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Para Lula, liberdade de imprensa não pode acobertar "vazadores"
Presidente afirma que projeto de lei que criminaliza vazamento de informação não contraria defesa da liberdade de imprensa
Projeto de lei enviado ao Congresso dá brecha para punição de veículos que divulguem escutas ilegais ou legais sob segredo de Justiça
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Nova
York que vazar informação sigilosa à imprensa é "roubo" e,
portanto, uma atitude que deve
ser punida criminalmente.
Para Lula, é preciso "responsabilidade" para que se possa
"conviver" com a liberdade de
imprensa. "A liberdade de imprensa pressupõe aumentar a
responsabilidade de todos para
podermos conviver com ela. A
liberdade de imprensa não pode pressupor que alguém possa
roubar informações, que essas
informações sejam divulgadas
e que a pessoa que as tenha roubado fique impune, porque senão você terá dois tipos de cidadãos no Brasil: você terá um
que estará subordinado à Constituição e à legislação, e você terá um que pode tudo. Então, é
apenas ter cuidado", disse o
presidente, afirmando que sua
posição não é "contra-senso".
A afirmação foi dada em resposta a um jornalista que perguntou se a defesa da liberdade
de imprensa feita por Lula na
segunda-feira não contrariava
o projeto de lei enviado dias antes ao Congresso que propõe
criminalizar vazamento de informação sigilosa a órgãos de
comunicação.
Na prática, a lei oferece brecha também para punição a veículos que divulguem escutas
telefônicas ilegais ou legais sob
segredo de Justiça.
Ao receber um prêmio da
agência de notícias IPS (Inter
Press Service), o presidente havia enaltecido a mídia livre diversas vezes. Disse também,
contudo, que críticas negativas
podem não ter efeito, já que "o
povo", disse, consegue perceber a verdade "nos olhos de
quem fala na TV", "na voz de
quem ouve no rádio", "nas palavras que lê nos jornais". Pela
manhã, havia sido divulgada
pesquisa que mostrava aprovação recorde de seu governo.
"Quando defendo a liberdade
de imprensa, é porque eu digo
todo santo dia: só sou o que sou
porque no Brasil há liberdade
de imprensa, mesmo quando
falavam mal de mim. Não quero liberdade para falarem bem,
quero liberdade para dizer a
verdade. Quando as pessoas
não disserem a verdade, o povo
fará o seu julgamento", disse.
A ANJ (Associação Nacional
de Jornais) não se manifestou
ontem sobre a declaração do
presidente. Em nota divulgada
na semana passada, o vice-presidente da ANJ, Júlio César
Mesquita, afirmou que o projeto de lei enviado ao Congresso
"atinge diretamente a liberdade de imprensa" e que a entidade "estranha e condena a insistência do governo em buscar
formas de punir jornalistas e
meios de comunicação pelas
informações que divulgam".
"Tais atitudes e posições do
governo vão na contramão das
repetidas declarações públicas
do presidente, de que, sem uma
imprensa livre, não teria tido
condições de realizar seu projeto político e de chegar onde
chegou", afirmou Mesquita.
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