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ELIO GASPARI
Lula não é Nixon, Mello não é Bob Woodward
Essa comparação é curiosa
para um cidadão, impertinente
para um magistrado, absurda
para um presidente de tribunal
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O PRESIDENTE DO Tribunal Superior Eleitoral, ministro Marco
Aurélio de Mello, precisa conter
a devoção que tem pela voz do doutor
Marco Aurélio de Mello. Sua comparação das malfeitorias petistas com o caso Watergate é curiosa para um cidadão, impertinente para um magistrado,
absurda para o presidente de um tribunal eleitoral.
Numa entrevista aos repórteres Luiz
Orlando Carneiro e Tales Faria, o ministro produziu uma salada. Perguntaram-lhe se via "semelhanças" entre os
dois casos e ele disse:
"Não, não vejo.... É algo muito pior!
Não há comparação. Aquela escuta foi
realmente muito terrível. Mas, agora, o
que temos é uma somatória de desvios
de poder."
Se o ministro acredita que o caso do
PT é realmente "muito pior", mistura
duas equipes de tabajaras, uma americana e outra brasileira, associando um
episódio passado (a renúncia do presidente Richard Nixon) e uma crise recente (o envolvimento de Lula nas malfeitorias petistas).
A associação é capenga. Nixon encrencou-se quando dois assessores testemunharam que havia usado a Presidência para obstruir o trabalho da Justiça. Foi a pique quando teve que entregar as fitas das gravações clandestinas
que fazia no Salão Oval. (Ele não foi o
primeiro. O grampo presidencial tornara-se rotina nas reuniões de John
Kennedy e nos telefonemas de Lyndon
Johnson.)
Há uma diferença essencial entre o
Watergate e as malfeitorias petistas:
ninguém provou (ainda) que Lula obstruiu investigações policiais ou a ação
da Justiça. A idéia de "pior" sugere um
nível de malfeitoria que não chegou
(ainda) ao campo das provas. O que
vem a ser um "desvio de poder", não se
sabe, mas até onde a vista alcança, se alguém cometeu desvios foi o doutor Ricardo Berzoini com seu dispositivo de
mídia.
Uma das boas coisas da vida para colunistas e redatores é a construção de
vinhetas históricas comparando alhos
com bugalhos. (A nota aí de baixo é um
exemplo disso.) Quando o presidente
do Tribunal Superior Eleitoral entra
nesse tipo de exercício, a Justiça perde.
Os repórteres Bob Woodward e Carl
Bernstein achavam que o caso Watergate era "muito pior" do que se pensava, mas eram repórteres, não eram magistrados.
Enquanto a ministra Ellen Gracie estiver na presidência do Supremo, bem
que se poderia criar um sistema de cotas verbais: todos os ministros podem
falar quanto quiserem fora da Corte,
desde que não ultrapassem em dez vezes o tamanho das falas da presidente.
Como ela raramente excede duas frases por semana, ficaria tudo mais simples.
La Cicarelli tem o seu momento Jacqueline
Daniela Cicarelli quer processar quem divulgar seus
momentos de alegria nas
areias e nas águas de Cádiz, na
Espanha. É provável que a
Justiça lhe dê razão em diversos países. Mesmo assim,
quem entende do negócio sugere que, em vez de brigar para trás, ela faça como Jacqueline Kennedy, que brigou para a frente.
Em 1974 a linda senhora
(45 anos, quem diria) estava
no seu paraíso particular da
ilha de Skorpios, na Grécia.
Vestia um biquíni preto. Primeiro tirou a parte de cima.
Ao trocar-se, tirou o que faltava. Foram mais de 30 fotos,
em todos os ângulos, sem bolina. Meses depois, circulou
uma história segundo a qual,
ao encontrar-se com ela, o
economista John Kenneth
Galbraith disse-lhe: "Muito
prazer em te ver vestida, Jackie".
