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Senado vai manter em segredo gastos dos parlamentares
Mesa veta uma proposta de Tião Viana para divulgar de que modo senadores gastam verbas indenizatórias de R$ 15 mil
Senador afirma que, com transparência, não existe a ameaça dos dossiês, "mas não houve concordância da maioria dos integrantes"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a decisão de vetar a divulgação do uso da verba indenizatória, a Mesa Diretora do
Senado manteve viva ontem a
tradição de ocultar todo tipo de
gasto dos parlamentares, armazenados em uma "caixa-preta"
nos oito anos de mandato.
Ontem, os integrantes da
Mesa rechaçaram a proposta
do presidente interino da Casa,
Tião Viana (PT-AC), de permitir o acesso público ao detalhamento dos gastos da verba de
R$ 15 mil mensais, destinada a
bancar custos nos escritórios
dos senadores nos Estados, gasolina, aluguel de imóveis e
contratar assessoria. "Foi apresentada a tese de tornar público
o acompanhamento das verba
indenizatória, mas não houve
concordância da maioria dos
integrantes da Mesa. O assunto
ficou de ser tratado com os líderes", declarou Tião Viana.
A idéia de Tião era copiar o
modelo da Câmara dos Deputados, que permite o acompanhamento dos gastos por meio da
página na internet. No Senado,
esses dados são secretos. As notas fiscais referentes aos pagamentos são arquivadas em uma
pequena sala, no 12º andar da
torre do Senado, onde funciona
a Secretaria de Fiscalização e
Controle. O diretor do departamento é Aloizio de Bryto Vieira, subordinado ao diretor-geral, Agaciel Maia.
Recentemente, senadores da
oposição acusaram Agaciel de
ter preparado um dossiê relacionando o uso de notas frias a
pedido do presidente licenciado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Seria uma estratégia de
Renan para ameaçar seus adversários. Agaciel negou.
Ontem, Tião usou o caso como exemplo. "Se não tiver corredor escuro na Casa, vamos ficar mais seguros. Se for tudo
aberto, se há transparência,
não pode ter dossiê. Mas os senadores não concordaram, isso
expõe demais da Casa."
Além dos R$ 15 mil, os senadores têm direito a outras cotas, por exemplo para confecção de material gráfico, passagem aérea, telefone e Correio.
Os valores e como são usadas
essas verbas também são sigilosos. A Folha pediu dados sobre
os gastos dos parlamentares a
Agaciel, mas os pedidos foram
negados. Ele não quis dar entrevista.
Além das verbas, o Senado
também omite a divulgação de
informações sobre a atividade
parlamentar. A secretária-geral da Mesa, Cláudia Lyra, afirmou que não tem um banco de
dados sobre a presença dos senadores na Casa nem o respectivo número de faltas. Pela página do senador na internet é
possível saber se eles participaram de determinada votação.
Também não é liberado o
acesso ao quadro de funcionários, assessores especiais (admitidos sem concurso público)
e à tabela dos salários. Mesmo
na rede interna de computadores da Casa não é possível detalhar onde determinado assessor trabalha e qual a função.
Na Câmara, os dados sobre o
uso da verba indenizatória dos
513 deputados estão disponíveis na internet desde 2004. A
medida, à época, foi uma contrapartida ao fato de a Câmara
ter obtido no Supremo Tribunal Federal a cassação da liminar que a Folha havia obtido
para ter acesso aos comprovantes apresentados para serem
reembolsados com o dinheiro.
É vetado o acesso às notas
fiscais apresentadas pelos parlamentares. A assessoria de imprensa da Casa diz que os documentos são submetidos a auditoria pelo TCU. "O portal da
Câmara é conhecido por fornecer ao cidadão informações
completas a respeito do processo legislativo, dos deputados e dos gastos públicos com
transparência e eficiência", diz
a assessoria.
(SILVIO NAVARRO, RANIER BRAGON e ANDREZA MATAIS)
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