|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Descaso pela ética provoca atrito entre artistas lulistas
Paulo Betti diz que política se faz com mãos sujas, mas José de Abreu pede "mãos beatas"
Augusto Boal discorda do uso do termo "ética" na política e diz que tema só entra em discussão para provocar ataques eleitorais
LEANDRO BEGUOCI
DÉBORA YURI
DA REPORTAGEM LOCAL
O rescaldo do encontro no
Rio entre o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e artistas e
intelectuais na casa do ministro Gilberto Gil, na segunda-feira, provocou polêmica: as declarações do compositor Wagner Tiso e do ator Paulo Betti ao
jornal "O Globo" foram condenadas por alguns dos presentes
porque tanto Tiso quanto Betti
disseram não se importar com
os escândalos de corrupção
ocorridos no governo.
"Não dá para fazer [política]
sem botar a mão na merda",
disse Betti. "Não estou preocupado com a ética do PT. Acho
que o PT fez um jogo que tem
que fazer para governar o país",
completou Tiso. Procurado pela Folha, Betti sustentou seu
discurso: "Não vamos ser hipócritas: eu acho que não dá pra
fazer política sem sujar as
mãos. Veja até agora, na história da humanidade", disse.
"Acho que foi Jean-Paul Sartre
quem disse, acho que numa peça, algo como "política é uma
coisa em que você põe suas
mãos e elas acabam sujas"."
O ator José de Abreu reprovou a atitude dos colegas. "Eu
acho difícil fazer política sem
colocar a mão na merda, mas
acho que tem que tentar ter
mãos beatas", disse ele, que pediu durante o encontro da segunda uma homenagem a José
Dirceu, José Mentor e José Genoino, acusados de envolvimento com o mensalão.
Apesar de reprovar a atitude
de Betti e Tiso, Abreu disse entendê-la. "Como é que você vai
conversar com alguns deputados que só pensam em dinheiro? Aí você vai ter que colocar a
mão na merda, é difícil", concluiu ele, que disse acreditar na
existência do mensalão, a despeito da sua amizade com Dirceu. "Eu fico com o procurador-geral da República."
O ator Tonico Pereira foi
mais um que condenou o desdém à ética. "Não achei legal o
que eles disseram. Se você não
pensar nisso como possibilidade, então é melhor desistir. Eu
persigo a ética na política."
O dramaturgo Augusto Boal
não reprovou nem endossou as
declarações de Tiso e Betti. Para ele, o termo "ética" não está
sendo bem usado na campanha
eleitoral. "Quando alguém usa
a palavra ética, não revela qual
a sua ética. Usa apenas para
atacar alguém."
O cineasta Luiz Carlos Barreto foi o único ouvido que
concordou com Tiso e Betti. "A
política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência. Se
o fim é nobre, os fins justificam
os meios", afirmou. "O que eu
acho inaceitável é roubar. Eu
acho que o mensalão é do jogo
político, não é roubo. Dirceu e
Genoino não roubaram." A
única exceção aberta por Barreto é para a máfia dos sanguessugas. "Sanguessuga é roubo. Deveriam ser fuzilados."
Tiso foi procurado pela Folha, mas sua assessoria disse
que ele estava indisponível.
Texto Anterior: Lúcio Alcântara não diz se terá Alckmin na TV Próximo Texto: Frases Índice
|