São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

PF vai investigar gestão tucana na pasta da Saúde

Suspeita é que empresário tenha participado da liberação de emendas na gestão de Barjas

PF avalia que Abel Pereira pode ter negociado com os Vedoin a compra do dossiê que acusa tucanos de atuar na máfia dos sanguessugas

DO ENVIADO A CUIABÁ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

A Polícia Federal vai abrir um inquérito específico para apurar suspeitas de que o empresário Abel Pereira teria participado de um esquema ilegal de liberação de emendas no Ministério da Saúde na gestão do tucano Barjas Negri, sucessor de José Serra na pasta.
As emendas teriam beneficiado o grupo Planam, principal empresa da máfia dos sanguessugas. Em entrevista à revista "IstoÉ", duas semanas atrás, Luiz Antonio Vedoin (dono da Planam) disse que Abel era o responsável por liberar as emendas que favoreciam a quadrilha na gestão Negri, apesar de oficialmente não ter vínculo com a pasta. O ex-ministro nega envolvimento com os sanguessugas e afirma não conhecer os donos da Planam.
Abel é empresário do município de Piracicaba (SP), da qual Negri hoje é prefeito.
O nome de Abel voltou ao escândalo após reportagens publicadas pela Folha, na semana passada, sobre os contatos que o empresário manteve recentemente com Vedoin. No dia em que a quadrilha fechou a venda para petistas de um dossiê contra Serra, Abel tentou pelo menos três vezes falar com Vedoin por telefone, chegando a deixar recados com um ex-cunhado do dono da Planam. No final do mês passado, Abel esteve hospedado por cerca de dez dias num hotel em Cuiabá.
A PF avalia que Abel possa também ter negociado com Vedoin a compra do dossiê.
Na quinta-feira, quando prestou novo depoimento à PF, em Cuiabá, Vedoin entregou uma planilha com nomes das prefeituras que teriam tido emendas individuais ao Orçamento da União "pagas através de acerto com Abel Pereira".
Ou seja, verbas para compra de ambulâncias teriam sido liberadas pelo Ministério da Saúde em 2002 graças a pagamento de propina a Abel. O empresário, que não foi localizado ontem para falar sobre a abertura do inquérito, nega recebimento de dinheiro. A planilha, segundo Vedoin, "incrimina Abel, ligado ao ex-ministro [Saúde] Barjas Negri".
Ao Ministério Público Federal, Vedoin apresentou no dia 14, antes de ser preso, extratos bancários que comprovariam depósitos na conta de empresas supostamente ligadas a Abel para liberação de verbas.
O dossiê contra tucanos, apreendidos no dia 14 pelo PF, continha, além de um vídeo, fotos e DVD, quatro folhas com nomes de prefeituras dos Estados de Rondônia, São Paulo, Alagoas, Amapá, Ceará, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraná e Rio.
Com relação a São Paulo, trazia os nomes de 12 prefeituras listando ao lado de cada uma valores de R$ 66 mil, que seriam as verbas liberadas.
Nesta semana, a PF vai requisitar ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) informações sobre os saques que deram origem ao dinheiro usado por petistas para comprar o dossiê. No dia 14, os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padrilha foram detidos num hotel em São Paulo com cerca de R$ 1,7 milhão, parte e reais e parte em dólares.
Provavelmente entre amanhã e terça, a PF já terá a confirmação de quais agências o dinheiro saiu e quando foi sacado. Assim, a PF requisitará a quebra do sigilo das agências, o que permitirá conhecer quem forneceu o dinheiro. (LEONARDO SOUZA E HUDSON CORRÊA)

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