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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT
Planalto articula para que ex-ministro retire seu nome do grupo que concorre ao Diretório Nacional; saída do presidente interino pode ser negociada
Dirceu resiste a abandonar chapa de Tarso
FÁBIO ZANINI
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-ministro José Dirceu (Casa
Civil) ontem fincou o pé e disse
que não sai da chapa do Campo
Majoritário que disputará o novo
diretório nacional petista em 18
de setembro, como exige o presidente interino do partido, Tarso
Genro.
Tarso, que há uma semana vinha ameaçando abandonar sua
candidatura à reeleição caso Dirceu não cedesse, recuou ao saber
da afronta de seu rival. Pediu tempo para pensar no que fazer e para
negociar uma solução.
"Eu sou integrante da chapa e
pretendo continuar integrante da
chapa", afirmou Dirceu no final
da tarde. E partiu para a ofensiva,
acusando Tarso de criar um problema político, utilizando a rixa
como um pretexto.
"O problema é muito mais político que da minha presença ou
não. O presidente Tarso Genro está construindo um discurso político que não é o da chapa. Constrói toda uma linha de raciocínio
que eu não sei como os ministros
e os líderes do governo que estão
na chapa vão sustentar", afirmou.
A vários integrantes do Campo
Majoritário com quem conversou
nos últimos dois dias, Dirceu afirmou que se sente usado por Tarso
para mirar em alvos bem maiores:
a política de alianças e a política
econômica, dos quais é crítico frequente.
Apesar disso, Dirceu sinalizou
que pode aceitar um acordo. Ontem, ele conversou com o líder do
governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), que se aliou a Tarso
e também defendeu a saída do ex-ministro da chapa.
"Não sou empecilho [a um
acordo], mas evidentemente não
posso ser colocado numa situação
que inclusive não mereço, principalmente por causa da situação
que estou vivendo", afirmou Dirceu, que luta para salvar seu mandato.
Em público, Dirceu continua a
defender a candidatura de Tarso,
mas reservadamente não esconde
a irritação com ele.
Para hoje está prevista uma conversa do ex-ministro da Casa Civil
com Mercadante e Tarso, para
tentar uma última trégua que estanque a crise na cúpula petista.
Também devem participar outros
dois aliados do atual presidente
do PT, o prefeito de Aracaju (SE),
Marcelo Déda, e o secretário-geral
do partido, Ricardo Berzoini.
Tarso, após saber das declarações do ex-ministro, reuniu-se
com cerca de 15 aliados num auditório da Câmara, entre prefeitos
e deputados. Em uma reunião
tensa, ele ouviu as ponderações de
que deveria recuar, ao menos momentaneamente, e não renunciar
à candidatura.
"Essa é uma questão que ainda
está sendo debatida. Eu tenho
profundo respeito pelo ex-ministro José Dirceu. Acho que o impulso dele de dizer o que disse é
correto do ponto de vista político.
Mas em momentos de tensão, calma e canja de galinha não fazem
mal a ninguém", afirmou.
Uma saída cogitada é a de Dirceu permanecer na chapa do
Campo Majoritário, mas não necessariamente integrar o diretório
nacional petista após a eleição.
Caso isso não vingue, entram
em cena como possibilidades de
candidato a presidente nomes como o ministro Luiz Dulci (Secretaria-Geral), o assessor internacional da Presidência Marco Aurélio Garcia e Berzoini.
Em conversas ontem, Dirceu
afirmou que aceitar a exigência de
Tarso seria uma sentença de morte política. Ele simplesmente não
teria condições morais de jurar
inocência.
O ex-ministro se mostra confiante de que conta com 70% do
Campo Majoritário, mesmo tendo de enfrentar a oposição de Tarso, Berzoini e Mercadante.
Ontem, a preocupação com o
racha levou o Palácio do Planalto
a intervir. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu nos bastidores para convencer Dirceu a retirar seu nome da chapa.
Lula articula ainda a expulsão
do ex-tesoureiro Delúbio Soares
do PT, que deverá acontecer na
próxima reunião do Diretório
Nacional, marcada para os dias 3
e 4 de setembro.
O ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) levou a
mensagem de Lula a Dirceu.
Wagner, que atua como o porta-voz dos interesses de Lula dentro
do PT, vem falando desses assuntos com Dirceu desde a semana
passada. Anteontem, o ministro,
que sempre agiu de forma independente das tendências no PT,
pediu ao ex-ministro da Casa Civil e deputado federal pelo PT
paulista que ajude Lula a dar respostas à crise.
Wagner também criticou a forma como Dirceu e Tarso vem discutindo publicamente. Pedindo
"maturidade" e "bom-senso" aos
dois, Wagner disse ontem: "Vejo
com preocupação a disputa e não
é conveniente que eles [Dirceu e
Tarso] a façam publicamente. Espero que essa contenda termine
rapidamente. Para o próprio relacionamento do governo com as
bancadas é preciso que o partido
do presidente possa ter uma situação tranquila".
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