São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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Alckmin retoma tática do confronto ético com Lula

Mais quente que o anterior, debate da Record é marcado por repetição de temas

Petista volta ao tom irônico do último encontro; tucano cita assuntos que havia relegado, mas não o faz com a mesma agressividade

RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO

No debate da TV Record, o terceiro do segundo turno, o tucano Geraldo Alckmin trouxe ontem de volta para o centro da discussão a questão ética, que relegara ao segundo plano no confronto anterior.
Como fizera na TV Bandeirantes, Alckmin centrou suas intervenções nas questões da origem do dinheiro do dossiê e da possível quebra do sigilo dos cartões de crédito da Presidência. Como no SBT, afastou-se do tom agressivo a que é atribuída parte da responsabilidade por sua queda nas pesquisas -pela última pesquisa Datafolha, sua desvantagem em relação a Luiz Inácio Lula da Silva é de 20 pontos percentuais, se considerados os votos válidos.
Para perguntas antigas, Lula trouxe velhas respostas: a de que mais escândalos aparecem no seu governo porque ele investiga mais. Voltou a citar o engavetamento de pedidos de CPI na Assembléia Legislativa do mandato de Alckmin.
Dois dias após Fabio Luis, filho do presidente, ter sido alvo de reportagem da revista "Veja" que diz que ele fez lobby pela Telemar, Alckmin ignorou o tema e tratou como "último escândalo desta semana" reportagem da mesma "Veja" que relata que o Ministério Público Federal aponta superfaturamento nas obras do aeroporto de Congonhas, com perdas calculadas de R$ 100 milhões.
"O Ministério Público, por conta das eleições, foi muito rápido. O dado concreto é que não tem nenhum julgamento do Tribunal de Contas. Não dá para a gente resolver as denúncias durante o processo eleitoral", respondeu o presidente.
Alckmin voltou a perguntar se Lula abriria o sigilo dos gastos dos cartões corporativos da Presidência. O petista respondeu: "A maior parte da despesa você pode acessar, está no Siafi [sistema de acompanhamento de gastos do governo]. Tem uma conta secreta que é por conta do gasto de segurança e do gasto da Abin. Isso vai continuar em qualquer governo."

Barjas
Respondendo à pauta imposta pelo adversário, o presidente também citou acusações contra tucanos, principalmente Barjas Negri, ex-ministro da Saúde que foi presidente da CDHU (Companhia do Desenvolvimento Habitacional e Urbano) no governo Alckmin.
"Se eu fosse presidente em 98, certamente não teria acontecido o esquema dos sanguessugas, que aconteceu quando o Serra era ministro da Saúde e o Barjas Negri secretário-executivo. Oitenta por cento aconteceu antes do meu governo."
Lula voltou a citar Barjas quando Alckmin repetiu a sugestão para que ele perguntasse a seus antigos amigos envolvidos no caso do dossiê sobre a origem do dinheiro. "Esse exemplo do Alckmin poderia ser transformado num fato prático: ele poderia chamar o Barjas Negri e perguntar até que ponto ele se envolveu com esse negócio."
Quando teve oportunidade de escolher o tema, Lula buscou pontos que julga positivos de seu governo -a política social e a política externa.
De resto, os rivais repetiram discussões anteriores sobre saúde, economia e educação.
Diferentemente dos confrontos anteriores, Lula não leu durante suas falas -recitou números de cabeça e desta vez acertou a taxa Selic (13,75%), que havia errado no SBT.
Embora alguns assessores julgassem que o presidente poderia passar a imagem de arrogante, ele não deixou a ironia de lado. Após dizer que os banqueiros eram "ingratos", porque receberam "muito" dele e votavam em Alckmin, foi repreendido pelo adversário.
"O candidato Lula gosta de ironia, mas eu acho que as questões do Brasil são mais sérias. É para a gente ficar triste com o que acontece", disse o tucano. Lula não desistiu de alfinetar o rival. "Queria pedir desculpas aos nossos telespectadores porque é difícil debater com tanta desinformação."
O último debate do segundo turno ocorre na noite da próxima sexta-feira, na Rede Globo.


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