT, Paulo Mustrangi, que foi derrotado.
Não ficou claro se Dirceu sabia
que Sereno, um de seus principais
assessores, discutia em horário de
serviço interesses do PT nas campanhas eleitorais. No fim do depoimento a reportagem procurou
Sereno, mas ele se negou a falar:
"Falei tudo no depoimento".
Marcos Valério é acusado de ser
operador do "mensalão" e admite
que fez empréstimos de cerca de
R$ 55 milhões para alimentar o
caixa dois de campanhas do PT, a
pedido do ex-tesoureiro Delúbio
Soares. Valério diz que Dirceu sabia da operação. Dirceu nega.
Na CPI, o ex-assessor de Dirceu
afirmou que não discutiu empréstimos quando esteve na Casa Civil. Sereno foi secretário-executivo, em 2002, da então governadora do Rio Benedita da Silva (PT).
Ele deixou o cargo para participar
da equipe de transição de Lula.
No início de 2003 assumiu a chefia de gabinete da Casa Civil e, depois, tornou-se assessor especial.
Aos senadores, Sereno disse que
seu trabalho na Casa Civil consistia em "encaminhar as indicações
[para cargos públicos] de partidos
aliados" aos diretores de empresas públicas. Ele não deu nomes.
Em maio de 2004, após o escândalo envolvendo Waldomiro Diniz, ex-assessor de Dirceu, Sereno
deixou o ministério. Ontem, à
CPI, Sereno disse que deixou o
cargo e assumiu a Secretaria de
Comunicação do PT porque queria se "dedicar a campanhas eleitorais" e que sua saída nada teve a
ver com o caso Waldomiro.
O presidente da CPI dos Bingos,
Efraim Morais (PFL-PB), afirmou
que Sereno não falou a verdade.
Para o relator da CPI, o senador
Garibaldi Alves (PMDB-RN), "o
depoente ficou o tempo todo dizendo que não sabia. Eu acho que
ele sabia muito e veio aqui protegido por um habeas corpus".
Acusado de manipular o fundo
de pensão Nucleos (dos empregados das estatais de energia nuclear) e de usar a entidade para fazer caixa para campanhas, além
de interferir a favor de bancos no
Refer (fundo dos ferroviários),
Sereno negou tudo. Ele depôs
com habeas corpus do Supremo
Tribunal Federal, com o qual não
podia ser preso mesmo se não
respondesse a todas as perguntas.
Houve um bate-boca entre senadores e o advogado do depoente, Roberto Podval, que tentou falar no depoimento. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) perguntou a Sereno se ele sabia que Podval é advogado do empresário
Sérgio Gomes da Silva, acusado
de mandar matar o prefeito de
Santo André, Celso Daniel, em
2002, e também do grupo Schincariol, envolvido em suposto esquema de sonegação. Sereno confirmou e disse que vai pagar R$ 20
mil pelo serviço de Podval.
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