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SECA
Conab diz que alimentos chegam em novembro
Bezerros completa 80 dias sem cestas
PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local
Com 50,9 % de sua população
em estado de indigência, isto é,
com renda mensal abaixo da capacidade de compra de uma cesta
básica para cinco pessoas, o município de Bezerros (localizado a
100 km de Recife, no Estado de
Pernambuco) completa hoje cerca de 80 dias sem receber cestas de
alimentos enviadas pelo governo
federal.
A expectativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), responsável pelo projeto, é
que a distribuição das cestas seja
recomeçada na primeira quinzena do mês de novembro - pelo
menos 10 dias além do prazo previsto.
Por falta de recursos, a entrega
das cestas de alimentos a cerca de
1,7 milhão de famílias moradoras
de bolsões de pobreza, acampamentos de agricultores sem terra
e áreas indígenas de todo o país
está suspensa desde o mês de julho.
Considerado prioritário pelo
Comunidade Solidária por sua situação de pobreza, Bezerros está
entre os 1.353 municípios acompanhados pelo programa comandado por Ruth Cardoso, mulher
do presidente Fernando Henrique Cardoso.
""O nordestino vive de milagre.
Ligamos para a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste) e para o Comunidade Solidária, que é muito amigo
nosso, e eles dizem que a gente
tem de ter paciência. Mas não é a
gente. São pessoas que estão passando fome", afirmou José Alves
Irmão, vice-prefeito de Bezerros e
presidente da comissão do Prodea (programa de distribuição
emergencial de alimentos) na cidade.
Segundo dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1996, o município, com 52.432 habitantes,
tem 7.108 de suas 13.968 famílias
em estado de indigência.
Com a seca e o consequente declínio das duas principais atividades econômicas da cidade (pecuária e agricultura), os moradores
de Bezerros passaram a sobreviver basicamente da distribuição
dos alimentos, do pagamento de
R$ 48 a cada um dos 2.014 trabalhadores empregados em frentes
produtivas e da aposentadoria de
idosos.
""Chuva aqui só para apagar a
poeira. As pessoas não morrem
de fome porque vão vivendo como podem. Fazem bicos e se viram com a ajuda das aposentadorias dos parentes mais velhos",
declarou Irmão.
Redução
Além do atraso na entrega, os
alimentos distribuídos a partir do
próximo mês sofrerão uma redução de 4 kg devido ao aumento de
preço de alguns produtos que fazem parte da cesta.
Dos atuais 20 kg (5 kg de arroz, 5
kg de feijão, 5 kg de farinha de
mandioca e 5 kg de flocos de milho), serão deduzidos 2 kg de feijão e de farinha de mandioca.
A Conab afirma ainda que as
cestas atrasadas não serão entregues.
""Não podemos fazer o pobre
comer duas vezes", afirmou Aurino Valois, superintendente de
programas sociais e institucionais
da companhia.
Atraso
O governo federal pretende apenas distribuir no início de novembro os alimentos referentes a outubro. Os alimentos que deveriam
ser entregues em novembro só
devem chegar ao município no final do mês.
Para dezembro, ainda não existe garantia de entrega. ""Os R$ 50
milhões extras dados pelo governo foram suficientes para compras de dois meses. Estamos negociando outros R$ 50 milhões
para dezembro e janeiro", disse
Valois, referindo-se à liberação de
verba autorizada em setembro
por decreto presidencial.
Com os recursos liberados pelo
governo federal, foram comprados 52.667.391 kg de alimentos.
Até agora foram gastos R$
39.113.508,97 da verba.
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