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Otavio Frias Filho
Anistia para Lula
CERTOS OU errados,
nove entre dez colunistas políticos
prevêem vitória de Lula
no primeiro turno da eleição. O próprio presidente
se esbalda no "já ganhei",
chegando ao cúmulo de
marcar compromissos para 2008. A 37 dias da votação, seu favoritismo segue
impávido nas pesquisas.
É evidente que a decisão
do eleitor será soberana
(não existe um Carlos Lacerda propondo melar as
regras do jogo). Mas se o
veredicto for esse, dispensando o segundo turno, a
afoiteza do eleitor terá
prejudicado a qualidade
democrática desta eleição.
A experiência mostra
que só existe alguma discussão de programas de
governo no segundo turno, quando o presidente se
desgasta demais se não
participar de debates e a
sociedade se galvaniza em
torno de duas personalidades, dois estilos, duas visões em confronto.
Isso é mais verdade ainda no caso de um presidente que, no governo,
traiu quase todas as idéias-feitas que pregava nas
duas décadas anteriores. E
no caso de um partido
ideológico cuja cúpula,
uma vez no poder, converteu-se em verdadeira
"quadrilha", como a definiu o procurador-geral da
República.
A população mais carente tem boas razões para estar satisfeita com os
preços, com o aumento do
salário mínimo, com as
transferências de renda (e
de votos...). Nem por isso a
reeleição do atual presidente, se de fato ocorrer,
deixará de ter um significado sinistro. A mais alta
corte do país, o próprio povo, terá anistiado o escândalo do mensalão.
Um presidente macunaímico, que se orgulha da
própria falta de estudo, seria reconduzido sem trauma nem esforço. O partido
que lhe serviu de alavanca,
o PT, pode não sair destroçado das urnas, mas será
um fantasma do que já foi.
Políticos sem doutrina, a
maioria, farão fila para
apoiar um chefe de governo novamente forte.
Semanas atrás, o presidente lançou a proposta
marota de uma "Constituinte" para fazer a reforma política no ano que
vem. As reações vigorosas
mataram o assunto, por
enquanto. Mas a idéia é
perigosa e pode voltar tão
logo Lula se sinta reinstalado no posto, com mais
força ainda se não tiver de
enfrentar um segundo
turno.
Constituinte para fazer
a reforma política? Por
que não aproveitar e prorrogar seu mandato, garantir o direito a nova reeleição, decretar que só poderão concorrer candidatos
"progressistas"? Estamos
longe de ver essas fantasias se concretizarem.
Mas não custa alertar.
A oposição estava certa,
hoje ficou claro, quando
evitou insuflar o impeachment de Lula. Teria provocado um mártir, um Getúlio vivo. Não que Lula
não soubesse de nada: é
evidente que sabia, embora provas irrefutáveis não
tenham, ainda, aparecido.
Reeleito, estará anistiado.
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de
Redação da Folha
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