Nas fotos de Skorpios havia
um enigma. O milionário
Aristóteles Onassis, com
quem Jacqueline se casara
em 1968, também aparecia,
com o torso nu e enrolado numa toalha. Bingo. Foi ele
quem contratou os fotógrafos
que campanaram a madame.
Passada a sensação, discretamente, as cenas saíram do
mercado. A primeira negociação passou pelo pornógrafo
Larry Flynt, dono da revista
"Hustler", que comprara os
direitos das fotos.
Lula e Delfim
Nosso Guia defende a abertura de negociações com a oposição para definir uma agenda
para um eventual segundo
mandato. De um lado e de outro fica a pergunta: como fazer
isso? Um bom início de conversa é pedir a Lula e ao deputado
Antônio Delfim Netto que divulguem a receita das conversas que tiveram nos últimos
quatro anos.
Delfim e Lula encontraram-se pelo menos seis vezes, sempre no Planalto, sempre por
mais de uma hora. A última
conversa aconteceu há duas semanas. Lula jamais disse que
chamou Delfim e Delfim nunca
revelou que foi ao palácio. Uma
das prerrogativas que a inércia
dá a um ex-ministro (1969-1974 e 1979-1984) é o acesso ao
andar do presidente pela garagem do Planalto e pelo elevador
privativo das autoridades.
Lula e Delfim conversaram
na presença de Antonio Palocci
ou de Tarso Genro. Nunca cuidaram de varejo e faltou pouco
para que chegassem a um acordo na busca do déficit zero. As
conversas não mudaram as
idéias de nenhum dos dois, mas
ajudaram o governo e o Congresso a trabalhar melhor.
Bomba na descarga
Para a crônica do dispositivo
de mídia do professor Berzoini:
É muito provável que Freud
Godoy esteja na história do ervanário petista como Pilatos no
Credo. Preso, Gedimar Passos
quis livrar o cacique a quem se
reportava (Jorge Lorenzetti) e
deu o nome de uma figura discreta, de nome esquisito. Não
sabia de quem estava falando.
Algo como se a bomba de
Hiroshima tivesse o detonador
ligado na descarga da privada
do japonês da piada.
Bis
Durante jantar com plutocratas, há dez dias, Nosso Guia deu a
seguinte resposta ao empresário
Eugênio Staub, que lhe perguntou como superaria os obstáculos
que atrapalham seu projeto:
"Staub, não acorde o demônio
que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso". O
dispositivo de mídia do Planalto
desmentiu-a. Convidados que a
ouviram confirmaram-na.
O PT baleou Ciro
Em julho de 2002, Paulo Pereira da Silva, candidato a vice na
chapa de Ciro Gomes, tomou
uma bordoada de um dossiê. Era
acusado de ter comprado um sítio com dinheiro da venda ao governo de uma fazenda superfaturada. Referindo-se à denúncia,
Ciro defendeu seu parceiro dizendo o seguinte: "Setores a serviço da plutocracia, da propaganda do governo, dos arreganhos do
sistema financeiro internacional
vão tentar agredir, atacar, levantar calúnia". O doutor deve desculpas à plutocracia, ao governo
FFHH e ao sistema financeiro internacional. Wagner Cinchetto,
integrante do equipe de demônios que em 2002 manipulava
denúncias para beneficiar Lula,
contou o seguinte ao repórter
Rubens Valente: - Ciro Gomes
teve um crescimento muito grande nas pesquisas que mostravam
que, num segundo turno, ele derrotaria Lula. Nós passamos a trabalhar no ponto fraco (...) dele. O
trabalho do grupo foi dar um
pouco mais de transparência à
imprensa. (...) Assim que o Ciro
começou a cair, o pessoal chegou
a me agradecer pelo trabalho realizado.
O arreganho foi petista.
Nosso Guia diz que "esse nunca
foi e nunca será o meu estilo". A
patuléia finge que acredita.
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