Texto Anterior | Índice
Querem acobertar culpado, diz namorada
Carla Cepollina critica a investigação da polícia e cita possível interesse patrimonial dos filhos do coronel Ubiratan
Advogada afirma ser um bode expiatório criado "para encobrir quem foi e para dar satisfação para esse clamor popular" sobre o homicídio
GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Prestes a ser indiciada pelo
assassinato de seu namorado, o
coronel da reserva e deputado
estadual Ubiratan Guimarães,
63, a advogada Carla Cepollina,
40, afirma que é bode expiatório de quem quer "acobertar o
verdadeiro culpado".
Em entrevista ontem à Folha, disse que a polícia não tem
provas para indiciá-la. "As pessoas querem precisão de horários, de quantidade de roupa
que lavei, de batatas que comi."
Carla afirmou também que a
morte de Ubiratan pode estar
ligada a uma "questão patrimonial". Segundo ela, o coronel
passou os bens para os filhos
por causa de uma dívida trabalhista. "Se tinha algum tipo de
vantagem financeira com a
morte dele, não era minha."
Leia trechos da entrevista:
FOLHA - A polícia pretende indiciá-la pela morte do coronel nesta segunda. A sra. matou Ubiratan?
CARLA CEPOLLINA - Não. Eu não
tinha motivos para matá-lo.
FOLHA - E por que a sra. é apontada
pela polícia como principal suspeita?
CARLA - Ser alvo de investigação é normal, era namorada dele. Agora, acho que estão me indiciando para acobertar o verdadeiro culpado. E para responder a esse afã popular de
que tem de achar culpado rápido. Não tem prova contra mim.
Não terá prova pericial. O que
eles têm é: a altura [da pessoa
que atirou] é mais ou menos a
minha, eu saí e cumprimentei o
porteiro [do prédio de Ubiratan]. Em todos os meus depoimentos, não tem contradição.
FOLHA - Vão indiciar sem prova?
CARLA - É só porque eles alegam que fui a última pessoa a
sair do prédio. Num prédio que
não tem segurança, câmera, e
os porteiros entraram em contradição nos depoimentos. Um
deles falou que eu passei, fui
embora. Eu até falei: "Tchau,
seu Antonio, não esqueci a sua
lembrancinha". Foi aniversário
dele no dia 7. Ele falou que fui
embora sete e pouco. Depois
disse que tinha se enganado e
fui embora umas dez e meia. O
circuito de televisão daqui [do
prédio onde mora] mostra que
estava às 21h06 aqui.
FOLHA - A sra. se julga, então, bode
expiatório?
CARLA - Eu sou. Para encobrir
quem foi e para dar satisfação
para esse clamor popular.
FOLHA - A sra. pode detalhar o que
aconteceu enquanto estava no
apartamento?
CARLA - A Renata [Madi, amiga
de Ubiratan] ligou no celular.
FOLHA - A sra. pode falar o horário?
CARLA - É tudo aproximado.
Explico por quê. Você está num
sábado, com o namorado, normal. Então, você tem tudo uma
idéia mais ou menos aproximada. Não é gincana. A que horas
você chegou à hípica? A que horas cumprimentou o zezinho?
A delegada perguntou quantas
batatas comi. Não é assim. Para
mim, era só mais um sábado
com o Ubiratan. A delegada fez
minha empregada chorar porque queria que ela lembrasse
exatamente quantos baldes de
molho [de roupa] tinha há dez
dias. Quem sabe isso? As pessoas querem precisão de horário, de quantidade de roupa que
lavei, de batatas que comi.
FOLHA - A que horas a Renata ligou
no dia do crime?
CARLA - Por volta das 19h, essa
moça ligou no celular. Ubiratan
dormia. Falei: "o Ubiratan está
dormindo, quer que chame?".
Sim. Dei o celular para ele. Ele
falou, deu uma cortada, jogo rápido. Desligou. Aí o fixo ligou
uma série de vezes. Era ela. Eu
falei para ele se iria atender, ele
ficou na dele. Acontece que ele
tinha bebido, estava de mau humor pois ela tinha ligado. Falei:
"Então tchau, vou embora".
