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Buratti procurou Dourado para marcar audiência da Leão Leão com empresa
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO
O advogado Rogério Buratti, 42,
disse, em entrevista concedida à
Folha dias antes de ser preso e ouvido pela Polícia Civil, na semana
passada, ter obtido "ajuda" de
Juscelino Dourado, chefe-de-gabinete do ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, para marcar pelo menos uma audiência com a
presidência da BR Distribuidora,
uma subsidiária da Petrobras, e
para receber "orientações" sobre
como conseguir um documento
federal.
Buratti disse que Dourado ajudou a marcar uma audiência para
a presidência da empresa de lixo
Leão Leão, da qual foi vice-presidente até 2004, com a presidência
da BR Distribuidora, no Rio de Janeiro. A assessoria da BR confirmou a audiência, no dia 7 de agosto de 2003, mas negou que Dourado tenha atuado para agendar o
encontro.
Segundo Buratti, Dourado também lhe explicou como proceder
para obter uma CND (Certidão
Negativa de Débito) em favor da
empresa Leão Leão. O documento, que atesta a ausência de dívidas com a Previdência, é exigido
como condição para a participação em concorrências públicas.
A ajuda de Dourado foi revelada
por Buratti, em entrevista à Folha
no último dia 12, em que ele desmentiu nota divulgada pelo Ministério da Fazenda de que suas ligações para Palocci, flagradas em
grampo autorizado pela Justiça,
tinham sido tentativas de contato
que não prosperaram.
No último domingo, Palocci negou que houvesse uma relação de
proximidade entre Buratti e seus
assessores originários da prefeitura, em especial Juscelino Dourado. A argumentação do ministro é
que Buratti não tinha nenhuma
influência no ministério.
Em mensagem por e-mail enviada ontem, Juscelino Dourado
confirmou os dois pedidos narrados por Buratti, mas minimizou
seu papel. "Quando era vice-presidente do Grupo Leão & Leão
[sic], o Rogério Buratti me contatou para perguntar como proceder para conseguir uma audiência
na BR Distribuidora. Indiquei que
ele deveria entrar em contato diretamente na sede da empresa.
Quanto à história da CND, ao que
me recordo, foi um pedido de onde tratar das pendências. Orientei
que a empresa deveria tratar diretamente nas estruturas regionais,
que é onde se montam os processos e se protocolam os pedidos."
Buratti disse, na entrevista, não
ver problemas éticos ou legais nos
seus contatos com Juscelino Dourado. "O fato é saber se existe alguma ilegalidade, não, algum benefício objetivo, entendeu? Olha,
houve uma facilitação do contrato? Isso não. São contatos."
Na entrevista, Buratti também
afirmou que uma vez ligou "diretamente" para o gabinete de Palocci para pedir uma audiência
entre o ministro e a empresa portuguesa Somague, da qual a Leão
Leão é sócia numa empresa que
explora concessão de rodovias em
São Paulo.
O Grupo Somague tem capital
social declarado de 130 milhões
e atua nas áreas de concessão de
rodovias e águas e obras de saneamento básico. A Braest Participações, do grupo Somague, tem participação na Triângulo do Sol, do
grupo Leão Leão.
Na mesma mensagem enviada
ontem, Juscelino Dourado afirmou: "Fizemos pesquisa no nosso
sistema de gerenciamento da
agenda do Ministro da Fazenda e
não consta audiência para o Grupo Somague".
A Leão Leão, via assessoria de
imprensa, enviou nota à Folha em
que nega ter participação na Somague e diz que o grupo desconhece a realização de qualquer
encontro.
A filial do Grupo Somague em
São Paulo foi procurada ontem,
por telefone. Até o final da tarde
de ontem, não houve resposta sobre suposta audiência no Ministério da Fazenda intermediada por
Buratti.
(RP e RV)
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