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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/OS INTELECTUAIS
Filósofa não comenta acusações de corrupção que cercam o governo Lula e chama pensadores ligados ao PSDB de "ideólogos"
Chaui silencia sobre crise e ironiza tucanos
DA REDAÇÃO
Em sua fala de 90 minutos ontem, durante o ciclo de palestras
"O Silêncio dos Intelectuais" em
São Paulo, a filósofa Marilena
Chaui evitar criticar diretamente
as acusações de corrupção que
cercam o governo Lula, justificou
o silêncio dos intelectuais e ironizou a atitude dos pensadores tucanos, aos quais chamou de
"ideólogos", diante da crise.
Ela diferencia "intelectual" de
"ideólogo", dizendo que o primeiro fala contra a ordem vigente
e o segundo, em favor dela. Este,
segundo a filósofa, "está cada vez
mais tagarela".
A discussão política, diz a professora, está sendo pautada pelos
tucanos, que têm criticado o governo Luiz Inácio Lula da Silva
por supostamente incorporar
uma imagem oposta àquela que
partidários do PSDB teriam de si
próprios: de que são sérios, modernos, responsáveis e competentes. "A crítica que se faz atualmente ao governo é a de falta de seriedade, incompetência e irresponsabilidade", afirmou.
Apesar de discorrer sobre as razões do atual silêncio dos intelectuais no mundo, disse que, no
Brasil, atualmente, eles têm falado
bastante. Ela justifica seu argumento apontando uma série de
artigos, entrevistas e aparições deles nos meios de comunicação.
"Não acho que os intelectuais
estejam em silêncio. Estão falando sem parar. Não sei de onde
vem essa idéia de que, neste momento no Brasil, os intelectuais
estão em silêncio. Essa questão é
incompreensível para mim."
Ela observa que o silêncio da intelectualidade no mundo não se
trata de uma recusa, mas de uma
impossibilidade de interpretar a
realidade presente. E, o que resta
neste caso, segundo diz, é o silêncio. Uma das razões disso é o retraimento da figura do intelectual
engajado em razão, dentre outros
fatores, do "ceticismo desencantado", do fracasso da "Glasnot"
(reforma política) na antiga
União Soviética, do recuo da social-democracia e da aparente legitimação da ordem vigente, o
que impossibilitaria uma perspectiva de transformação futura.
Ela aponta também para a substituição da figura do intelectual
pela do "especialista competente", na lógica da restrição da esfera pública -imprescindível para
o intelectual exercer o seu papel
social-, da privatização dos direitos e do recuo da cidadania.
"Silêncio responsável"
Porém, mais do que uma questão de impossibilidade, ela justifica o silêncio pelo senso de responsabilidade do intelectual. Tanto
em sua palestra em São Paulo como no Rio, Chaui relembrou a
polêmica nos anos 50 entre os filósofos franceses Jean-Paul Sartre
e Maurice Merleau-Ponty.
Partidária do segundo, ela ataca
a idéia de que o intelectual deva
ceder à pressão social e opinar sobre todos as questões que lhe são
propostas, sobre fatos isolados.
"Manifestar-se sobre tudo, mudar de atitude conforme mudem
os ventos, abandonar a obra já feita, desdizendo-a e desdizendo-se,
é irresponsabilidade, não é liberdade. Muitas vezes o verdadeiro
engajamento exige que fiquemos
em silêncio, que não cedamos às
exigências cegas da sociedade."
Apesar de não criticar o governo Lula diretamente, Chaui diz
que o PT errou ao não eleger como prioridade de governo a reforma política e a reforma tributária,
privilegiando a aprovação da reforma da Previdência.
A deficiência do sistema partidário e eleitoral, segundo diz, é
uma das causas da atual crise política, o que justificaria a reforma
política. Quanto a tributária, seria
uma maneira viável de promover
a distribuição de renda no país, financiando programas sociais como o Fome Zero.
Outra crítica que faz ao governo
é quanto ao caráter aparentemente não transitório da política econômica. O que era para ser uma
transição para outro modelo, segundo ela, parece ter se transformado em política definitiva.
Ela entende que esse seria o motivo principal de o governo ter
perdido apoio de boa parte dos
intelectuais ligados ao PT desde a
posse do presidente Lula.
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