São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Na berlinda

A revelação de conversa travada por ministros do Supremo no primeiro dia do julgamento do mensalão jogou todas as atenções sobre o voto de Eros Grau, que ontem se mostrava compreensivelmente irritado. Se ele de fato "não aceitar nada" da denúncia do procurador-geral, como previu a colega Carmem Lúcia pela intranet, vai alimentar a suspeita de que "houve uma troca", conforme escreveu a ela, em resposta, o também ministro Ricardo Lewandowski.
A "troca", reveladora de que "o resultado desse julgamento" seria "realmente importante" para o governo, envolveria a indicação de Carlos Alberto Direito para o lugar do ministro Sepulveda Pertence, que acaba de se aposentar do tribunal, e, na outra ponta, a rejeição de pelo menos parte da denúncia.

Facções 1. No governo e fora dele, há quem rejeite a tese da "troca" e interprete o diálogo Carmem Lucia-Lewandowski apenas como expressão de contrariedade diante do provável novo colega. A dupla (especialmente Carmem Lúcia) é ligada a Sepulveda Pertence, que sempre rejeitou a idéia de ser sucedido por Carlos Alberto Direito, considerado "muito conservador".

Facções 2. O grande padrinho da indicação de Direito é Nelson Jobim, ministro da Defesa e ex do STF. No tribunal, a causa foi abraçada por Gilmar Mendes e Eros Grau.

Calendário. Houve pressão muito grande para que Sepúlveda antecipasse a aposentadoria de modo a permitir a nomeação de Direito. Pela lei, ele tem de ser indicado antes de completar 65 anos, o que acontecerá em 8 de setembro.

Correio elegante. Flagrada na quarta em animado papo eletrônico com Lewandowski, ontem Carmem Lúcia se restringiu a bilhetes para manter contato com seu gabinete. O leva-e-traz era feito pelos "capinhas", como são chamados os assessores dos ministros no plenário.

Faísca. Joaquim Barbosa e Eros Grau protagonizaram o momento mais tenso de ontem, elevando a voz num debate pontual. Os presentes atribuíram a subida de tom do relator à revelação de que Grau pretenderia rejeitar a denúncia -contra o que se espera do voto de Barbosa.

Wally 1. Advogados dos 40 do mensalão questionam a exclusão de pessoas da denúncia do procurador-geral, Antônio Fernando, em troca de delação premiada.

Wally 2. Um dos excluídos seria Lúcio Funaro, doleiro e fundador da Guaranhuns, empresa que em 2003 repassou R$ 6,5 milhões do valerioduto a Valdemar Costa Neto. Funaro teria escapado da denúncia ao fornecer provas contra o ex-presidente do PL.

Ops! 1. Ao falar ao Conselho de Ética, Renan Calheiros confirmou que os R$ 100 mil dados a Mônica Veloso eram complemento da pensão que deixou de pagar integralmente por um período, e não um "fundo de educação" da filha.

Ops! 2. O presidente do Senado confirmou não ter declarado um empréstimo obtido com a Costa Dourada Veículos. Para senadores, já está configurado crime fiscal.

Veja bem... Um pitbull abordou Marisa Serrano (PSDB-MS) na quarta-feira à noite. Criticou a relatora por "só falar mal" de Renan. "Não há palavra sua em benefício do nosso presidente!"

...o que você faz. Em seguida, o pitbull avisou a Marisa que o Senado é uma "confraria", e que ela ficará "sozinha" se produzir um relatório contra Renan. "Amanhã todos se acertam", disse ele.

Cabo-de-guerra. O deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), aliado de Renan, protocolou ontem na Mesa da Câmara um requerimento de CPI sobre a venda da TVA pela Editora Abril para a Telefônica. No pedido há várias assinaturas de partidos da base.

Tiroteio

"Estou muito triste. Não entendi qual é o questionamento à minha atuação. Pela frente me tratam principescamente, enquanto por trás me apunhalam".
De MARCO AURÉLIO MELLO sobre o diálogo em que Carmem Lúcia diz a Ricardo Lewandowski que "estamos com problema por causa do novo chefe" (da primeira turma do STF, que vem a ser Marco Aurélio).

Contraponto

Tudo combinado

Tarso Genro reuniu-se com a bancada governista do Senado, na semana passada, a fim de apresentar detalhes do recém-lançado programa do governo para a segurança.
Gaúcho como o ministro da Justiça, o senador Sérgio Zambiasi (PTB) desmanchou-se em elogios:
-O Tarso é o meu candidato a governador!
-Candidato a governador? Só se você for vice-, disse o ministro, espantado com o lançamento fora de hora.
Certo de que havia logrado encerrar o assunto, Tarso ensaiava reiniciar sua exposição, mas o senador insistiu:
-Então quero declarar aqui, publicamente, que aceito o convite de ser candidato a vice em sua chapa!


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