São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Advogados jogam a culpa em outros acusados

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Alguns dos dez advogados que encerraram ontem a defesa oral dos acusados de integrar o esquema do mensalão apresentaram versões que se conflitam, além de justificarem desvios de condutas de seus clientes.
"O Supremo tem que saber separar o joio do trigo, separar quem é mensaleiro de quem é inocente mensageiro", disse Délio Lins e Silva, advogado dos irmãos Jacinto e Antonio Lamas, assessores do antigo PL (atual PR), partido comandado na época por Valdemar Costa Neto, um dos 40 denunciados.
Lins e Silva ressaltou que os Lamas só cumpriam ordens de Valdemar ao irem apanhar dinheiro do valerioduto: "Meus clientes eram paus mandados". O advogado de Valdemar, Marcelo Bessa, que falara antes, disse que a denúncia tinha de ser rejeitada "simplesmente porque não pode ser provada".
Já o advogado Tales Castelo Branco, que representa o publicitário Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes, afirmou que seus clientes não podem ser acusados de lavagem de dinheiro porque ignoravam a possibilidade de o dinheiro recebido ser de origem ilícita: "Ele [Duda Mendonça] foi compelido pelo PT".
Duda diz ter recebido pagamento do PT de R$ 10 milhões, por serviços de publicidade, em uma conta aberta no exterior. "Ocultar não é lavar dinheiro", disse Tales, afirmando que a abertura da conta fora do país foi feita a pedido do PT. Ele afirmou que seus clientes são acusados "por terem cometido a desgraça de dizer a verdade", se referindo a depoimento à CPI dos Correios quando Duda falou sobre o pagamento.
Ele disse que Duda está "desiludido, recluso, calado, voltado ao campo": "Podemos não gostar do brinco que ele ostenta na orelha, mas atacar-lhe a honra é um crime", afirmou.
O advogado de Roberto Jefferson, autor das acusações que em junho de 2005 deflagraram o escândalo, disse que a denúncia erra ao acusar quem revelou o esquema. "Ele nunca participou disso, ele é o denunciante do mensalão, termo inclusive cunhado por ele", afirmou Luiz Francisco Barbosa, para quem o STF não conseguirá concluir o julgamento antes da prescrição dos eventuais crimes.
Ao todo, 27 advogados fizeram a defesa oral de 36 dos 40 denunciados. Quatro acusados -José Borba (PR), ex-líder do PMDB na Câmara, e três integrantes de corretoras que teriam integrado o esquema- não se defenderam oralmente.

Marco histórico
Todos os dez advogados que falaram ontem criticaram a denúncia do Ministério Público no plenário do STF, mas um fato inusitado chamou a atenção: destoando das outros 26 intervenções, a advogada Roberta Rangel elogiou Antonio Fernando Souza, dizendo que sua denúncia era um "marco".
"O marco que essa denúncia representa há de ser ressaltado. A coragem de oferecer essa denúncia é um marco que nunca havia ocorrido, não importa se ela vai ser acatada ou não, se denunciados serão excluídos ou não", disse Rangel, que defende o ex-deputado Professor Luizinho (PT-SP), acusado de ter recebido R$ 20 mil do esquema.


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