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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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GOVERNO MINADO

Chefe da Casa Civil deu ordem após falar com Lula sobre Queiroz

Dirceu ordena maior rigor nas viagens dos ministros

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo controlará com mais rigor as viagens dos ministros. Depois de conversar anteontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre caso do ministro Agnelo Queiroz (Esportes), o ministro José Dirceu (Casa Civil) ordenou maior critério nos gastos com passagens áreas, tamanho de comitivas, diárias de hotel e motivos de viagem.
A Folha apurou que o secretário-executivo de Dirceu, Swedenberger Barbosa, que se reúne semanalmente com os secretários-executivos dos outros ministros e que fala com vário deles diariamente, já começou a transmitir a ordem do ministro da Casa Civil. Eles devem fazer triagens para averiguar a importância das viagens, tamanho de comitivas e a procedência dos convites, para evitar mordomias pagas por entidades privadas.
Lula e Dirceu estão contrariados com Queiroz. Ele entrou na lista de ministros candidatos a deixar o posto na reforma ministerial prevista para o final do ano.
Queiroz recebeu verba para pagar despesas nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, em agosto, mas não usou o dinheiro. Ele teve as despesas pagas pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e só 65 dias depois, quando foi denunciado por uma ex-auxiliar, a ex-jogadora de basquete Paula, anunciou que devolveria parte da verba. Paula se desentendeu com Queiroz e passou a miná-lo.
A ordem de Dirceu para maior controle de viagens veio depois de ele comentar com Lula o caso de Queiroz. No meio da tarde de anteontem, já se sabia no Planalto que o ministro dos Esportes seria protagonista de mais um caso desgastante para o governo.
Dirceu julgou o caso dele tão grave como o da ministra Benedita da Silva (Assistência Social), que foi a Buenos Aires para um encontro evangélico com verba oficial. Ela arrumou compromisso de última hora com sua equivalente argentina, mas não convenceu a Comissão de Ética da Presidência da República, que recomendou a devolução dos gastos.
Em conversas reservadas, o ministro da Casa Civil disse que julgou pouco convincente a justificativa de Queiroz de que não sabia que recebera a verba nem que o COB bancaria suas despesas.
A fim de evitar novos casos com a mesma justificativa, Dirceu deu a ordem para os secretários-executivos reforçarem o controle das viagens. O secretário-executivo é o número 2 de cada pasta.

Imagem arranhada
O governo Lula, que julga ter perdido popularidade por crises no primeiro escalão e pelo efeito na economia real do duro ajuste fiscal e monetário, teme se desgastar num tema que sempre foi caro ao PT: probidade administrativa e ética na política.
Segundo pesquisa do Instituto Sensus, divulgada na terça-feira, o índice ótimo ou bom de avaliação do governo caiu de 48,3% em agosto para 41,6% em outubro. O desempenho pessoal de Lula também sofreu queda no período. O índice dos que o aprovam desceu de 76,7% para 70,6%.
O Planalto avalia que esse desgaste é absorvível, mas teme, depois de enfrentar uma forte recessão e batalhas nos Congresso para aprovar as reformas da Previdência e tributária, perder pontos na opinião pública porque ministros usufruíram pequenas vantagens pessoais. Benedita devolveu R$ 4.816 (duas passagens áreas). Queiroz anunciou a devolução de R$ 5.436 (50% das diárias).
Nesta semana, o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, pediu demissão após investigação interna a respeito de contratação da mulher e da ex-mulher. Na avaliação do Palácio do Planalto, a saída de Luiz Eduardo complica a permanência de Benedita (que é do PT) e Queiroz (PC do B) no governo.


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