FOLHA - Não houve discussão?
CARLA - Não. Que discussão? Se
tivesse uma discussão, não tinha dado nem o primeiro telefone para ele.
FOLHA - Quem era a Renata na vida dele?
CARLA - Não sei. Eu a vi uma
vez, no julgamento [do massacre do Carandiru]. Parece que
eles se conheciam havia muito
tempo. Assim como ele conhecia um monte de pessoas havia
muito tempo, eu também.
FOLHA - Ele era muito assediado
por mulheres?
CARLA - Por muita gente. Tinha
muitos fãs, eleitores. Por mulheres também. Uma vez estávamos em um jogo de futebol e
uma mulher mandou um guardanapo com um beijo. E você
me desculpa: todo mundo vota.
FOLHA - Os filhos do coronel a descrevem como ciumenta, possessiva.
CARLA - Fiquei com o Ubiratan
dois anos e quatro meses. Se
fosse ciumenta, possessiva, não
teria sido tanto tempo. Ele fazia
o que queria, na hora em que
queria. Não era de meio-termo.
FOLHA - Por que os filhos dele não
reconhecem esse relacionamento?
CARLA - Acho que foram instruídos a falar isso. O Fabrício
[filho], em 7 de abril, num churrasco, me apresentou à namorada e a centenas de pessoas:
"Essa é minha madrasta".
FOLHA - Com que intenção os filhos negam esse relacionamento?
CARLA - Eu acho que foi aventada a possibilidade de ser um
problema patrimonial. Acho
que eles têm medo que eu peça
dinheiro. Se tem uma questão
patrimonial a ser suscitada aí,
certamente não é da minha
parte. O apartamento já estava
no nome dos filhos, o carro, a
criação de avestruz, a casa do
Brooklin. Se tinha algum tipo
de vantagem financeira com a
morte dele, não era minha.
FOLHA - Essa questão patrimonial
pode ser a causa da morte?
CARLA - Acho que sim. Não entendo o comportamento dessas
pessoas que mentiram ou denegriram minha imagem. Acho
que eles estão armando. Eu estou provando que eles mentiram. Especialmente os filhos.
FOLHA - E por que fariam isso?
CARLA - Não sei. Por que sou o
pato da vez? Acho que eles querem desviar a atenção do verdadeiro culpado. Talvez estejam
encobrindo alguém. Por exemplo, os filhos falaram que eu
não estava com o pai, o que eu já
mostrei que era mentira. Depois, falaram que o pai não tinha problemas e rolos. Mentira. Ele está sendo acionado [na
Justiça] pelo pessoal da Airon,
uma dívida trabalhista enorme.
FOLHA - Empresa de quê?
CARLA - De segurança, dele. Vira-e-mexe tinha oficial lá. Então, tudo que ele tinha já estava
em nome dos filhos, de outras
pessoas. Então, eles declararam que o pai não tinha problema, rolo. Não é verdade. Se eles
querem mostrar que o pai era
limpo, peguem os bens que o
pai passou para eles por causa
da dívida trabalhista e paguem
a Airon, já que eles querem tanto ser honestos.
FOLHA - Como era o seu relacionamento com o coronel?
CARLA - Estável, legal, sólido,
rico. A gente bolava tudo, fazia
a campanha. Tinha planos para
depois da eleição. A eleição estava ganha. Por que eu iria matar esse homem? Por causa de
um telefonema? Aí eu coloco
um plano de vida, uma parceria, e queimo isso por causa de
um telefonema? Gente, que
sentido faz isso? [Carla se emociona] Eu perdi um parceiro,
todos os planos de um futuro, e
ainda sou acusada de ter feito
uma barbaridade dessas. Eu estou aqui. Emagrecendo, me
consumindo, sentindo saudade
dele, e sendo acusada.
Texto Anterior: Eleições 2006/Paraná: Rasera não era meu assessor, diz Requião Índice
|