São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT

Planalto articula para que ex-ministro retire seu nome do grupo que concorre ao Diretório Nacional; saída do presidente interino pode ser negociada

Dirceu resiste a abandonar chapa de Tarso

FÁBIO ZANINI
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) ontem fincou o pé e disse que não sai da chapa do Campo Majoritário que disputará o novo diretório nacional petista em 18 de setembro, como exige o presidente interino do partido, Tarso Genro.
Tarso, que há uma semana vinha ameaçando abandonar sua candidatura à reeleição caso Dirceu não cedesse, recuou ao saber da afronta de seu rival. Pediu tempo para pensar no que fazer e para negociar uma solução.
"Eu sou integrante da chapa e pretendo continuar integrante da chapa", afirmou Dirceu no final da tarde. E partiu para a ofensiva, acusando Tarso de criar um problema político, utilizando a rixa como um pretexto.
"O problema é muito mais político que da minha presença ou não. O presidente Tarso Genro está construindo um discurso político que não é o da chapa. Constrói toda uma linha de raciocínio que eu não sei como os ministros e os líderes do governo que estão na chapa vão sustentar", afirmou.
A vários integrantes do Campo Majoritário com quem conversou nos últimos dois dias, Dirceu afirmou que se sente usado por Tarso para mirar em alvos bem maiores: a política de alianças e a política econômica, dos quais é crítico frequente.
Apesar disso, Dirceu sinalizou que pode aceitar um acordo. Ontem, ele conversou com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), que se aliou a Tarso e também defendeu a saída do ex-ministro da chapa.
"Não sou empecilho [a um acordo], mas evidentemente não posso ser colocado numa situação que inclusive não mereço, principalmente por causa da situação que estou vivendo", afirmou Dirceu, que luta para salvar seu mandato.
Em público, Dirceu continua a defender a candidatura de Tarso, mas reservadamente não esconde a irritação com ele.
Para hoje está prevista uma conversa do ex-ministro da Casa Civil com Mercadante e Tarso, para tentar uma última trégua que estanque a crise na cúpula petista. Também devem participar outros dois aliados do atual presidente do PT, o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, e o secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini.
Tarso, após saber das declarações do ex-ministro, reuniu-se com cerca de 15 aliados num auditório da Câmara, entre prefeitos e deputados. Em uma reunião tensa, ele ouviu as ponderações de que deveria recuar, ao menos momentaneamente, e não renunciar à candidatura.
"Essa é uma questão que ainda está sendo debatida. Eu tenho profundo respeito pelo ex-ministro José Dirceu. Acho que o impulso dele de dizer o que disse é correto do ponto de vista político. Mas em momentos de tensão, calma e canja de galinha não fazem mal a ninguém", afirmou.
Uma saída cogitada é a de Dirceu permanecer na chapa do Campo Majoritário, mas não necessariamente integrar o diretório nacional petista após a eleição.
Caso isso não vingue, entram em cena como possibilidades de candidato a presidente nomes como o ministro Luiz Dulci (Secretaria-Geral), o assessor internacional da Presidência Marco Aurélio Garcia e Berzoini.
Em conversas ontem, Dirceu afirmou que aceitar a exigência de Tarso seria uma sentença de morte política. Ele simplesmente não teria condições morais de jurar inocência.
O ex-ministro se mostra confiante de que conta com 70% do Campo Majoritário, mesmo tendo de enfrentar a oposição de Tarso, Berzoini e Mercadante.
Ontem, a preocupação com o racha levou o Palácio do Planalto a intervir. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu nos bastidores para convencer Dirceu a retirar seu nome da chapa.
Lula articula ainda a expulsão do ex-tesoureiro Delúbio Soares do PT, que deverá acontecer na próxima reunião do Diretório Nacional, marcada para os dias 3 e 4 de setembro.
O ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) levou a mensagem de Lula a Dirceu. Wagner, que atua como o porta-voz dos interesses de Lula dentro do PT, vem falando desses assuntos com Dirceu desde a semana passada. Anteontem, o ministro, que sempre agiu de forma independente das tendências no PT, pediu ao ex-ministro da Casa Civil e deputado federal pelo PT paulista que ajude Lula a dar respostas à crise.
Wagner também criticou a forma como Dirceu e Tarso vem discutindo publicamente. Pedindo "maturidade" e "bom-senso" aos dois, Wagner disse ontem: "Vejo com preocupação a disputa e não é conveniente que eles [Dirceu e Tarso] a façam publicamente. Espero que essa contenda termine rapidamente. Para o próprio relacionamento do governo com as bancadas é preciso que o partido do presidente possa ter uma situação tranquila".


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