São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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Buratti procurou Dourado para marcar audiência da Leão Leão com empresa

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO

O advogado Rogério Buratti, 42, disse, em entrevista concedida à Folha dias antes de ser preso e ouvido pela Polícia Civil, na semana passada, ter obtido "ajuda" de Juscelino Dourado, chefe-de-gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para marcar pelo menos uma audiência com a presidência da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, e para receber "orientações" sobre como conseguir um documento federal.
Buratti disse que Dourado ajudou a marcar uma audiência para a presidência da empresa de lixo Leão Leão, da qual foi vice-presidente até 2004, com a presidência da BR Distribuidora, no Rio de Janeiro. A assessoria da BR confirmou a audiência, no dia 7 de agosto de 2003, mas negou que Dourado tenha atuado para agendar o encontro.
Segundo Buratti, Dourado também lhe explicou como proceder para obter uma CND (Certidão Negativa de Débito) em favor da empresa Leão Leão. O documento, que atesta a ausência de dívidas com a Previdência, é exigido como condição para a participação em concorrências públicas.
A ajuda de Dourado foi revelada por Buratti, em entrevista à Folha no último dia 12, em que ele desmentiu nota divulgada pelo Ministério da Fazenda de que suas ligações para Palocci, flagradas em grampo autorizado pela Justiça, tinham sido tentativas de contato que não prosperaram.
No último domingo, Palocci negou que houvesse uma relação de proximidade entre Buratti e seus assessores originários da prefeitura, em especial Juscelino Dourado. A argumentação do ministro é que Buratti não tinha nenhuma influência no ministério.
Em mensagem por e-mail enviada ontem, Juscelino Dourado confirmou os dois pedidos narrados por Buratti, mas minimizou seu papel. "Quando era vice-presidente do Grupo Leão & Leão [sic], o Rogério Buratti me contatou para perguntar como proceder para conseguir uma audiência na BR Distribuidora. Indiquei que ele deveria entrar em contato diretamente na sede da empresa. Quanto à história da CND, ao que me recordo, foi um pedido de onde tratar das pendências. Orientei que a empresa deveria tratar diretamente nas estruturas regionais, que é onde se montam os processos e se protocolam os pedidos."
Buratti disse, na entrevista, não ver problemas éticos ou legais nos seus contatos com Juscelino Dourado. "O fato é saber se existe alguma ilegalidade, não, algum benefício objetivo, entendeu? Olha, houve uma facilitação do contrato? Isso não. São contatos."
Na entrevista, Buratti também afirmou que uma vez ligou "diretamente" para o gabinete de Palocci para pedir uma audiência entre o ministro e a empresa portuguesa Somague, da qual a Leão Leão é sócia numa empresa que explora concessão de rodovias em São Paulo.
O Grupo Somague tem capital social declarado de 130 milhões e atua nas áreas de concessão de rodovias e águas e obras de saneamento básico. A Braest Participações, do grupo Somague, tem participação na Triângulo do Sol, do grupo Leão Leão.
Na mesma mensagem enviada ontem, Juscelino Dourado afirmou: "Fizemos pesquisa no nosso sistema de gerenciamento da agenda do Ministro da Fazenda e não consta audiência para o Grupo Somague".
A Leão Leão, via assessoria de imprensa, enviou nota à Folha em que nega ter participação na Somague e diz que o grupo desconhece a realização de qualquer encontro.
A filial do Grupo Somague em São Paulo foi procurada ontem, por telefone. Até o final da tarde de ontem, não houve resposta sobre suposta audiência no Ministério da Fazenda intermediada por Buratti.
(RP e RV)


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