São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Descaso pela ética provoca atrito entre artistas lulistas

Paulo Betti diz que política se faz com mãos sujas, mas José de Abreu pede "mãos beatas"

Augusto Boal discorda do uso do termo "ética" na política e diz que tema só entra em discussão para provocar ataques eleitorais


LEANDRO BEGUOCI
DÉBORA YURI
DA REPORTAGEM LOCAL

O rescaldo do encontro no Rio entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e artistas e intelectuais na casa do ministro Gilberto Gil, na segunda-feira, provocou polêmica: as declarações do compositor Wagner Tiso e do ator Paulo Betti ao jornal "O Globo" foram condenadas por alguns dos presentes porque tanto Tiso quanto Betti disseram não se importar com os escândalos de corrupção ocorridos no governo.
"Não dá para fazer [política] sem botar a mão na merda", disse Betti. "Não estou preocupado com a ética do PT. Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país", completou Tiso. Procurado pela Folha, Betti sustentou seu discurso: "Não vamos ser hipócritas: eu acho que não dá pra fazer política sem sujar as mãos. Veja até agora, na história da humanidade", disse. "Acho que foi Jean-Paul Sartre quem disse, acho que numa peça, algo como "política é uma coisa em que você põe suas mãos e elas acabam sujas"."
O ator José de Abreu reprovou a atitude dos colegas. "Eu acho difícil fazer política sem colocar a mão na merda, mas acho que tem que tentar ter mãos beatas", disse ele, que pediu durante o encontro da segunda uma homenagem a José Dirceu, José Mentor e José Genoino, acusados de envolvimento com o mensalão.
Apesar de reprovar a atitude de Betti e Tiso, Abreu disse entendê-la. "Como é que você vai conversar com alguns deputados que só pensam em dinheiro? Aí você vai ter que colocar a mão na merda, é difícil", concluiu ele, que disse acreditar na existência do mensalão, a despeito da sua amizade com Dirceu. "Eu fico com o procurador-geral da República."
O ator Tonico Pereira foi mais um que condenou o desdém à ética. "Não achei legal o que eles disseram. Se você não pensar nisso como possibilidade, então é melhor desistir. Eu persigo a ética na política."
O dramaturgo Augusto Boal não reprovou nem endossou as declarações de Tiso e Betti. Para ele, o termo "ética" não está sendo bem usado na campanha eleitoral. "Quando alguém usa a palavra ética, não revela qual a sua ética. Usa apenas para atacar alguém."
O cineasta Luiz Carlos Barreto foi o único ouvido que concordou com Tiso e Betti. "A política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência. Se o fim é nobre, os fins justificam os meios", afirmou. "O que eu acho inaceitável é roubar. Eu acho que o mensalão é do jogo político, não é roubo. Dirceu e Genoino não roubaram." A única exceção aberta por Barreto é para a máfia dos sanguessugas. "Sanguessuga é roubo. Deveriam ser fuzilados."
Tiso foi procurado pela Folha, mas sua assessoria disse que ele estava indisponível.


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