São Paulo, Domingo, 24 de Outubro de 1999
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SECA
Conab diz que alimentos chegam em novembro
Bezerros completa 80 dias sem cestas

PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local

Com 50,9 % de sua população em estado de indigência, isto é, com renda mensal abaixo da capacidade de compra de uma cesta básica para cinco pessoas, o município de Bezerros (localizado a 100 km de Recife, no Estado de Pernambuco) completa hoje cerca de 80 dias sem receber cestas de alimentos enviadas pelo governo federal.
A expectativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), responsável pelo projeto, é que a distribuição das cestas seja recomeçada na primeira quinzena do mês de novembro - pelo menos 10 dias além do prazo previsto.
Por falta de recursos, a entrega das cestas de alimentos a cerca de 1,7 milhão de famílias moradoras de bolsões de pobreza, acampamentos de agricultores sem terra e áreas indígenas de todo o país está suspensa desde o mês de julho.
Considerado prioritário pelo Comunidade Solidária por sua situação de pobreza, Bezerros está entre os 1.353 municípios acompanhados pelo programa comandado por Ruth Cardoso, mulher do presidente Fernando Henrique Cardoso.
""O nordestino vive de milagre. Ligamos para a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e para o Comunidade Solidária, que é muito amigo nosso, e eles dizem que a gente tem de ter paciência. Mas não é a gente. São pessoas que estão passando fome", afirmou José Alves Irmão, vice-prefeito de Bezerros e presidente da comissão do Prodea (programa de distribuição emergencial de alimentos) na cidade.
Segundo dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1996, o município, com 52.432 habitantes, tem 7.108 de suas 13.968 famílias em estado de indigência.
Com a seca e o consequente declínio das duas principais atividades econômicas da cidade (pecuária e agricultura), os moradores de Bezerros passaram a sobreviver basicamente da distribuição dos alimentos, do pagamento de R$ 48 a cada um dos 2.014 trabalhadores empregados em frentes produtivas e da aposentadoria de idosos.
""Chuva aqui só para apagar a poeira. As pessoas não morrem de fome porque vão vivendo como podem. Fazem bicos e se viram com a ajuda das aposentadorias dos parentes mais velhos", declarou Irmão.

Redução
Além do atraso na entrega, os alimentos distribuídos a partir do próximo mês sofrerão uma redução de 4 kg devido ao aumento de preço de alguns produtos que fazem parte da cesta.
Dos atuais 20 kg (5 kg de arroz, 5 kg de feijão, 5 kg de farinha de mandioca e 5 kg de flocos de milho), serão deduzidos 2 kg de feijão e de farinha de mandioca.
A Conab afirma ainda que as cestas atrasadas não serão entregues.
""Não podemos fazer o pobre comer duas vezes", afirmou Aurino Valois, superintendente de programas sociais e institucionais da companhia.

Atraso
O governo federal pretende apenas distribuir no início de novembro os alimentos referentes a outubro. Os alimentos que deveriam ser entregues em novembro só devem chegar ao município no final do mês.
Para dezembro, ainda não existe garantia de entrega. ""Os R$ 50 milhões extras dados pelo governo foram suficientes para compras de dois meses. Estamos negociando outros R$ 50 milhões para dezembro e janeiro", disse Valois, referindo-se à liberação de verba autorizada em setembro por decreto presidencial.
Com os recursos liberados pelo governo federal, foram comprados 52.667.391 kg de alimentos. Até agora foram gastos R$ 39.113.508,97 da verba.


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